terça-feira, 13 de maio de 2014

Vivemos tempos de Noé

Por Leonardo Boff

Vivemos tempos de Noé. Pressintindo que viria um dilúvio, o velho Noé convocava as pessoas para mudarem de vida. Mas ninguém o ouvia. A contrário, “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento até que veio o dilúvio e os fez perecer a todos” (Lc 17,27; Gn 6-9).

Os 2 mil cientistas do IPCC que estudam o clima da Terra são nossos Noés atuais. O terceiro e último relatório de 13/4/2014 contém grave alerta: temos apenas 15 anos para impedir a ultrapassagem de 2 graus C do clima da Terra. Se ultrapassar, conheceremos algo do dilúvio. Ninguém dos 196 chefes de Estado disse qualquer palavra. A grande maioria continua a explorar os bens naturais, negociando, especulando e  consumindo sem parar como nos dias de Noé.

Entrevejo três graves irresponsabilidades: a geral e a específica e supina ignorância do Congresso norte-americano que vetou todas as medidas contra o aquecimento global; a manifesta má vontade da maioria dos chefes de Estado; e a falta de criatividade para montar as traves de uma possível Arca salvadora. Como um louco numa sociedade de “sábios” ouso  propor algumas premissas. Se algum mérito possuírem, é o de  apontarem para um novo paradigma civilizacional que nos poderá dar outro rumo à história. Ei-las:

         1. Completar a razão instrumental-analítica-científica dominante com a inteligência emocional ou cordial. Sem esta não nos comovemos face à devastação da natureza e não nos engajamos para resgatá-la e salvá-la.

         2. Passar da simples compreensão de Terra como armazém de recursos para a visão da Terra viva, superorganismo vivo que se autorregula, chamado Gaia.

         3. Entender que, como humanos, somos aquela porção da Terra que sente, pensa e ama, cuja missão é cuidar da natureza.

         4. Passar do paradigma da conquista/dominação ainda vigente, para o paradigma do cuidado/responsabilidade.

         5.Entender que a sustentabilidade só será garantida se respeitarmos os direitos da natureza e da Mãe Terra.
         6. Articular o contrato natural feito com a natureza que supõe a reciprocidade inexistente com o contrato social que supõe a colaboração e inclusão de todos, insuficiente

         7. Não existe meio ambiente mas o ambiente inteiro. O que existe é a comunidade de vida com o mesmo código genético de base estabelecendo um parentesco entre todos.

         8. Abandonar a obsessão pelo crescimento/desenvolvimento pela redistribuição da riqueza já acumulada.

         9. Devemos produzir para atender demandas humanas mas sempre dentro dos limites da Terra e de cada ecossistema.

         10. Pôr sob controle a voracidade produtivista e a concorrência sem limites  em favor da cooperação e da solidariedade,  pois todos dependemos uns dos outros.

         11. Superar o individualismo pela colaboração entre  todos, pois esta é a lógica suprema do processo de evolução.

         12. O bem comum humano e natural tem primazia sobre o bem comum particular e corporativo.

         13.Passar da ética utilitarista e eficientista para a ética do cuidado e da responsabilidade.

         14. Passar do consumismo individualista para  a sobriedade compartida. O que nos sobra, falta aos demais.

         15. Passar da maximização do crescimento para a otimização da prosperidade a partir dos mais necessitados.

         16. Ao invés de permanentemente modernizar, ecologizar todos os saberes e processos produtivos visando tutelar os bens e serviços naturais e dar descanso à natureza e à Terra.

         17. Opor  à era do antropoceno que faz do ser humano uma força geofísica destrutiva, pela era ecozoica  que ecologiza e inclui todos os seres no grande sistema terrenal e cósmico.

         18. Valorizar o capital humano/espiritual inexaurível sobre o capital material  exaurível porque o primeiro fornece os critérios para as intervenções responsáveis na natureza e alimenta permanentemente os valores humano-espirituais da solidariedade, do cuidado, do amor e da compaixão, bases para uma sociedade com justiça, equidade e respeito à natureza.

         19. Contra a decepção e a depressão provocadas  pelas promessas não cumpridas de bem-estar geral feitas pela cultura do capital, alimentar o princípio-esperança, fonte de fantasia criadora, de novas ideias  e de utopias viáveis. 

         20. Crer e testemunhar que, no fim de tudo, o bem triunfará sobre a maldade, a verdade sobre a mentira e o amor sobre a indiferença. Um pouco de luz poderá espancar uma imensidão de trevas.


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