Novas formas de produção de alimento estão sendo desenvolvidas.
Algumas são resistentes às inundações, outras às secas, às salinidades
ou aos calores extremos, problemas enfrentados pelos pequenos e pobres
produtores.
Todos sabem que a Primeira Revolução Verde ocorreu a partir de 1960
quando os geneticistas Norman Borlaug, norte-americano que recebeu o
Prêmio Nobel trabalhando com trigo e M.S.Swaminathan, indiano,
trabalhando com arroz, conseguiram obter variedades de plantas de alta
produtividade comparadas com outras da época. Convenceram governos de
muitos países a promoverem o plantio das mesmas para resolver o problema
da fome, principalmente na China, que passava por uma grande crise
decorrente dos esforços do Grande Salto Adiante de Mao Tsetung. Eles
conseguiram com que 3,5 bilhões de pessoas, metade da humanidade de
então, obtivesse um quinto de calorias ou mais das plantas
desenvolvidas. A produtividade do arroz que era de 1,9 tonelada por
hectare no período 1950 a 1964 passou para 3,5 toneladas em 1985 a 1998.
Muitos países asiáticos, notadamente a Índia, conseguiram expressivos
resultados. Esta revolução chegou ao Brasil quando na segunda metade da
década dos sessenta do século passado tive a honra de participar
pessoalmente deste memorável trabalho como diretor de crédito rural do
Banco Central do Brasil. O crédito rural subsidiado era um dos
principais instrumentos para induzir os pobres e simples agricultores
brasileiros a aumentarem a produtividade de suas lavouras pelo uso de
sementes selecionadas, corrigindo o solo ácido predominante no país com a
utilização de calcários, uso de fertilizantes com formulações de NPK –
Nitrogênio, Fósforo e Potássio, além de defensivos agrícolas.
Era um gigantesco trabalho que envolvia diversas organizações
governamentais. A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
procurava novas variedades de plantas; a Embrater – Empresa Brasileira
de Assistência Técnica Rural e Extensão Rural promovia a extensão rural;
a CFP – Comissão de Financiamento da Produção assegurava o preço
mínimo, adquirindo a produção quando necessário para colocá-la
posteriormente no mercado; a Cibrazem – Companhia Brasileira de Armazéns
Gerais providenciava os locais para armazenagem e o Banco Central do
Brasil provia os créditos subsidiados a juros de 6% ao ano, qualquer que
fosse a inflação, para financiamentos de custeio, comercialização e
investimentos, para uso dos insumos como sementes selecionadas,
corretores de solo e fertilizantes, bem como defensivos. Mesmo simples
agricultores que não possuíam tecnologias sofisticadas tiveram
expressivos aumentos de suas produtividades.
Agora, um importante artigo publicado pelo The Economist informa que
uma Segunda Revolução Verde está em andamento diante da queda da
produtividade, principalmente do arroz, que ocorre em países asiáticos
por diversos motivos. Novas variedades foram e estão sendo desenvolvidas
pelo IRRI – International Rice Research Institute nas Filipinas com
diferentes finalidades. Algumas delas são resistentes às inundações,
outras às secas, às salinidades ou aos calores extremos, problemas
enfrentados pelos pequenos e pobres produtores asiáticos cuja renda
procuram elevar. Além de melhorar seus nutrientes.
Um exemplo expressivo está relatado no artigo. Refere-se à Asha Ram
Pal, produtor indiano acostumado a sofrer os problemas de inundações que
afetam o seu pequeno lote, o equivalente a um campo de futebol. Neste
ano as monções foram intensas e ele sofreu duas inundações e se
preparava para enfrentar a fome como muitas vezes, pois não poderia
colher a tonelada usual de arroz. Mas, para sua surpresa, após o recuo
da água ele obteve 4,5 toneladas. Ele tinha plantado um arroz de
inundação, conhecido por “Sub 1” fornecido pela IRRI, o primeiro de uma
nova geração que já está sendo plantada por 5 milhões de pequenos
agricultores em todo o mundo, com gens resistentes às inundações, que
está se propagando rapidamente como nos períodos áureos da Primeira
Revolução Verde.
Mas, como regra, o mundo asiático não sofre mais os problemas da
fome, havendo até problemas de obesidade, o que não acontece com
pequenos produtores rurais ou em algumas regiões da África. Nos países
asiáticos mais ricos como no Japão, Taiwan e Coreia do Sul a população
não cresce e a demanda de arroz está em declínio. No entanto, a
humanidade continua com uma população crescente que deverá somar mais um
bilhão de habitantes e para alimentá-la haverá necessidade de mais 100
milhões de toneladas extras de arroz e milho.
Nesta Segunda Revolução Verde os governos procuram também
proporcionar renda adicional para muitos produtores que sofrem de
pobreza absoluta. Os preços para suas produções não podem obedecer
simplesmente às regras do mercado internacional que tendem a mantê-los
comprimidos, necessitando serem subsidiados.
Para que haja a competitividade internacional da agropecuária
brasileira são necessários novos esforços sistemáticos no sentido de
maior produtividade, juntando-se suportes governamentais aos esforços
que estão sendo feitos pelo setor privado.
Fonte: Carta Capital.
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