As sociedades contemporâneas têm hoje a possibilidade real de 
vitória na luta contra o horizonte catastrófico representado pelas 
mudanças climáticas.
Essa visão otimista apoia-se em dois conjuntos de circunstâncias, chamados por Paul Gilding
 (o celebrado autor de The Great Disruption) de pontos de virada, ou 
“tipping points”. A expressão refere-se ao acúmulo de fatores que, a 
partir de certo patamar, revoluciona, de maneira quase sempre 
irreversível, a dinâmica de um determinado sistema.
Economistas e sociólogos usam-na para 
explicar alterações bruscas de comportamentos coletivos. E é exatamente 
disso que se trata quando está em questão a mutação de uma ordem social 
apoiada em combustíveis fósseis para uma organização em que energias 
renováveis tenham o papel preponderante.
Primeiro ponto de virada: o uso de combustíveis fósseis durante a 
última década colocou a espécie humana numa situação de alto risco. A 
continuar no ritmo atual, o aumento de temperatura previsto para 2060 é 
de 4ºC. E, como diz o recente relatório do Banco Mundial
 que contém essa previsão, não há qualquer sinal de que a humanidade 
esteja preparada para adaptar-se a tal mudança na temperatura global 
média. Se esse limite for atingido, prossegue o relatório, será difícil 
evitar a perspectiva de 6ºC de elevação da temperatura no início do 
próximo século, com o aumento no nível do mar entre 50 centímetros e um 
metro.
Mas, se é assim, onde está o ponto de virada?
Ele se encontra no fato de que as mudanças climáticas estão deixando 
de ser uma preocupação fundamentalmente ecológica ou ambiental e passam a
 ser um fator decisivo do próprio cálculo dos mais importantes atores 
econômicos globais.
Essa mudança de percepção se traduz na
 ideia de fósseis não passíveis de serem queimados, ou, na excelente 
expressão em inglês, “unburnable carbon”. Um relatório recente do HSBC 
mostra que, se o carbono contido no carvão, no petróleo e no gás detido 
pelas maiores petrolíferas europeias (BP, Shell, Statoil, ENI e Total) 
não for queimado, isso fará com que elas percam entre 40% e 60% de sua 
previsão de receita.
O cálculo se apoia num artigo publicado na “Nature” em 2009
 : se a humanidade optar por uma chance de 50% de não elevar a 
temperatura global média além de dois graus, as emissões de gases de 
efeito estufa entre 2000 e 2050 (o que os especialistas chamam de 
orçamento carbono) não poderão ultrapassar 1.440 gigatoneladas.
O conceito de orçamento carbono é fundamental: ele não aponta para o 
limite na disponibilidade de combustíveis fósseis e sim para o ponto 
além do qual queimar carbono ameaça a atmosfera e, portanto, as 
condições que permitem a reprodução da própria vida. Não se trata apenas
 de saber qual a riqueza existente e sim qual a possibilidade de que 
esta riqueza seja usada sem destruir os fundamentos da convivência 
social.
Pois bem, das 1.440 gigatoneladas de CO2 que poderiam ser queimadas 
até 2050 (para manter o limite de dois graus na elevação da 
temperatura), já foram usadas, desde 2000, nada menos que 400 GT CO2. Ou
 seja, mais de um quarto do orçamento carbono para cinco décadas foi 
usado em pouco mais de dez anos. Resta então algo em torno de 1.000 GT 
CO2, para que o limite de dois graus seja respeitado. Como as reservas 
conhecidas de combustíveis fósseis são de 2.860 GT CO2, isso significa 
que somente cerca de um terço dessa riqueza potencial pode 
transformar-se em utilidade real (e ganho econômico).
O resultado é obviamente devastador para as empresas cuja estratégia 
consiste fundamentalmente em explorar combustíveis fósseis. Ou então 
será devastador para a espécie humana. Mas, insiste Gilding, há indícios
 de que se forma uma coalizão social voltada a evitar o pior cenário. 
Esta coalizão não envolve apenas ativistas, mas também segmentos 
crescentes do meio empresarial, da comunidade científica e das 
administrações públicas.
E aí reside o segundo ponto de virada. O avanço nas energias 
renováveis está superando as mais otimistas expectativas. Nos Estados 
Unidos, nos últimos cinco anos, o preço do kW produzido por painéis 
solares caiu de US$ 5 para US$ 0,50. Em 14 Estados norte-americanos, a 
energia solar já é mais barata que a convencional.
Um relatório recente do gigante financeiro UBS
 mostra que os domicílios europeus já reduzem suas contas de 
eletricidade por meio da instalação de painéis solares, cujos custos de 
produção caíram drasticamente nos últimos anos.
Um dos países em que a energia solar melhor funciona é a pouco 
ensolarada Alemanha. O relatório prevê que a autoprodução de energia com
 base em painéis solares deve chegar, em 2020, a 14% na Alemanha, 18% na
 Espanha e 17% na Itália. Desde a Revolução Industrial, a eficiência na 
oferta de energia ligou-se sempre à concentração e ao poder de firmas 
gigantescas.
A virada está não só na perspectiva de redução dos fósseis, mas no 
avanço de formas descentralizadas e conectadas em rede de produção de 
energia.
Quais as consequências deste cenário para o Brasil?
É verdade que o país avançou de maneira expressiva na produção de 
energia eólica, embora o mesmo não possa ser dito da solar. O problema é
 que, quando se comparam os investimentos e o esforço de inovação em 
fósseis com o empenho em fortalecer a matriz energética renovável, fica 
claro que a opção brasileira atual é por fortalecer, na prática, a 
coalizão social, que, em termos globais, prospera com o avanço dos 
combustíveis fósseis.
O risco é duplo: por um lado, perda de valor das atividades 
petrolíferas, que hoje consomem parcela decisiva dos investimentos 
nacionais. Por outro, e mais grave, o Brasil continuará na retaguarda da
 inovação do que há de mais significativo em termos de energia 
renovável.
São questões que vão muito além da briga pela divisão dos royalties do petróleo.
 Ricardo Abramovay é professor titular da FEA e
 do IRI-USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp, e autor deMuito Além da 
Economia Verde, lançado na Rio+20 pela Editora Planeta Sustentável.
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