Métodos didáticos modernos defendem que a alfabetização vá além dos
processos tradicionais que se baseiam na codificação e decodificação de
letras, fonemas, sílabas, palavras e textos. A alfabetização deve ser
pautada na leitura, mas na leitura de textos próximos da realidade
cultural da criança.
“É preciso alfabetizar com os usos reais da linguagem que está
próxima à vida concreta do aluno”, observa Marcelo Fabiano Rodrigues
Pereira, da secretaria de educação do Distrito Federal. Responsável pela
formação de 25 professores do último ano do ciclo de alfabetização, ele
participa do curso de formação continuada para a implantação do Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, oferecido pela Universidade
de Brasília (UnB).
O objetivo do pacto, firmado por todas as unidades da Federação e por
5.393 municípios, é assegurar que todas as crianças brasileiras tenham
proficiência em língua portuguesa e em matemática até os 8 anos de
idade. Em todo o Brasil, 38 universidades públicas parceiras no pacto
vão oferecer cursos de formação a 16.814 docentes orientadores, que
atuarão com os professores em classes de alfabetização. A UnB pretende
formar 4 mil professores das redes públicas de ensino do Distrito
Federal e do Tocantins.
O pacto, segundo Pereira, evidencia os direitos de aprendizagem para
as crianças de 6 a 8 anos. “Antes, essas metas não estavam claras. O
pacto amarra isso, deixa esses direitos de aprendizagem muito bem
estabelecidos”, afirma. “Houve uma uniformização das metas do ciclo.
Agora, um aluno de outra escola ou de outra cidade deve chegar com a
mesma carga de conhecimento.”
Desafio — A alfabetização é um desafio para os
professores de turmas do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental e
uma das prioridades da atual política educacional no Brasil. Em média,
15,2% dos alunos até oito anos de idade não estão alfabetizados. Essa
taxa é ainda mais elevada em estados como Alagoas (35%) e Maranhão
(34%).
O pacto será implementado com recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). O repasse financeiro da União visa a
apoiar a formação continuada dos professores alfabetizadores e
orientadores de estudo, que receberão bolsas para participar do curso.
Estão previstos também recursos financeiros para o reconhecimento dos
resultados alcançados pelas escolas e pelos profissionais da educação no
desenvolvimento das ações do pacto.
“A nossa lógica pedagógica incorporava o fracasso escolar.
Professores chegavam a colocar em seus planos a meta de aprovação de 80%
dos alunos”, comenta a professora Leila Chalub Martins, coordenadora do
pacto na UnB. “O compromisso do professor deve ser com a aprovação de
100%.” ressalta.
Para Leila, é fundamental que haja espaço de discussão com esse
professor. “Ele não pode se sentir só na sala de aula. Seu trabalho
precisa ser acompanhado, aprimorado.”
Internet — Em Colmeia (TO), a 230 quilômetros de
Palmas, Inês de Fátima Teixeira Gomes tem oito anos de experiência com
alunos do primeiro ano. Ela está otimista com o curso de formação. “É
sempre bom aprender um pouco mais para ensinar melhor”, diz a
professora. Ela leciona no Colégio Estadual Ari Ribeiro Valadão Filho.
Este ano, Inês resolveu inovar na alfabetização dos 15 alunos de 6
anos de idade. Duas vezes por semana, ela os leva ao laboratório de
informática para aulas em que são adotados softwares educativos e textos
on-line. “Eles estão encantados, e o processo de alfabetização ficou
mais atraente para as crianças, que são carentes e têm poucos livros em
casa”, conta Inês.
Releitura — Paola Soares Aragão, do Centro de
Formação de Professores da UnB, acredita que os cursos abrem a
oportunidade de uma releitura sobre a alfabetização brasileira. “Quando a
universidade, que sempre formou professores fora da realidade da
prática de sala de aula, se debruçou sobre os problemas de
alfabetização? Comprometer a universidade com esse papel, é lembrar que
ela também tem essa responsabilidade”, destaca. “Antes, a universidade
só criticava.”
Como os cursos do pacto são contínuos, ao longo de dois anos, as
universidades e as redes estaduais e municipais de ensino acabam
integrando-se num processo articulado e interdependente. “A universidade
fica obrigada a monitorar, a acompanhar esse processo de alfabetização,
e as redes são obrigadas a executá-lo”, afirma Paola. “São os momentos
para troca de experiência, de interação.”
A professora Cláudia do Vale é responsável por um grupo de 28
alfabetizadores que estão em sala de aula de escolas públicas do
Paranoá, uma das regiões administrativas do Distrito Federal. “A grande
dificuldade é o letramento dos alunos, a produção de textos, a leitura e
a interpretação”, explica. “O aluno precisa saber o que está lendo e
saber discutir, mas o professor enfrenta muitas dificuldades.”
Entre as dificuldades, ela cita a superlotação das salas de aula e a
falta de comprometimento da família com o processo de aprendizagem. “O
pacto traz a possibilidade de unir teoria e prática”, afirma. “Os
professores estão esperançosos porque têm consciência de que não estão
mais sós.”
Fonte: Portal do Professor.
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