refeitos de todo o Brasil, fiquem atentos ao que prevê a Lei Nacional de Resíduos Sólidos.
Até agosto de 2014 os cerca de 2.810 municípios brasileiros, mais da
metade do país, que não tratam adequadamente os seus resíduos terão
obrigatoriamente de mudar essa triste realidade de consequências
nefastas por meio de contaminação do solo, da água, além de contribuir
com a disseminação de doenças. Enfim, prejuízos diversos à qualidade de
vida das pessoas e ao meio ambiente.
Estudo do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – divulgado
pelo Estadão (edição de 27 de março) constatou a existência de 2.906
lixões ainda em funcionamento Brasil afora. O problema mais grave foi
encontrado em pequenos municípios nordestinos, mas de modo geral afeta
todas as regiões do país.
Sem dúvida, é preciso uma ação enérgica dos administradores públicos e
também muito dinheiro, pois segundo a Confederação Nacional dos
Municípios, serão necessários investimentos de ao menos 70 bilhões de
reais para dar conta da tarefa de transformar lixões em aterros
sanitários (locais adequados para o correto descarte de resíduos). Mas
trabalhar com a máxima de “deixar como está para ver como fica”, talvez
não seja o melhor caminho a ser trilhado pelos prefeitos.
Ministério Público na cola
E o que está ruim pode ficar ainda pior para os gestores públicos que
dão de ombros para o problema. A Associação Brasileira dos Membros do
Ministério Público anunciou que dará prioridade ao tema e irá orientar
seus promotores a vistoriar o cumprimento da lei nas cidades em que
atuam. (Estadão, 27/03)
É bom lembrar que a ameaça pode servir como alerta, mas nada
diferente do que já prevê a lei. As prefeituras que simplesmente não
acabarem com seus lixões e não implantarem a coleta seletiva (outro
grande desafio para as cidades brasileiras), nos prazos determinados
pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, estarão sujeitas a processos
por improbidade administrativa.
E antes que os do contra afirmem terem os prefeitos outras
prioridades, basta dizer que nas cidades de porte médio, a gestão do
lixo, ou melhor, a gestão dos resíduos, representa o terceiro item de
despesas do município. E, nas pequenas, as que possuem menos de 50 mil
habitantes, é o primeiro item de gastos no orçamento, segundo informou
Samyra Crespo, secretária da Articulação Institucional e Cidadania
Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.
Plano de Gestão de Resíduos
A lei também previa a entrega, por todos os municípios do país, de
seus planos de gestão de resíduos, em agosto de 2012. Segundo o
Ministério do Meio Ambiente havia registrado na época, por volta de 560
municípios, ou 10% do total das cidades brasileiras, concluíram e
entregaram esses planos. Os municípios que perderam o prazo não terão
direito a receber recursos federais e renovar novos contratos com a
esfera federal para o setor. Mesmo aqueles municípios que entregaram
seus planos no prazo tiveram, em diversos casos, a devolução do projeto
por falta de consistência.
A baixa adesão das cidades pode parecer simples descaso, mas conforme
pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais (Abrelpe) com cerca de 400 municípios, o problema se
deve muito à falta de pessoal qualificado para atender aos requisitos
previstos na lei. Afinal, para quem achava que para cuidar do lixo
bastava um terreno grande para o seu envio e descarte, a lei veio para
colocar ordem e mudar um cenário cada vez mais criminoso e urgente. O
lançamento indiscriminado de materiais perigosos e contaminantes sem
cuidado ou tratamento compromete o futuro e a saúde das pessoas, entre
os seus principais e nefastos resultados.
O problema dos lixões nas cidades brasileiras é apenas um exemplo de
inúmeras situações de insustentabilidade que sempre foram tratadas como
questões secundárias ou mesmo sem importância.
É preciso que se entenda de uma vez por todas, que a discussão sobre
sustentabilidade há muito tempo deixou a seara puramente ambiental e até
mesmo romântica em relação à preservação da natureza.
Sustentabilidade hoje deve ser debatida não como uma alternativa
possível ou não de ser implementada, mas apenas o como podem e devem ser
introduzidos seus conceitos em todas as instâncias da vida, seja ela
pública ou privada.
Gestão de resíduos, mobilidade urbana, saúde pública, preservação
ambiental, consumismo são alguns entre tantos temas que dependem de
ações concretas para a construção de um futuro mais justo, equilibrado e
sustentável. A demora em agir, como no caso descrito nessas linhas,
resultarão em punições para alguns e, o que é pior, grande sofrimento
para os mais necessitados. Como sempre a famosa corda vai arrebentar do
lado mais fraco.
Reinaldo Canto é jornalista especializado em
Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras
de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace
Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo
Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e
parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e
palestrante e consultor na área ambiental.
Fonte: Carta Capital.
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