Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Para
o mundo atual, a paz continua um desafio não alcançado. Na Síria, a guerra
civil entre governo e uma oposição sustentada pelos Estados Unidos divide o país.
Na faixa de Gaza, no sul da Índia e em várias outras partes do mundo, conflitos
sangrentos ainda ferem a humanidade. Até hoje a Organização das Nações Unidas,
criada para estabelecer a paz no mundo, não consegue ainda cumprir plenamente essa
missão. Nesta semana, as pessoas que amam a paz recordam que há exatamente 50
anos, o papa João XXIII dava ao mundo a sua carta encíclica sobre a paz na
terra. No dia 11 de abril de 1963, o
papa publicava a encíclica Pacem in
Terris como apelo forte para que os governantes das nações se empenhassem
em manter a paz no mundo. O papa assegurava que essa paz só poderia ser real se
fosse baseada em uma ordem social justa e centrada na dignidade de toda pessoa
humana.
Era a
primeira vez em que um papa escrevia não somente a patriarcas, cardeais, bispos
e padres católicos. A Pacem in Terrisé dirigida também a cristãos das mais diversas Igrejas e ainda mais a todas as
pessoas de boa vontade. Alguns meses antes da carta, o papa tinha interferido
pessoalmente para impedir um conflito entre os Estados Unidos e a Rússia. João
XXIII recebeu o prêmio Nobel da Paz. Na sua carta, ele insiste de que nunca
haverá paz no mundo se não houver respeito aos direitos humanos de cada pessoa
e se um país não respeita a liberdade e a independência do outro. Em uma carta
anterior (a Mater et Magistra), ele
havia defendido o princípio da socialização. Embora não signifique um regime
social (o socialismo), a socialização tem a mesma base: a preponderância do
social sobre o individual e a vocação de todas as pessoas humanas para viver a
solidariedade e a responsabilidade fraterna.
Quem
hoje analisa o mundo pode perceber algumas conquistas importantes da humanidade
nesses 50 anos: de lá para cá alguns países da África que em 1963 ainda eram
colônias completaram sua independência política. Existe, atualmente, uma
consciência maior dos direitos humanos, da igualdade racial e de gêneros.
Entretanto, as relações de trabalho parecem mais precárias hoje do que há 50
anos, as guerras são mais perigosas e com armamentos nucleares mais
sofisticados e mortíferos. E mais perigoso do que o terrorismo internacional é
a ameaça de destruição da natureza, consequência do sistema capitalista
depredador.
Nesse
contexto, a comemoração dos 50 anos da Pacem
in Terris vem nos lembrar de que a paz no mundo é um projeto divino e que
todas as pessoas que creem em Deus são chamadas a colaborar com esse projeto.
De acordo com a Bíblia, a paz não é apenas ausência de guerras, mas é o bem
viver que hoje vários povos indígenas almejam como política de estado. Na
Bíblia, Paz é Shalom, relação justa
entre as pessoas, saúde e bem estar. É uma forma de viver. É essa paz que Jesus
desejava quando disse: "Felizes as pessoas que constroem a paz porque serão
chamadas filhos e filhas de Deus, ou seja, fazem aquilo que Deus faz” (Mt 5,
9).
Fonte: Adital
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