segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Seca – A Velha História


Quase todos os problemas do Nordeste brasileiro são atribuídos às adversidades climáticas, à ausência ou à escassez das chuvas, conforme os meios de comunicação informaram recentemente com a visualização de um período com poucas chuvas ou ocorrência de uma seca no corrente ano.

Não se podem negar os graves impactos sociais, econômicos, ambientais e psicológicos causados pela seca. Quando ela ocorre, os nordestinos observam impotentes suas lavouras morrerem, seu gado definhar, os rios e açudes secarem, ocasião em sua “tragédia” é exibida em vários meios de comunicação para todo o Brasil e para outros países.

Na ocasião, os poderes públicos, então, se manifestam anunciando, nos mesmos órgãos de imprensa, medidas que serão tomadas para combater a carência de água, projetos que serão executados a médio e longo prazo, e a liberação de verbas que serão destinadas à distribuição de alimentos, água, remédios, etc.

E, a cada nova estiagem, a cada nova “calamidade pública” esse procedimento se repete, mas não soluciona o problema. Na próxima seca tudo será igual ou pior, dependendo da sua intensidade e duração. A seca faz parte da história do Nordeste brasileiro. Tem sido registrada desde o século XVIII, porém, durante e a partir do Brasil Império, entre 1877 e 1899, ocorreram dezenas de grandes estiagens.

Não podemos esquecer que a tecnologia evoluiu e muito. Se no século XIX era apenas possível apenas registrar o fato, hoje temos modelos climáticos –feitos nos computadores- que simulam as situações climáticas, porém são imperfeitos ainda devidos não termos conhecimento de toda a física e química da atmosfera. O que observamos é um aumento de eventos extremos de clima no Planeta, inundações e secas em algumas regiões, e que podem ou não ser associados a mudanças climáticas globais. Temos a entender que os fenômenos naturais (inundações e secas) que estão ocorrendo atualmente surgem independentes da vontade dos homens, mas por si só não justificam todo o peso que a eles é atribuído. Por outro lado, são as condições econômicas e políticas que determinam a maior ou menor intensidade do flagelo social, ambiental e psicológico provocado pela seca.

A seca existe sim. A pobreza no Nordeste brasileiro também. Mas não é possível estabelecer uma relação direta ou correlação entre seca e pobreza. E, a seca apenas acentua uma situação historicamente criada e que deve ser analisada através da estrutura política e socioeconômica vigente na região nordestina.

 Francisco Parente de Carvalho é engenheiro agrônomo e hidrólogo.
Fonte: jornal O Povo.


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