Encontrar uma única razão para os problemas enfrentados nos últimos
meses com a falta d’água seria como entrar em um labirinto sem saída,
visto que a resposta tende a ser óbvia: seres humanos.
Não é razoável culpar-se alguém, ou uma situação particular, pois devemos revisitar o curso do desenvolvimento humano, acrescido de muita irresponsabilidade para hoje identificarmos a origem da falta deste essencial recurso natural.
Os primeiros registros dos sistemas de gestão de Recursos Hídricos
remontam a Roma Antiga, com a construção de inúmeros aquedutos,
resultando em uma rede hidráulica para abastecimento daquela cidade.
Nas
situações de crise de abastecimento de água, acredita-se que havia os
“caçadores de águas” responsáveis pela procura de água em quantidade e
de qualidade para o abastecimento hídrico. E assim, de acordo com a
demanda, os romanos foram desenvolvendo sistemas de organização dos
recursos hídricos.
Em 97 a.C., Julius Frontinus VI foi nomeado pelo imperador para o
cargo de Comissário de Águas de Roma, passando a ser o responsável por
gerir um complexo sistema de captação de água em fontes afastadas para
distribuição em reservatórios existentes ao longo da cidade. Já naquela
época, “os usos da água eram divididos em classes: nomine Caesari,
privatis e usus publici. A classe usus publici era subdividida em casta,
opera
publica, munera e lacus. As águas nomine caesari destinavam-se ao
palácio imperial e aos prédios diretamente sob o controle do imperador.
As águas privati destinavam-se aos particulares por concessão do
Imperador (beneficio principis) e estavam sujeitas ao pagamento de uma
taxa. As águas usus publici, destinavam-se a prédios públicos, a
balneários, instalações militares e para-militares, fontes ornamentais e
reservas de emergência.
Com a Revolução Industrial se fez necessária a exploração de inúmeros
recursos naturais para acompanhar o crescimento das populações nas
áreas urbanas, que sem os devidos Projetos e Gestões Hídricas de um
sistema de esgotamento sanitário adequado, poluiu sobremaneira os
reservatórios de água, tornando escasso este recurso.
Problemas começaram a serem identificados e daí nasce a Gestão
Hídrica Urbana para organizar a distribuição da água para a população,
principalmente no quesito tratamento para que houvesse satisfatória
qualidade para a ÁGUA que se serviria ao consumo humano.
Discussões em torno da preservação dos recursos naturais foram
amadurecendo a noção do desenvolvimento sustentável. E a partir daí
passou-se a discutir de forma mais ampla a necessidade de garantir a
sustentabilidade do recurso natural “água”, absolutamente imprescindível
para a VIDA.
Rapidamente nos deparamos com três fases distintas: uma fase da exploração desregrada, a fase fragmentária e a fase holística.
A primeira caracteriza-se entre o descobrimento do Brasil
e os primeiros anos do século XX, período em que registrou grande
influência portuguesa para a formação da história ambiental brasileira e
que teve repercussão no modelo de pensamento ecológico concebido e
existente ainda hoje no Brasil. A segunda fase, chamada por Benjamim
(1999) de fragmentária, tem como marco a difusão mundial do pensamento
ecológico. A terceira fase denomina-se holística e caracteriza-se pela
visão do meio ambiente como um conjunto integrado e equilibrado.
Nesse contexto, a terceira fase ampliou o pensamento jurídico ambiental no sentido de preservação do meio ambiente
como um sistema ecológico interligado (pessoas e recursos ambientais
devem ser protegidas como um todo) e com autonomia valorativa (por ser,
em si mesmo, um bem jurídico).
Hoje um problema consumado, a falta deste recurso trouxe à tona
inúmeros questionamentos acerca da legislação, do licenciamento
ambiental, das distribuidoras, das faltas de manutenção e,
principalmente, da sua utilização sem consciência.
Valendo mais do que o ouro, este recurso natural requer a atenção
mundial para a preservação das nascentes que vem diariamente sofrendo
degradações ambientais a ponto de extinguir uma fonte vital para vida
humana. E é bom que seja rápido, porque se demorar mais um pouco não vai
precisar mais…
Carla Martins é consultora jurídico-ambiental e Colunista de Plurale.
Fonte: Plurale.
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