Nações Unidas, 17/9/2014 – A tão comentada Cúpula do Clima, que
acontecerá no final deste mês, é apresentada como um dos grandes
acontecimentos político-ambientais da Organização das Nações Unidas
(ONU) para 2014. Seu secretário-geral, Ban Ki-moon, pediu aos mais de
120 governantes e empresários que participarão da cúpula de um único
dia, 23 de setembro, que anunciem iniciativas significativas e
substanciais, com promessas de fundos incluídas, “para ajudar o mundo a
avançar por um caminho que limite o aquecimento global”.
Segundo a ONU, a cúpula será a primeira ocasião em cinco anos em que
os líderes do mundo se reunirão para discutir o que se classifica de
desastre ecológico: a mudança climática. Entre as repercussões negativas
do aquecimento global estão a elevação do nível do mar, padrões
climáticos extremos, acidificação dos oceanos, derretimento de geleiras,
extinção de espécies da biodiversidade e ameaças à segurança alimentar
mundial, alerta a organização.
Mas o que se pode esperar realmente da conferência deste mês, que provavelmente não durará mais do que 12 horas?
“Um acontecimento de um dia não poderá nunca resolver tudo o que se
relaciona com a mudança climática, mas pode ser um ponto de inflexão
para demonstrar renovada vontade política de agir”, opinou Timothy Gore,
diretor de políticas e pesquisa da campanha Crecede Oxfam
International. Alguns líderes políticos aproveitarão a ocasião para
fazer isso, mas muitos “parecem decididos a se manterem afastados dos
compromissos transformadores necessários”, acrescentou.
Segundo Gore, a cúpula foi pensada como uma plataforma para os novos
compromissos de ação em matéria climática, mas existe o risco real de
estes não serem grande coisa. “O enfoque colocado nas iniciativas
voluntárias em lugar dos resultados negociados significa que não há
garantias de que os anúncios que forem feitos na cúpula serão
suficientemente sólidos”, acrescentou.
Espera-se que o Fundo Verde para o Clima mobilize cerca de US$ 100
bilhões anuais no Sul em desenvolvimento até 2020, segundo a ONU, mas
este ainda não recebeu os fundos que serão entregues aos países em
desenvolvimento para que possam implantar suas ações climáticas.
“No dia 23 de setembro veremos como os líderes mundiais não estão à
altura do que necessitamos para lidar com a perigosa mudança climática”,
apontou à IPS Dipti Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional e da
Justiça Ambiental, de Moçambique. As “promessas” que os governos e as
empresas farão na Cúpula do Clima serão extremamente insuficientes para
abordar a catástrofe climática, ressaltou a ativista.
“A ideia de os governantes assumirem compromissos voluntários e não
vinculantes é um insulto para centenas de milhares de pessoas que morrem
a cada ano pelos impactos da mudança climática”, afirmou Bhatnagar.
“Necessitamos que os países industrializados assumam objetivos de
redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes, não um
desfile de governantes que querem causar boa impressão. Mas este desfile
falso é só o que vamos ver nesta cúpula de um dia”, opinou.
No dia 21, dois dias antes da cúpula, centenas de milhares de pessoas
farão uma manifestação contra a mudança climática em cidades de todo o
mundo. “Nesse dia, estaremos nas ruas de Nova York como parte da maior
marcha climática na história, que enviará uma mensagem forte e clara
para que os líderes mundiais ajam agora”, explicou Martin Kaiser, líder
do projeto Política Climática Mundial, do Greenpeace.
Kaiser sugeriu que as empresas devem anunciar datas concretas a
partir das quais operarão com 100% de energia renovável. Além disso, “os
governos devem se comprometer a eliminar gradualmente os combustíveis
fósseis até 2050 e tomar medidas concretas, como acabar com o
financiamento das centrais elétricas movidas a carvão”, destacou.
“Também esperamos que os governos anunciem dinheiro novo e adicional
para o Fundo Verde para o Clima, a fim de ajudar os países vulneráveis a
se adaptarem aos desastres climáticos”, afirmou.
“Precisamos que o Norte industrial entregue fundos públicos seguros,
previsíveis e obrigatórios ao Sul em desenvolvimento por intermédio do
sistema da ONU”, disse Bhatnagar, da Amigos da Terra Internacional. Os
líderes dos países industrializados estão descuidando de sua
responsabilidade para evitar as catástrofes climáticas, impulsionados
pelos estreitos interesses econômicos e financeiros das elites ricas, da
indústria dos combustíveis fósseis e das corporações transnacionais,
acrescentou.
“O que se necessita para deter a mudança climática são objetivos de
redução de emissões equitativos, ambiciosos e vinculantes dos países
desenvolvidos, junto com a transferência de fundos e tecnologia aos
países em desenvolvimento. Também precisamos de uma completa
transformação de nossos sistemas de energia e alimentos”, enfatizou
Bhatnagar.
Nesse sentido, é preciso maior transparência para decidir se os
anúncios feitos são coerentes com as últimas conclusões científicas
sobre o clima e se protegem os interesses dos mais vulneráveis diante
dos impactos climáticos, detalhou Gore. Com relação ao papel do setor
privado, “precisamos que os empresários combatem a mudança climática, e
estão surgindo bons exemplos de empresas que estão à altura da ocasião”,
acrescentou .
No setor de alimentos e bebidas, por exemplo, a Oxfam trabalhou com
companhias como Kellogg e General Mills para que estas assumam
compromissos de redução das emissões de suas cadeias de fornecimento
agrícola, extremamente contaminantes. “Mas, em geral, essa cúpula mostra
que há muitas partes do setor privado que ainda não estão à altura, já
que as iniciativas que serão apresentadas não cumprem com a
transformação que precisamos”, destacou Gore.
“Isso serve para recordarmos a importância fundamental que tem a
forte liderança governamental na mudança climática. As iniciativas
voluntárias de baixo para cima não são um substituto da ação real do
governo”, afirmou Gore.
Fonte: Envolverde/IPS
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