Modelo urbano que repete o trinômio apartamento-carro-shopping
acentua doenças no trânsito, piora a vida e não tem solução a vista. É
preciso romper com este
Reportagem publicada pelo jornal O Povo, de Fortaleza, na semana
passada, mostra que a doença do trânsito maluco já se espalhou por todas
as capitais do Brasil e especialmente no Nordeste, região que hoje vive
uma grande onda de crescimento, com suas oportunidades e armadilhas.
Por enquanto, as novas metrópoles parecem estar repetindo o trinômio
apartamento-carro-shopping, que abriu espaço exagerado para o automóvel e
afastou as pessoas das ruas. E, de forma geral, a resposta das
autoridades tem sido o investimento maciço na abertura de novas vias,
alargamento de avenidas e a construção de viadutos e pontes, solução que
apenas adia ou transfere os congestionamentos para outros lugares, ou
tempos. Como se sabe, o congestionamento volta. Mais forte, com
violência, ruidoso, a pedir mais e mais espaço.
A matéria fortalezense acerta ao recomendar que as pessoas busquem o
caminho da convivência e da gentileza urbana nas ruas, entre pedestres,
ciclistas e condutores de veículos motorizados. Faltou apenas apontar a
necessidade urgente de mudar a direção dos investimentos públicos para
obras que tragam benefícios também públicos: corredores de ônibus, trens
e veículos sobre trilhos, metrôs, sistemas de barcos, ciclovias e
calçadas.
Os enganos do modelo urbano importado da América do Norte –
condomínios fechados, distantes dos centros, acessíveis apenas por
automóveis – se mostram plenamente no bairro de Alphaville, na Grande
São Paulo, hoje às voltas com enormes desafios de mobilidade e
segurança. Os problemas foram tema de um seminário realizado ha alguns
dias, com a presença de urbanistas, especialistas em transportes e
gestores públicos, todos em busca de soluções para a região.
Longe dos gabinetes, as respostas positivas estão nascendo de
iniciativas individuais, ou de pequenas organizações, como os estudantes
de Porto Alegre, que pretendem adesivar os ônibus da cidade para
estimular o usos do transporte público. Ou os “parklets”, vagas vivas
que ocupam as laterais das ruas com pequenas instalações para abrigar (e
reunir) pessoas, tal como os implantados em São Paulo por iniciativa do
Instituto Mobilidade Verde e agora oficializados pela prefeitura da
capital paulista.
Enfim, as boas práticas já estão nas ruas, na história das cidades,
no desejo das pessoas. E há que combinar uma ação técnica, de desenho,
de projeto, com ações políticas, que rompam o imobilismo (perdão pelo
trocadilho) dos gestores públicos.
Fonte:Mobilize Brasil.
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