Com exceção de algumas vias que cortam as comunidades, as favelas do
Rio de Janeiro não estão representadas - com ruas, becos e vielas - nos
mapas oficiais da cidade e tampouco nos mapas digitais do Google. Até
mesmo comunidades já consideradas bairros pela prefeitura do Rio, como
Rocinha, Maré e Santa Marta, enfrentam em seu cotidiano essa carência de
informação.
As questões práticas e simbólicas que resultam da
falta de uma cartografia em áreas que abrigam 22% da população carioca,
de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), são o tema do documentário Todo Mapa Tem um Discurso,
lançado hoje (29), no Planetário da Gávea, zona sul do Rio.Com roteiro,
montagem e direção de Francine Albernaz e Thais Inácio, o filme é uma
realização do Programa Rede Jovem, responsável pela criação do projeto
Wikimapa, que desde 2009 já mapeou diversas comunidades do município do
Rio, da Baixada Fluminense e até de São Paulo, onde chegou à favela do
Capão Redondo.
Tecnologia social voltada para o desenvolvimento
de áreas marginalizadas, o Wikimapa é um mapa virtual colaborativo, que
além da cartografia de ruas, becos e vielas assinala pontos de interesse
nas comunidades. A edição é feita por diversos participantes, através
da internet ou do telefone celular.
“A ideia é ser colaborativo, é
garantir que todo mundo produza e insira conteúdo, e que isso não passe
por uma moderação”, explica a géografa Natália Aisengart Santos,
diretora executiva do Programa Rede Jovem. De acordo com outra diretora
do programa, a antropóloga Patricia Azevedo, o importante é que a
inserção de informações nos mapas virtuais se dá a partir da mobilização
comunitária.
“A gente podia chegar numa vendinha, se apresentar
como do Wikimapa e dizer 'eu quero botar sua vendinha no mapa'. Só que
issso para a gente não faz muito sentido. A gente quer, na verdade, que
as pessoas que moram no local digam o que têm, o que é legal e o que não
é legal”, diz Patrícia.
O documentário também apresenta
iniciativas de mídia independente nas favelas, como a Escola Popular de
Comunicação Crítica (Espocc), projeto do Observatório de Favelas no
Complexo da Maré, e o site Viva Rocinha. Histórias de moradores
que lutam por suas comunidades e iniciativas de desenvolvimento
econômico local, como o turismo nas favelas, também são mostradas no
filme.
Fonte: Agência Brasil
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