Serraria no interior da Amazônia (©Greenpeace/Rodrigo Baleia)
“A
injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”.
Foi com esta frase de Martin Luther King que o juiz Raimundo Moisés
Alves Flexa iniciou a leitura da condenação a 12 anos de prisão do
fazendeiro e madeireiro Décio José Barroso Nunes, o Delsão, responsável
por encomendar o assassinato de José Dutra da Costa, o Dezinho, em 21 de
novembro de 2000.
Dezinho, líder dos trabalhadores rurais no estado do Pará, perdeu a
vida por defender a reforma agrária e denunciar o trabalho escravo em
serrarias, carvoarias e fazendas da região de Rondon do Pará, além de
outros crimes ambientais.
Este é o terceiro julgamento do caso. Wellington de Jesus da Silva, o
pistoleiro, foi preso logo após o crime. Condenado a 27 anos em regime
fechado em 2006, ele fugiu cerca de um ano e meio depois da sentença,
após a saída temporária para o Natal. Já Delsão teve o processo
desmembrado e por isso foi julgado apenas em 2014. Apesar de condenado,
vai recorrer em liberdade.
Como Luther King, Dezinho também disse ter um sonho: “Eu tenho um
grande sonho pra este país. O sonho de viver em um Brasil onde todos
tenham o direito de viver. Eu tenho o sonho de ver todas as crianças na
escola porque eu entendo que esse é justamente o futuro do nosso país.
Agora, não basta só eu ter esse sonho, é preciso que a gente comece a
sonhar junto. Aí não será mais um sonho, será realidade”, disse ele no
documentário “Dezinho Vida Sonho e Luta”, produzido pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2009 Rondon do Pará figurou
entre os 40 municípios que mais desmataram a Amazônia. Além disso, de
acordo com dados do Imazon de 2012, ocupou o 11º lugar na lista dos
municípios com as maiores áreas de exploração madeireira sem autorização
no estado.
De 2011 a 2012, só em Rondon do Pará, foram aplicados pelo IBAMA mais
de R$ 19 milhões em multas por crimes contra o meio ambiente. Neste
contexto de completo desrespeito à floresta, Delsão foi multado em mais
de R$ 2,4 milhões de reais.
“Na Amazônia, a inoperância do Estado gera graves consequências, como
disputas fundiárias e a proliferação da ilegalidade e da violência,
colocando em risco a floresta e seus habitantes, que têm um papel
fundamental na conservação da floresta. Quanto mais importante esse
papel se torna, mais ameaçadas essas pessoas se encontram”, disse
Claudia Caliari, da Campanha Amazônia do Greenpeace.
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