As comemorações pelo centenário de Dorival Caymmi (1914-2008), que
tiveram seu marco inicial há exatamente um ano, não se encerram hoje
(30), data em que o cantor e compositor baiano, um dos ícones da música
popular brasileira (MPB), completaria 100 anos. Nesta quarta-feira, no
Rio de Janeiro, uma missa será celebrada às 20h, na Igreja da
Ressurreição, em Copacabana, bairro da zona sul carioca onde morou a
maior parte de sua vida. No mesmo horário, em Salvador, cidade natal de
Caymmi, a cantora Daniela Mercury comanda um show no Farol da Barra.
Um
dos destaques entre os próximos eventos é o concerto sinfônico agendado
para o dia 24 de maio, às 20h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Acompanhada da Orquestra Petrobras Sinfônica e do pianista André
Mehmari, a cantora baiana Rosa Passos subirá ao palco do Municipal para
interpretar clássicos do compositor, como Maracangalha, Só Louco, Dora e Marina. Também compositor e orquestrador, André Mehmari criou para o concerto duas fantasias, uma delas – Caymminiana, para piano e orquestra – inédita.
Patriarca
de uma dinastia musical, representada por seus filhos Nana, Dori e
Danilo Caymmi, e agora também pela neta Alice, Dorival Caymmi tem na
descendência sua mais completa biógrafa. Filha de Nana, a jornalista
Stella Caymmi lançou, na última segunda-feira (28), nova edição de sua
extensa biografia O Mar e o Tempo. Resultado de dez anos de pesquisa, que teve primeira edição em 2001, sete anos antes da morte do avô.
Stella também é autora de O que É que a Baiana Tem?,
lançado em 2013, que mostra a importância do rádio para o sucesso
meteórico de Dorival Caymmi, a partir de sua chegada ao Rio, em 1938.
Imortalizada na voz de Carmen Miranda, a canção que dá título ao livro é
o eixo da narrativa que revive o ambiente musical carioca naquela
época, como os conflitos entre os artistas, e destes com as emissoras de
rádio e as gravadoras.
Para Stella, a obra de Dorival Caymmi tem
suas raízes no ambiente cultural de Salvador, em que foi criado. “A
Bahia conservou muito de suas tradições profundas, de sua relação com as
vertentes portuguesa e africana, que constituem a formação central da
cultura baiana. Isso deu a Dorival Caymmi um contexto cultural
fundamental para alimentar sua criatividade”, disse.
Com suas
canções praieiras e sambas, Dorival Caymmi foi um dos criadores da
imagem de uma Bahia mítica, que na literatura teve seu correspondente na
obra do escritor Jorge Amado. O fato curioso é que os dois símbolos da
cultura baiana, que se tornaram grandes amigos, só foram se conhecer no
Rio de Janeiro, como o próprio Caymmi contou, numa entrevista concedida
em 1999, por ocasião de seus 85 anos, à Rádio Nacional do Rio.
“Eu
vim conhecer Jorge Amado no Rio de Janeiro, onde fiz relacionamento com
os intelectuais da imprensa, do livro. Vim para estudar direito, e o
rádio me atraiu. Fiz grandes amizades na imprensa, com nomes como Jorge
Amado, Carlos Lacerda, Otávio Malta e muitos outros intelectuais da
linha de Manuel Bandeira, Drummond; só gente de primeira categoria”,
contou Caymmi.
A Rádio Nacional teve importância
fundamental na vida de Caymmi, porque foi em um programa de calouros da
emissora que ele conheceu aquela que viria a ser sua esposa, a cantora
Stella Maris, cujo verdadeiro nome era Adelaide Tostes. Os filhos do
casal, Dinair (Nana), Dorival (Dori) e Danilo, nascidos entre 1941 e
1948, também se tornaram grandes nomes da MPB.
Ligado à Bahia
pelas raízes que serviram de inspiração para sua obra, Caymmi passou, no
entanto, a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, principalmente no
bairro de Copacabana, e nos anos 50, quando se apresentava com
frequência em boates do bairro, exerceu influência sobre as gerações
seguintes da MPB.
“Ainda que não compusesse bossa nova, Caymmi
trouxe elementos modernizadores para a música, que depois foram
trabalhados pelo filtro radical dos bossa-novistas”, destaca a neta e
biógrafa, que também é curadora de uma exposição sobre o avô, que será
aberta no dia 19 de julho, no Centro Cultural dos Correios de São Paulo,
e depois seguirá para Brasília.
Também artista plástico, Dorival
Caymmi desenhava desde a infância e criou pinturas abstratas e
figurativas. Ao longo de cinco décadas, deixou uma obra musical que não é
numerosa, em comparação com outros grandes autores da MPB. São cerca de
100 composições, mas quase todas elogiadas por sua perfeição, pelos
críticos e por colegas de profissão, como o também baiano Caetano
Veloso.
Fonte: Agência Brasil
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