quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ícone da MPB, Dorival Caymmi completaria 100 anos hoje


As comemorações pelo centenário de Dorival Caymmi (1914-2008), que tiveram seu marco inicial há exatamente um ano, não se encerram hoje (30), data em que o cantor e compositor baiano, um dos ícones da música popular brasileira (MPB), completaria 100 anos. Nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, uma missa será celebrada às 20h, na Igreja da Ressurreição, em Copacabana, bairro da zona sul carioca onde morou a maior parte de sua vida. No mesmo horário, em Salvador, cidade natal de Caymmi, a cantora Daniela Mercury comanda um show no Farol da Barra.

Um dos destaques entre os próximos eventos é o concerto sinfônico agendado para o dia 24 de maio, às 20h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Acompanhada da Orquestra Petrobras Sinfônica e do pianista André Mehmari, a cantora baiana Rosa Passos subirá ao palco do Municipal para interpretar clássicos do compositor, como Maracangalha, Só Louco, Dora e Marina. Também compositor e orquestrador, André Mehmari criou para o concerto duas fantasias, uma delas – Caymminiana, para piano e orquestra – inédita.
Patriarca de uma dinastia musical, representada por seus filhos Nana, Dori e Danilo Caymmi, e agora também pela neta Alice, Dorival Caymmi tem na descendência sua mais completa biógrafa. Filha de Nana, a jornalista Stella Caymmi lançou, na última segunda-feira (28), nova edição de sua extensa biografia O Mar e o Tempo. Resultado de dez anos de pesquisa, que teve primeira edição em 2001, sete anos antes da morte do avô.

Stella também é autora de O que É que a Baiana Tem?,  lançado em 2013, que mostra a importância do rádio para o  sucesso meteórico de Dorival Caymmi, a partir de sua chegada ao Rio, em 1938. Imortalizada na voz de Carmen Miranda, a canção que dá título ao livro é o eixo da narrativa que revive o ambiente musical carioca naquela época, como os conflitos entre os artistas, e destes com as emissoras de rádio e as gravadoras.

Para Stella, a obra de Dorival Caymmi tem suas raízes no ambiente cultural de Salvador, em que foi criado. “A Bahia conservou muito de suas tradições profundas, de sua relação com as vertentes portuguesa e africana, que constituem a formação central da cultura baiana. Isso deu a Dorival Caymmi um contexto cultural fundamental para alimentar sua criatividade”, disse.

Com suas canções praieiras e sambas, Dorival Caymmi foi um dos criadores da imagem de uma Bahia mítica, que na literatura teve seu correspondente na obra do escritor Jorge Amado. O fato curioso é que os dois símbolos da cultura baiana, que se tornaram grandes amigos, só foram se conhecer no Rio de Janeiro, como o próprio Caymmi contou, numa entrevista concedida em 1999, por ocasião de seus 85 anos, à Rádio Nacional do Rio.

“Eu vim conhecer Jorge Amado no Rio de Janeiro, onde fiz relacionamento com os intelectuais da imprensa, do livro. Vim para estudar direito, e o rádio me atraiu. Fiz grandes amizades na imprensa, com nomes como Jorge Amado, Carlos Lacerda, Otávio Malta e muitos outros intelectuais da linha de Manuel Bandeira, Drummond; só gente de primeira categoria”, contou Caymmi.

A Rádio Nacional teve importância fundamental na vida de Caymmi, porque foi em um programa de calouros da emissora que ele conheceu aquela que viria a ser sua esposa, a cantora Stella Maris, cujo verdadeiro nome era Adelaide Tostes. Os filhos do casal, Dinair (Nana), Dorival (Dori) e Danilo, nascidos entre 1941 e 1948, também se tornaram grandes nomes da MPB.

Ligado à Bahia pelas raízes que serviram de inspiração para sua obra, Caymmi passou, no entanto, a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, principalmente no bairro de Copacabana, e nos anos 50, quando se apresentava com frequência em boates do bairro, exerceu influência sobre as gerações seguintes da MPB.

“Ainda que não compusesse bossa nova, Caymmi  trouxe elementos modernizadores para a música, que depois foram trabalhados pelo filtro radical dos bossa-novistas”, destaca a neta e biógrafa, que também é curadora de uma exposição sobre o avô, que será aberta no dia 19 de julho, no Centro Cultural dos Correios de São Paulo, e depois seguirá para Brasília.

Também artista plástico, Dorival Caymmi desenhava desde a infância e criou pinturas abstratas e figurativas. Ao longo de cinco décadas, deixou uma obra musical que não é numerosa, em comparação com outros grandes autores da MPB. São cerca de 100 composições, mas quase todas elogiadas por sua perfeição, pelos críticos e por colegas de profissão, como o também baiano Caetano Veloso.

Fonte: Agência Brasil


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