Novos estudos reforçam as evidências sobre a decisiva contribuição humana para o aumento da temperatura média do planeta.
Os resultados divulgados na semana passada pelo IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em tradução de sua sigla
em inglês) reforçaram o que já era de conhecimento até, plagiando Mino
Carta, do mundo mineral. O relatório mais uma vez ratifica que o ser
humano e suas atividades de alto impacto ambiental têm causado mudanças
substanciais na dinâmica climática do planeta. A emissão dos chamados
gases de efeito estufa continua, desculpe o trocadilho, a todo vapor e
os problemas acarretados por esse fenômeno só tendem a piorar
dramaticamente o que já está afetando a vida de bilhões de pessoas.
Tudo bem que não é necessário ser cientista para perceber que alguma
coisa muito errada já vinha acontecendo com o nosso clima e não é de
hoje. Os fenômenos climáticos extremos estão cada vez mais presentes em
nosso cotidiano. Mas nada melhor do que estudiosos gabaritados para
respaldar com informações e pesquisas exaustivas a constatação de que o
aquecimento global é sim uma realidade nua e crua. Gostem ou não gostem
nossas autoridades públicas, dirigentes de grandes corporações,
especuladores e representantes do mercado financeiro, todos tão zelosos
por seus interesses mais particulares que coletivos, será preciso agir
para salvar os dedos mesmo que seja necessário entregar alguns poucos
anéis.
De qualquer forma, o novo relatório do IPCC apontou, entre suas
principais conclusões, que não há mais como duvidar do aquecimento
global e da ação humana para esse fenômeno. E, a partir dessa
constatação, para que não ultrapassemos dois graus Celsius no aumento da
temperatura média na Terra, seria necessário interromper imediatamente a
emissão de gases de efeito estufa, produzidos principalmente pela
queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural, etc.).
O lado mais pessimista do texto conclui ser o aquecimento do planeta
algo irreversível. Seria necessária, para evitar piores resultados no
futuro próximo, uma imediata e inadiável ação em escala global. Certo
também, como apontado pelo documento, é que neste exato momento não
estamos preparados para enfrentar essas mudanças.
Segurança Alimentar
O relatório reserva um espaço importante para abordar a produção de
alimentos. No estudo anterior, divulgado em 2007, o IPCC levantava a
hipótese de que o aumento da temperatura poderia beneficiar a
agricultura de regiões mais frias, o que talvez compensasse as perdas em
outras áreas mais quentes. Neste novo texto, essa possibilidade ficou
descartada, pois os impactos negativos que já vem sendo registrados em
culturas fundamentais, como arroz, milho e trigo, não serão capazes de
equilibrar a oferta de alimentos.
Aliás, entre os maiores perigos
destacados pelo IPCC está justamente o aumento no preço dos principais
gêneros alimentícios, um dos mais preocupantes. A perda de áreas
agricultáveis devido ao calor excessivo deve aumentar as causas de
instabilidade que já afetam um grande número de países. A fome e as
imigrações forçadas tendem a se multiplicar e trazer ainda mais
sofrimento para milhões de pessoas, principalmente as que vivem nas
nações mais pobres e desprovidas de uma boa infraestrutura para
enfrentar os problemas criados pelo aquecimento global.
Por mais fatalista que seja o novo relatório das mudanças climáticas,
não nos resta outra atitude a não ser enfrenta-las seriamente. Os fatos
estão aí à disposição de todos. Se já era difícil entender a letargia
de nossos líderes mesmo com tantas evidências, agora diante dessas novas
comprovações resta perguntar: o que mais será preciso para começar a
agir?
Reinaldo Canto é jornalista especializado em
Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras
de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace
Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo
Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e
parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e
palestrante e consultor na área ambiental.
Fonte: Carta Capital.
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