Uma feira que começou hoje (30) e vai até amanhã
(31), nas areias de Copacabana, é um exemplo do que pode ocorrer quando
produtores se reúnem e formam redes, nacionais e internacionais. O Salão
Mundial do Comércio Justo e Solidário faz parte da 1ª Semana Mundial do
Comércio Justo e Solidário, que começou no último dia 26, com o apoio
da Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), e da prefeitura do Rio de Janeiro.
“No mundo inteiro, os pequenos produtores estão tentando apresentar à
sociedade uma nova forma de desenvolvimento, ter uma nova economia, que
valorize mais o ser humano e o meio ambiente. É uma forma de ter
produtos mais justos com o Planeta e com a população. Hoje. é mais fácil
atuar em rede. A tecnologia consegue diminuir a distância e, com isso, é
possível conversar e se organizar mais globalmente”, explicou o
secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Solidário, Vinícius
Assumpção.
Exemplos de casos bem-sucedidos não faltam na feira, que reúne 150
expositores de todas as regiões brasileiras e de diversos países. Alguns
vieram de muito longe, como a artesã Meera Bhathrai, do Nepal, um país
de 147 mil quilômetros quadrados e cerca de 30 milhões de habitantes
encravado nas montanhas entre a Índia e a China. Ela trouxe bonequinhas
de pano e echarpes, fabricadas por mulheres nepalesas.
“O problema do desemprego está nos matando, nos deixando sem saída.
Mas as mulheres estão usando suas habilidades e desenvolvendo trabalhos
artesanais em casa. De outra forma, elas não têm outras opções na vida,
pois a maioria é pobre e analfabeta. Por meio do comércio justo e
solidário, temos boas condições de trabalho, ao contrário de quem
trabalha para empresas multinacionais”, disse Meera.
Entre os expositores, está um representante da Palestina, Shadi
Mahmoud, que trouxe alguns dos poucos artigos possíveis de serem
produzidos nos territórios ocupados: chás, óleo de oliva, temperos e
tâmaras. Segundo ele, o maior problema no país é a falta de emprego.
“Existe muito desemprego, que está crescendo por causa da ocupação
israelense, que controla todos os aspectos da nossa vida. É muito
difícil fazer negócios, pois não podemos importar ou exportar sem a
permissão do governo de Israel. Muitos estão saindo das cidades e
voltando a trabalhar na terra para sobreviver”, contou Shadi, que mora
na cidade de Ramalá, na Cisjordânia.
Da América do Sul, o peruano Agapito Marcapiña veio representando a
Associação dos Pequenos Produtores Artesanais e Ecológicos (Aptec), que
reúne agricultores da região andina. “Produzimos grãos e frutas naturais
dos Andes. Somos pequenos produtores, reunidos há sete anos. Eu era um
pequenos agricultor e agora já tenho minha própria casa. Antes,
trabalhávamos para os grandes exportadores e agora fazemos nossa própria
exportação de forma organizada. Antes, não nos pagavam um preço justo e
agora conseguimos por meio da união”, disse Agapito.
A gaúcha Luci Machado da Silva, artesã da Copearte, uma organização
fundada em uma comunidade pobre na Vila Pinto, situada no bairro Bom
Jesus, trouxe roupas, lençois e artesanato fabricado pelas integrantes
da cooperativa. “O que nós mais precisamos é aprender a fazer a
colocação das peças no mercado. Atualmente, ganho R$ 200 por mês, que
não é muito dinheiro, mas ajuda bastante a renda da família, que é cerca
de R$ 1 mil”, disse Luci.
Da Favela da Maré, na zona norte do Rio, veio a cerâmica negra,
peças de argila primitivas escurecidas com uma técnica especial. “Depois
de cinco horas de queima, a gente adiciona pó de serragem, que abafa o
fogo, e a fuligem entranha na peça, que está incandescente e dá essa cor
negra”, explicou Glória da Conceição Barreto, uma das fundadoras da
organização, ao lado de Maria Evangelista da Silva Pereira, também
presente na feira. Juntas, elas conseguem produzir até 200 peças por
mês, incluindo pequenas estatuetas estilizadas do Cristo Redentor e do
Pão de Açúcar.
O conceito de comércio justo e solidário prevê a formação de redes
de pequenos produtores, que juntos conseguem colocar seus produtos em
grandes mercados, explicou o guatemalteco Marvin López García,
representante da Coordenadora Latino-Americana e do Caribe de Pequenos
Produtores de Comércio Justo (Clac): “Somos uma plataforma que
representa 21 países, com 15 produtos alimentícios, no sistema de
comércio justo. Temos que estar fortalecidos para atender aos
requerimentos do mercado e desenvolver relações mais diretas com os
exportadores. Só há futuro se os pequenos produtores trabalharem
coletivamente e de forma mais organizada.”
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