A palavra economia tem seu significado constituído a
partir de Aristóteles e quer dizer "economia da casa", ou seja, a
economia é uma forma de interpretar e atuar sobre o mundo. Por isso,
saber o que se passa nesse campo é fundamental para constituir propostas
sobre como viver. O sistema capitalista, que atualmente comanda a forma
de organizar a vida da maioria dos países do mundo, tem sua própria
visão de economia.
Como é um sistema profundamente desigual, cria uma
imensa comunidade de vítimas. Isso pode ser visto no cotidiano, no qual
uns tem muito e outros estão sem acesso a praticamente tudo. O
desemprego, a falta de saúde, educação, moradia, segurança, tudo isso é
uma das faces do sistema baseado no capitalismo. A outra face diz
respeito a uma pequena parte da população que se apropria das riquezas e
vive sem qualquer problema.
No Brasil é muito
comum que os economistas - na sua maioria - , os partidos políticos, os
sindicalistas, os jornalistas e a maioria das lideranças populares
pensem a economia como a expressão dos interesses da classe dominante.
No geral, as explicações ideológicas sobre como funciona o mundo
capitalista, que são disseminadas pelos meios monopólicos de
comunicação, tornam a desigualdade criada pelo capitalismo como uma
coisa normal. Ser pobre passa a ser culpa do indivíduo. É a pessoa que
não se esforça, que não tem sorte ou que não sabe trabalhar. A classe
dominante, que suga as riquezas da maioria, é inocentada a partir,
inclusive, da própria universidade que lança todos os dias na vida uma
série de pesquisadores e especialistas que tem por objetivo divulgar
essa ideologia. São os "teólogos de aluguel" dessa "religião" que se
tornou o mercado capitalista, conforme denuncia o filósofo brasileiro
Álvaro Vieira Pinto. O professor Nildo Ouriques também adverte: a
economia é também a expressão dos interesses dos trabalhadores, das
pessoas comuns que sofrem os efeitos do sistema capitalista, no geral,
como vítimas.
O Encontro da Associação Mundial de
Economia Política, que acontece na UFSC de 24 a 26 de maio, pretende
discutir essa "organização da casa" a partir da perspectiva dos
trabalhadores, dos humilhados, dos oprimidos, dos que produzem a riqueza
e não usufruem dela. Pretende revelar, a partir de dados reais, que na
origem da riqueza de alguns está a exploração da maioria. E que as
crises cíclicas do capital acabam por fazer com que também uma pequena
parcela de gente acumule ainda mais riqueza. É da natureza do
capitalismo expropriar a maioria para o regalo de poucos. Um exemplo
disso se vê agora na Europa, onde mais de 44 milhões de pessoas estão
desempregadas, enquanto alguns triplicam suas fortunas em função da
crise. Nos Estados Unidos são mais de 46 milhões de pessoas que não tem
acesso à saúde e os países da América Latina não tem motivo nenhum para
se orgulhar do capitalismo dependente ao qual estão submetidos, com
ilusórias bolhas de crescimento, que também só enriquecem alguns.
"Há
que limpar as estrebarias", ironiza Álvaro Vieira Pinto, ao lembrar que
é papel dos intelectuais críticos desfazer essa ilusão de que a pobreza
é coisa natural. Há que conhecer a história, desvelar os mecanismos que
movimentam a exploração e rebater os "arquitetos da alienação" com
informações concretas acerca da realidade.
Pois
isso é o que os economistas críticos pretendem realizar nesse encontro
que acontece pela primeira vez na América do Sul. No geral, as
atividades se concentram na Europa ou na Ásia, tendo saído para a
América Latina apenas em 2012, quando a Universidade Nacional Autônoma
do México recebeu o encontro. Agora, na UFSC, não apenas os economistas
poderão participar das conferências e discussões. A reunião Anual da
Associação de Economia Política estará aberta a estudantes, professores,
sindicalistas e lideranças populares. Porque a UFSC e o Iela entendem
que esse não é um tema para especialistas. É discussão para qualquer um
que queira "organizar a casa", nesse caso, a nossa sociedade dependente e
desigual.
A organização local está a cargo do
professor de Economia da UFSC e membro do IELA, Nildo Ouriques, e todas
as atividades são com entrada livre, sem custo. Durante as conferências
da WAPE haverá tradução simultânea.
O Iela fará
uma sessão latino-americana, que começa na sexta-feira (24) de manhã,
para discutir a importância de Karl Marx para o pensamento crítico e a
Dívida Externa como tema decisivo da economia política em nosso
continente.
Elaine Tavares é jornalista.
Fonte: Brasil de fato
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