Índice de poluição por ozônio bate recorde e compromete a saúde do paulistano.
Infelizmente ainda existem muitas dificuldades e resistências para
que possamos analisar criticamente o chamado modelo de desenvolvimento.
Questionar o crescimento determinado pelos critérios tradicionais
estabelecidos pelo Produto Interno Bruto – PIB, invariavelmente, são
contestados como conversa de ambientalistas ou de quem é contra o país.
Já ouvi o economista Eduardo Giannetti da Fonseca afirmar que, se
fossem contabilizadas as perdas em recursos naturais da China, o real
crescimento da potência asiática, que avançava na casa dos dois dígitos
em anos recentes, seria infinitamente menor.
Pois, se é mais difícil para muitos compreenderem o valor dos
fundamentais serviços ambientais que a natureza do planeta nos oferece,
talvez questões que impliquem na redução da qualidade de vida, possam
ser mais fáceis de entender para ouvidos moucos e conservadores.
A poluição atmosférica é um desses fatores conhecidos de nós
brasileiros, principalmente daqueles moradores das grandes metrópoles.
Só em São Paulo, esse tipo de poluição é responsável pela morte de 4 mil
pessoas por ano e também responde por milhares de internações graças a
um ar cada vez mais carregado de partículas comprometedoras à saúde
humana.
Neste período do ano muita gente sofre bastante com a piora na
qualidade do ar. A dificuldade na dispersão dos poluentes afeta crianças
e idosos em maior número, mas outras faixas etárias também são
impactadas.
O maior responsável nas grandes cidades, claro, é o nefasto
escapamento dos carros a soltar seus gases poluentes para serem
consumidos livremente por nossos pulmões. E, por mais que muitos
resistam à ideia de limitar o número de veículos a circular pela cidade
dando prioridade ao transporte público, mas sim investir e implantar
tecnologias menos poluentes, a realidade se mostra mais forte. É verdade
que um carro deste século XXI polui muito menos que um veículo dos anos
70 do século passado, nem por isso respiramos um ar melhor.
Simplesmente porque existem mais carros hoje do que no passado.
Situação piora sem solução no horizonte
Na semana passada foram divulgadas novas informações que comprometem
ainda mais a saúde dos paulistas. A poluição por ozônio bateu um novo
recorde na Região Metropolitana de São Paulo chegando ao pior nível em
10 anos. Para o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de
Poluição Atmosférica da USP, “o ozônio está fora de controle” (Estadão,
23/04). Segundo o pesquisador, a péssima qualidade dos nossos
combustíveis, associado a poucas chuvas e temperaturas mais altas,
criaram um ambiente propício à piora na qualidade do ar.
Chegará o dia, esperemos que não seja muito tarde, em que será
preciso equilibrar o tal progresso baseado no aumento do lucro e nos
ganhos imediatos com os reais interesses das pessoas e levando em conta
os limites ambientais. Afinal, o verdadeiro progresso não deve se basear
meramente no aumento do poder de consumo, mas em elementos que
possibilitem melhorar a qualidade de vida de vida de todos. Respirar um
ar limpo, beber água pura e ter uma alimentação saudável devem preceder
quaisquer fatores econômicos.
Reinaldo Canto é jornalista especializado em
Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras
de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace
Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo
Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e
parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e
palestrante e consultor na área ambiental.
Fonte: Carta Capital.
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