Persiste entre formadores de opinião o uso do termo ambientalista de
forma pejorativa, para depreciar os cidadãos que lutam pela causa
ambiental, além de também esconder outras intenções, menos ingênuas,
como fazer o jogo dos poderosos, dos poluidores, que têm seus interesses
contrariados pela persistência daqueles que defendem a preservação do
meio ambiente e das condições de vida no planeta.
Os últimos relatórios dos grupos de trabalho do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram
inquestionavelmente que a ação humana é a principal causa da elevação da
temperatura média da Terra, do aquecimento global. Mesmo assim,
interesses poderosos das indústrias de combustíveis fósseis e nucleares,
da agroindústria, dentre outros, continuam a negar este fato,
financiando campanhas que atacam aqueles que propõem mudanças no atual
estilo de vida perdulário, no consumo e na produção de matérias primas e
energia.
O crescimento sempre foi um objetivo da política econômica.
Acreditava-se que o aumento da renda de um país fosse suficiente para
proporcionar uma vida melhor a seus habitantes. Portanto, a partir de
uma análise simplificada, geralmente utilizando como indicador o Produto
Interno Bruto (PIB), anunciava-se que bastava seu aumento para que
fosse interpretado que os indicadores de bem estar também o
acompanhariam. O que de fato não acontece.
Já há alguns anos, verificam-se os danos causados pelo atual modelo
de atividade econômica sobre o planeta. Em nome do crescimento a
qualquer preço, tudo é permitido, inclusive a destruição do meio
ambiente. As evidências são incontestes de que não é possível mais
crescer e enriquecer para atender à melhoria da qualidade de vida da
maioria da população. Ou seja: consumir e produzir nos padrões atuais
esbarram nos limites físicos do nosso planeta.
Estamos recebendo sinais de que a Terra vem reagindo à quantidade de
gases emitidos, denominados de “efeito estufa”, em particular o CO2
(dióxido de carbono), principalmente pelo uso massivo dos combustíveis
fósseis. Ao desmatamento desenfreado das florestas para diferentes
finalidades. Ao desperdício e poluição das fontes de água doce,
reduzindo assim sua disponibilidade, principalmente pelo uso irracional
desse bem fundamental à vida. Qualquer vida. Todas as vidas.
O IPCC, através de seus relatórios e pareceres, tem chegado a
conclusões científicas irrefutáveis de que o aquecimento global tem
provocado aumento significativo na frequência e na intensidade dos
“desastres naturais”. A concentração de CO2 na tênue atmosfera que nos
protege atingiu os 400 ppm (parte por milhão) em abril de 2014,
superando o limite histórico. Valor emblemático, pois é o nível
considerado limite pelos cientistas para evitar os piores cenários do
clima.
Segundo o IPCC, acima de 400 ppm de CO2 a temperatura média do
planeta poderá subir entre 2 e 5 graus centígrados até o final deste
século, o que poderá provocar a aceleração do degelo, tempestades mais
violentas, graves impactos sobre a biodiversidade, com a inevitável
extinção de espécies, e milhões de refugiados ambientais que terão de
buscar outro lugar pra viver.
Portanto, mesmo com as evidências, com os alertas científicos, ainda
continuamos a não dar a atenção devida a este que é o maior desafio de
nosso tempo: as mudanças climáticas. Ela já esta entre nós e se
acelerando.
Daí os que lutam pela vida no planeta Terra, por um mundo melhor, por
uma sociedade mais igualitária, menos injusta socialmente, onde a renda
seja mais distribuída, serem também responsáveis pela preservação
ambiental. Ou seja, somos todos ambientalistas (obviamente, com exceção
dos que querem manter seus privilégios).
Saiba mais sobre o Fórum Social temático Energia de 10 a 17 de agosto em Brasília aqui.
Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Fonte: Correio da Cidadania.
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