Como é sabido, o Brasil é um dos grandes países megabiodiversos do
planeta. Ou seja, somos detentores de uma enorme riqueza fundamental
para as nossas vidas. Até aí, nenhuma novidade. O patamar de
conhecimento sobre a importância da biodiversidade é grande,
especialmente após a elaboração da Convenção da Biodiversidade em 1992.
Infelizmente o mundo continua a assistir a perda desse patrimônio por
várias razões: perda dos habitats, espécies invasoras, aquecimento
global, comércio ilegal de fauna silvestre. Sobre esse último, o PNUMA –
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – recentemente lançou
um relatório mostrando que estamos diante de um mercado de bilhões de
dólares, associado a outras atividades ilícitas como o tráfico de
drogas. O elefante hoje é o símbolo máximo dessa barbárie. Em 2013 foram
caçados ilegalmente 20 mil indivíduos por conta do marfim.
Em relação às espécies invasoras, recentemente alguém me perguntou
com certa ironia se seriam as mesmas marcianos invadindo a Terra no
estilo do Orson Welles. Apenas a título de ilustração, Orson foi um dos
maiores símbolos do cinema no século passado e ao fazer um programa de
rádio sobre uma suposta invasão de marcianos gerou pânico nos EUA.
Espécies invasoras são aquelas que invadem ecossistemas e biomas,
provocando grandes alterações nestes últimos. Com prejuízos gigantescos
para muitas atividades econômicas, entre as quais vale ressaltar a
agricultura e a geração de energia. Em relação à primeira, me lembrou o
ex-ministro Roberto Rodrigues, em um debate recente, o caso da lagarta
helicoverpa armigera, que hoje avança sobre a soja e o algodão em muitos
estados brasileiros. No caso da energia, vale lembrar o exemplo do
mexilhão dourado, que entrou no Brasil pela bacia do prata e que hoje
compromete a geração de energia em várias hidrelétricas brasileiras,
aumentando a nossa conta de luz.
Moral da história: ou o Brasil enfrenta com seriedade esse desafio ou sofreremos cada vez mais prejuízos.
Um dos grandes desafios da conservação da biodiversidade brasileira
está na gestão das Unidades de Conservação (UCs). Estas estão divididas
em várias categorias de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) e se confrontam com uma incontestável precariedade em
sua gestão. O primeiro parque nacional criado em 1937 – o de Itatiaia,
ainda tem a sua regularização fundiária pendente. Setenta e sete anos
não foram suficientes para resolver o problema.
O Brasil precisa de uma revolução na gestão de suas Unidades de
Conservação. Uma mudança radical de mentalidade que permita que estas
sejam tratadas como ativos estratégicos para o desenvolvimento das
regiões onde se encontram.
Hoje as UCs são vistas como empecilhos intransponíveis por muitos
prefeitos, governadores, proprietários e comunidades que vivem no seu
entorno. E pela falta de infraestrutura básica se transformaram em alvo
fácil para caçadores, invasores e especuladores imobiliários.
Mas vejo uma luz no fim do túnel. Em conversa com os dirigentes do
Instituto Semeia, Pedro e Guilherme Passos e Ana Luísa Da Riva, ficou
evidenciado que se formos capazes de radicalizar um novo modelo de
gestão das UCs brasileiras poderemos conservá-las para as futuras
gerações e torná-las um importante ativo de desenvolvimento do Brasil.
Nas palavras de Pedro, “é a revolução que precisamos”.
Fabio Feldmann é consultor ambiental.
Fonte: Fabio Feldmann Consultores.
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