A demora do Congresso Nacional em votar a ratificação do
Protocolo de Nagoya, assinado pelo País em 2010, pode custar a cadeira
brasileira na mesa de discussões da COP-12
O Brasil foi um dos primeiros países a assinar o Protocolo de Nagoya,
proposto na 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas
sobre Biodiversidade (COP-10), em 2010, como alternativa para
regulamentação do uso de recursos da biodiversidade do planeta.
Depois de quatro anos, no entanto, o País acaba de perder a chance de
participar ativamente da discussão sobre o assunto. As propostas
contidas no protocolo não foram ratificadas pelo Congresso Nacional.
Para entrar em vigor, 50 dos 92 signatários da Convenção sobre a
Diversidade Biológica (CDB) precisavam confirmar sua validade,
incorporando-o a legislação, até junho deste ano. O que aconteceu nesta
segunda-feira 11, sem a participação do Brasil.
“O Brasil perdeu uma grande chance deixando de votar este projeto,
uma vez que o País foi protagonista da proposta, junto com o próprio
Japão. Mas se em casa a gente não consegue aprovar o que sugerimos
internacionalmente, isso mostra que fomos muito bons de papo e pouco
eficientes na ação”, avalia Marcio Astrini, coordenador da Campanha da
Amazônia do Greenpeace Brasil. “De certa maneira isso é um reflexo da
visão ambiental do atual governo, que ao invés de ver no Meio Ambiente
uma oportunidade, vê nele um empecilho”, completa Astrini.
Parado desde 2012 no Congresso Nacional, o projeto foi designado para
uma comissão especial, que nunca foi criada. O assunto sofre forte
resistência por parte da bancada ruralista, que acredita que a
ratificação da proposta poderia aumentar os custos do agronegócio no
Brasil.
Um dos pontos mais polêmicos refere-se ao pagamento de royalties a
países pela repartição de benefícios aos detentores de conhecimentos
tradicionais associado ao uso de recursos genéticos oriundos da
biodiversidade, como povos indígenas e comunidades tradicionais. “O
objetivo central do protocolo é aumentar a proteção sobre as reservas
naturais do planeta e, para isso, deve criar uma série de regras para
controlar a utilização dos recursos, estabelecendo, inclusive regras
econômicas. Isso vai no caminho do que precisa ser feito no mundo todo e
precisamos participar desta discussão”, observa Astrini.
O Brasil concentra aproximadamente 20% de toda a biodiversidade do
planeta. A regulação contribuiria para o combate a biopirataria, com
ganhos no campo da ciência e também para as populações tradicionais, que
teriam seus saberes reconhecidos e valorizados.
Outro ponto importante do protocolo é o plano estratégico de
preservação, que aumenta as áreas terrestres e marítimas a serem
protegidas no planeta. As regiões terrestres protegidas passariam de 10%
para 17% e as zonas marítimas de proteção ambiental passaria de 1% para
10% de seu total. O próximo encontro dos signatários da CDB será na 12ª
Conferência das Partes (COP-12) da CDB, em Pyeongchang, República da
Coréia, de 6 a 17 de outubro deste ano.
Fonte: Greenpeace.
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