O papel do urbanismo na construção de uma cidade mais democrática,
acessível e menos desigual foi o tema da primeira mesa hoje (31), no
segundo dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014. Para
a sul-africana Rene Uren, que é conselheira da cooperação alemã para o
desenvolvimento sustentável na área de prevenção de crime e da violência
na África do Sul, se a comunidades oferecer dignidade, infraestrutura,
equipamentos sociais e serviços básicos, a presença policial não precisa
ser ostensiva.
"As moradias feitas pelo governo [sul-africano]
têm cerca de 20 metros quadrados, sem paredes internas, que abrigam
muitas vezes famílias de oito pessoas", explicou ao citar que as
condições precárias contribuem para a proliferação de gangues e
assassinatos. "Na minha comunidade 33 mil pessoas moram em uma área
planejada para 3 mil pessoas. Temos uma média de dez mortes a cada 11
dias", a maioria de adolescentes, ressaltou.
Um dos fundadores do
Observatório de Favelas, que desenvolve trabalhos sociais na periferia
do Rio de Janeiro, Jailson de Sousa acredita que as políticas públicas
de segurança aplicadas em favelas tem como eixo a repressão e a polícia
atua apenas para combater a criminalidade. A lógica de guerra e combate
está arraigada nos policiais que entram para a corporação, argumentou
ele. “Eles não querem ser mediadores de conflitos, trabalhar a pé",
disse. "Precisamos construir um modelo de segurança que incorpore mais a
população local que veja a segurança como um direito do cidadão".
A
antropóloga Paula Miraglia, especialista em temas como prevenção da
violência, segurança pública e urbanismo, acredita que um dos desafios
das cidades hoje é promover a conexão entre a periferia e o centro. Para
ela, a violência é resultado das desigualdades estruturais que ainda
não foram superadas no país e de um modelo de desenvolvimento que não
considera a segurança como um direito, mas como um privilégio garantido
pelo setor privado. "As cidades brasileiras não podem ser pensadas como
negócio, " defendeu ela."Temos uma das maiores populações carcerárias do
mundo e ainda assim a violência não para de crescer", disse.
"É
necessário ter um modelo de crescimento que agregue e beneficie o
conjunto das cidades, que não seja excludente", disse. Para a
antropóloga, cidades mal planejadas geram e perpetuam desigualdades e
consequentemente a violência. "Belo Monte virou uma grande cracolândia",
comentou ao citar a construção da Hidrelétrica de Belo Monte como
exemplo de grandes empreendimentos que provocam impactos negativos nas
cidades pela falta de planejamento.
CEPRO –
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