Relatório mostra como países mais poluidores (o Brasil entre
eles) podem baixar drasticamente a concentração de carbono em suas
atividades até 2050.
Enquanto nós e o mundo acompanhávamos a Copa do Mundo, um relatório
elaborado pelo Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Relações
Internacionais (Iddri, na sigla em francês) e pela Rede de Soluções do
Desenvolvimento Sustentável (SDSN, na sigla em inglês), que conta com a
participação do economista Jeffrey Sachs, foi entregue ao
secretário-geral da ONU, Ban-Ki Moon. O documento mostrou pela primeira
vez como os 15 países mais poluidores do mundo (o Brasil entre eles)
podem baixar drasticamente a concentração de carbono em suas atividades
até 2050 e, com isso, contribuir para que a temperatura do planeta não
aumente 2 graus centígrados.
O relatório, que ainda não é definitivo, tem o título Pathways to Deep Decarbonization
(algo como “Caminhos para Descarbonização Profunda”) e é a primeira
iniciativa de cooperação global a traçar soluções para diminuir a
emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Esse documento é resultado do trabalho de 15 equipes de
pesquisadores, representando as 15 nações que mais emitem GEE: África do
Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados
Unidos, França, Índia, Indonésia, Japão, México, Reino Unido e Rússia.
Estas equipes trabalharam para responder a seguinte pergunta: “O que
falta fazer para chegar a 2050 com chance de manter o crescimento da
temperatura global em menos de 2oC, sem emitir mais de 1,6 toneladas de
carbono, em média, contra as 5,2 toneladas de hoje?”
O Iddri e a SDSN indicaram ainda três pilares sobre os quais a
resposta de cada país devia ser trabalhada, pois são as matrizes em que
as emissões globais mais têm crescido:
- Aumento da eficiência e da responsabilidade no consumo de energia;
- Descarbonização do setor elétrico, com investimentos em fontes renováveis e nuclear e em tecnologias de sequestro de carbono;
- Desenvolvimento de biocombustíveis, veículos elétricos, células de
hidrogênio e outras tecnologias que reduzam as emissões do setor de
transportes.
Embora sejam pilares comuns, as respostas dadas pelos países não
foram idênticas, pois cada nação possui particularidades específicas e
prioridades diferentes.
Os projetos de alguns países
A China, país altamente industrializado e dependente do carvão, optou
por desenhar um caminho de modernização do parque fabril, com a
implementação de tecnologia de captura e armazenamento de carbono.
A Indonésia, cujas emissões vêm principalmente do desmatamento e das
queimadas, propôs uma melhor gestão do uso da terra e o manejo
sustentável das florestas. Os pesquisadores indonésios relataram que há
grandes áreas degradadas que podem ser recuperadas para atividades
econômicas ou para o plantio de culturas para biocombustíveis, reduzindo
a pressão sobre a floresta em pé.
Os Estados Unidos, com sua enorme classe média de forte poder
aquisitivo, sinalizam com programas de eficiência energética e de
padrões mais altos (ou de menor quantidade de poluentes) nos
combustíveis.
A África do Sul pretende investir em eficiência energética na indústria, nos veículos elétricos e nos biocombustíveis.
Os relatórios do Brasil, da Alemanha e do México ainda não foram
apresentados. Em nosso país, os trabalhos estão sendo coordenados pelo
professor Emílio La Rovere, do Coppe/UFRJ. E as atividades têm a
participação da SDSN Brasil, lançada em março de 2014, com o apoio de
várias organizações, entre as quais o Instituto Ethos.
Conclusões
Os especialistas concluem, entre outras coisas que:
- De todos os setores estudados, os dois que apresentam mais desafios
para uma profunda descarbonização são o de transporte de carga e o de
processos industriais, que ainda precisam ser aprofundados;
- Essa descarbonização profunda depende, em larga escala, da
capacidade de entrega nos próximos anos de novas tecnologias de baixo
carbono que ainda estão em desenvolvimento. Algumas tecnologias em
áreas-chave, como armazenamento de energia, ainda precisam de
desenvolvimento.
Entretanto, a conclusão mais importante é que, sem um compromisso de
longo prazo – até 2050 – os países não conseguirão firmar acordos de
curto e médio prazos, indispensáveis para que a humanidade chegue ao
meio do século sem atingir os 2oC de aumento na temperatura do planeta.
Isso significa limitar as emissões a 1.000 GtCO2e até o final do
século, condição para termos dois terços de chance de mantermos o
aquecimento global em até 2oC em 2100.
Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.
Fonte: Instituto Ethos.
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