O planeta está desperdiçando água em uma escala colossal, de acordo
com a ONU. Mais de 80% da água utilizada na Terra não é nem coletada nem
tratada – o que equivale ao planeta deixar as torneiras abertas e as
pias com o ralo destampado. Esta e outras realidades igualmente
preocupantes foram apresentadas para aproximadamente 35 mil pessoas de
180 países no Fórum Nacional das Águas, uma reunião realizada a cada
três anos, que já ouviu os mais perturbadores relatos já feitos sobre o
estado dos rios, lagos e aquíferos do mundo.
De acordo com um novo
estudo apresentado no Fórum, na França, espera-se que a demanda por
água cresça em até 55% nas próximas quatro décadas. O Framing the Water Reform Challenge,
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
aponta que a rápida urbanização, as mudanças climáticas e as mudanças na
economia global estão colocando cada vez mais pressão no abastecimento
de água. Em aproximadamente 40 anos, mais de 40% da população mundial –
3,9 bilhões de pessoas – estarão sujeitas a viver em áreas ribeirinhas
sob severo “estresse hídrico”. A ONU alerta que isso também poderá ser
sentido em partes da Europa, afetando até 44 milhões de pessoas até
2070.
Anthony Cox, líder do programa realizado pela OCDE disse que
o planeta está passando por uma “crise” de água. Ele adicionou que:
“Mais pessoas nas cidades agora não têm acesso a água do que na década
de 1980. Em países em desenvolvimento, particularmente, há um enorme
custo econômico e social nisso”. Desde 1900, mais de 11 milhões de
pessoas morreram por causa da seca, de acordo com a ONU, e mais de dois
bilhões foram afetadas por isso – mais do que por qualquer outro risco
natural.
A OCDE clama por uma “urgente reforma” no gerenciamento
da água e sugere o uso de meios econômicos, como impostos, tarifas e
transferências, para encorajar uma maior “eficiência de água”.
Se o
mundo pudesse enfrentar os desafios da natureza sem usar tecnologias
que desperdicem água, como os biocombustíveis, seria uma grande mudança.
A água sustenta todos os aspectos do desenvolvimento; é o único meio
pelo qual todas as crises podem ser tratadas em conjunto. Isso deveria
ser visto como um elemento explícito em qualquer tomada de decisão.
Um
relatório da ONU, recentemente lançado, alerta que um crescimento sem
precedentes pela demanda de água está ameaçando o desenvolvimento global
e exacerbará a desigualdade entre países, áreas e regiões.
“Administrando a Água sob Incerteza e Risco” mostra que, enquanto se
espera que 86% da população em regiões em desenvolvimento tenham melhor
acesso a água própria para consumo até 2015, ainda há aproximadamente um
bilhão de pessoas sem acesso a isso e, nas cidades, o número tem
crescido.
A administração dos recursos hídricos não pode mais ser
vista como uma questão local; tem que ser tratada como uma questão
global. Água não é só aquilo que usamos para beber, para nos lavar, ou
para irrigar; ela também está nos produtos que comemos, consumimos e
usamos. Isto nos dá uma perspectiva totalmente diferente em relação à
água. Ela é o centro de políticas comerciais, e uma nação, ou uma
corporação, pode ter um impacto na falta de água em outro lugar.
O
alerta serve de apoio à análise da Royal Academy of Engineering, que
descobriu que a Grã-Bretanha e outros países desenvolvidos dependem
fortemente da importação de água oculta ou “virtual” de lugares
propensos a secas e escassez. Num relatório de 2010, eles estimavam que
dois terços de toda a água que a Grã-Bretanha precisa vêm embutidos em
comida importada, produtos industrializados e roupas, como algodão. Em
2008, um estudo publicado pelo WWF revelou que 60% do rastro de água da
Grã-Bretanha é sentido fora do Reino Unido. Ashok Chapagain, consultor
sênior da WWF para questões de água, disse: “A escassez de água afeta
pelo menos 2,7 milhões de pessoas em 201 bacias fluviais pelo menos um
mês por ano. O comércio internacional e a globalização da cadeia de
fornecimento fazem com que a escassez de água seja uma questão global”.
Entretanto,
não se espera que a necessidade diminua. Cada vez mais, recursos
hídricos subterrâneos têm sido explorados para atender à crescente
demanda e, sob o que o Relatório da ONU chamou de uma “revolução
silenciosa”, esse processo triplicou nos últimos 50 anos. A aquisição
transnacional de regiões em que países adquirem terras fora de sua
jurisdição para ter acesso a água, aumentou de forma alarmante nos
últimos anos.
* Olcay Unver é coordenador do Programa Mundial de Avaliação da Água, da ONU.
Fonte: Eco 21
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