Ação de combate ao fogo é criada no Cerrado para conscientizar população e já apresenta reflexos positivos
O
ano de 2012 nem terminou e o número de queimadas registrado no País já
ultrapassou os 32.064 focos de incêndio acumulados no ano passado, de
acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A
situação é ainda pior na região do bioma Cerrado, que compreende
principalmente o Distrito Federal e os estados de Goiás, Tocantins, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e
Piauí. Em 2011, foram registrados 22.537 focos de incêndio no Cerrado,
sendo que até o dia 20 de agosto deste ano, já foram detectadas 39.892
queimadas, um aumento de 83%.
Com base nos dados do INPE, esses
números alarmantes ficam ainda pior quando se faz uma previsão total
para o ano de 2012 no Brasil, na qual se estima que serão registrados
79.677 focos de incêndio de janeiro a dezembro, o que representa um
aumento de aproximadamente 140%, com relação a 2011.
De acordo com
o coordenador de Emergências Ambientais do ICMBio, Christian Berlinck,
os incêndios naturais ocorrem por causa de raios, que normalmente,
precedem as chuvas. “Assim, a própria chuva ajuda a apagar os focos de
fogo evitando que eles tomem grandes proporções”, afirma. Segundo ele, a
maioria dos incêndios na época das secas é causada pelas próprias
pessoas da região. “Os incêndios podem ser colocados por muitos motivos,
principalmente para limpeza de área para agricultura e renovação de
pastagem, porém como a vegetação fica muito seca, o fogo espalha-se
muito rápido, fugindo do controle”, destaca.
Berlinck afirma que o
fogo em uma unidade de conservação traz grandes prejuízos para a
população e para a região. “Podemos destacar a perda de biodiversidade,
redução qualitativa e quantitativa da água, emissão de gases com
potencial para agravar o aquecimento global, perda de nutrientes do
solo, erosão, morte de animais e alteração da vegetação”.
Como
forma de minimizar o problema, a Reserva Natural Serra do Tombador, uma
das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do
Cerrado, localizada em Cavalcante (GO), criou neste ano uma brigada
voluntária comunitária de combate a incêndios.
A Reserva, criada e
administrada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, foi
pioneira na ação na região de Cavalcante. De acordo com a administradora
da Reserva, Daniele Gidsicki, a experiência tem sido bastante positiva.
“Nós unimos esforços com aqueles que estavam interessados em fazer algo
a mais pela região e o retorno foi ótimo. Tivemos uma boa aderência e
estamos percebendo que a população local está mais conscientizada”,
explica.
Daniele conta que, após sua criação em maio deste ano, a
brigada já foi chamada duas vezes: na primeira não foi preciso ir até o
local do incêndio, pois o fogo foi controlado. Na segunda, ocorrida no
dia 23 de agosto, a brigada agiu o mais rápido possível, o que fez com
que o fogo não chegasse até a Reserva. “A equipe está de parabéns. A
mobilização foi eficiente impedindo que a Reserva sofresse a ação do
fogo”.
Segundo a administradora da Reserva, esse cenário de
conservação contrasta com o ano passado, quando foram registrados dois
grandes incêndios, sendo que um deles, ocorrido em setembro, atingiu
cerca de 80% da extensão da RPPN. “Acreditamos que, embora a época das
secas ainda não tenha terminado, esse já é um reflexo positivo da
conscientização da população local e do esforço conjunto para preservar a
natureza”, conclui.
A capacitação dos voluntários da brigada foi
realizada em parceria com a Coordenação Geral de Proteção Ambiental do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGPro/ICMBio).
Segundo
Berlinck, esse tipo de ação de prevenção e combate a incêndios
florestais dificilmente é realizadas de forma isolada. “O Governo
Federal sozinho não consegue fazer frente a eventos difusos e com
diversas causas, precisa do engajamento da sociedade civil. Felizmente o
ICMBio e a Fundação Grupo Boticário estão construindo uma parceria
sólida e integrada para apoio mútuo nas ações de prevenção e combate a
incêndios”, completa.
Fogo “colocado”
De
acordo com Christian Berlinck, é preciso solicitar autorização para
qualquer queima de vegetação e fala das medidas de controle. “Além
disso, a pessoa deve aceirar a área, acompanhar a queimada, precisa ter
água, abafadores, ferramentas de corte para controlar eventuais saídas
de controle desse fogo. Existem diversas técnicas de queima controlada.”
Outra
medida adotada é fazer aceiros, que são faixas em que o capim é cortado
para evitar que o fogo se alastre além daquele ponto. “Os incêndios são
risco não só para animais e vegetação nativa, mas para as próprias
pessoas. O combate ao fogo exige treinamento e equipamentos adequados”,
explica.
Proteção da biodiversidade
A
administradora da Reserva Natural Serra do Tombador explica que a
formação da brigada voluntária faz parte de um programa mais amplo da
Reserva de manejo do fogo, que inclui outras capacitações, ações de
sensibilização da comunidade, monitoramento, pesquisa, entre outros. “O
nosso objetivo é reduzir o risco de incêndios que possam comprometer a
biodiversidade do local, já que a Reserva foi criada justamente para
conservar a natureza ali presente, além de garantir a segurança das
pessoas e a manutenção da infraestrutura”, afirma Gidsicki.
A
Reserva Natural Serra do Tombador é a maior RPPN do estado de Goiás, com
8,7 mil hectares. Ela está localizada ao norte goiano, a cerca de 90 km
do centro de Cavalcante, no sentido para Minaçu. Em linha reta, a
Reserva se encontra a 24 km do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
mas engloba formações vegetais, relevo e componentes da fauna e flora
diferentes das existentes no Parque. “A RPPN também tem amostras de
quase todos os tipos de ambientes característicos do Cerrado, o que
reforça sua importância na conservação do bioma, complementa Gidsicki”.
Fonte: envolverde
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