sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O respeito à diversidade na educação


A Lei nº 11.645, de 2008, obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena em sala de aula. O objetivo, segundo o texto da legislação, é “resgatar as contribuições desses povos nas áreas social, econômica e política”. Para o ambientalista e fundador do Instituto Arapoty, Kaká Werá, fazer este resgate histórico vai além da transmissão de informação aos alunos. “É um reconhecimento de valores e de nossa origem, para formar um cidadão que respeita a diversidade”, disse.

Werá, que é de origem caiapó, afirmou que muitas escolas desconhecem a existência dessa lei e que, por isso, não agregam o ensino da cultura indígena na grade curricular. “E quando agregam, acabam pecando no modo como isso é feito. Transmitir a imagem do índio do século XVI, por exemplo, não é uma maneira de inserir a diversidade na escola. É preciso mostrar ao aluno o índio do século XXI. Enquanto isso não acontecer, ainda teremos índices muito fortes de preconceito na sociedade”, ressaltou.

A inserção de conceitos indígenas nas escolas ajudará, segundo Werá, na aceitação do índio como cidadão. “É curioso ouvir comentários como ‘ele se formou em medicina e deixou de ser índio’. Ninguém deixa de ser índio. A nossa sociedade, ainda hoje, vê os povos indígenas com olhos de séculos atrás. Parece que fomos congelados”, destacou.

Uma maneira de colocar em prática tal inserção é buscar formas dos alunos se sentirem pertencentes a esse universo. De acordo com uma pesquisa recente realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, 63% dos brasileiros têm, em sua genética, descendência indígena. O ambientalista afirma que ensinar essas constatações aos estudantes é aproximá-los da origem da nação e, com isso, criar um respeito maior pela ancestralidade e pelos costumes. “Os brasileiros têm hábitos provenientes da cultura indígena, como tomar banho todos os dias, viver em uma sociedade cooperativa, comer alimentos da terra, usar produtos de beleza com bases em ervas e plantas, entre outras curiosidades. Por que não ensinar isso em sala de aula?”, disse.

Outro ponto importante levantado por Werá sobre o respeito à diversidade nas escolas é a adaptação da criança indígena à educação conservadora herdada da Europa. “Há um trabalho já implantado na maior parte das aldeias intitulado etnoeducação, ou educação bicultural. Educadores, com uma formação adequada, vão às aldeias ensinar conceitos de uma grade curricular tradicional, respeitando os códigos daquela cultura. Muito diferente do que esses povos sofreram quando os europeus tiveram a intenção de destruir a cultura local ao chegarem aqui. O educador tem a função de identificar a cultura e utilizá-la a favor da educação”, explicou.

A etnoeducação é um conceito previsto na Constituição Federal de 1988. “A Constituição garantiu aos indígenas o direito a uma educação não mais voltada para a assimilação, mas sim que fosse capaz de respeitar e levar em conta suas especificidades socioculturais. Assim, o Estado tem tentado orientar-se não mais pela perspectiva que veicula os indígenas como “frágeis” e fadados ao “desaparecimento”, mas sim pela ideia de que são populações cujos modos de vida e os processos próprios de aprendizagem devem ser respeitadas e conjugados com a instituição escolar”, explanou o antropólogo e pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios – CESTA da Universidade de São Paulo – USP Augusto Ventura dos Santos.

Contudo, segundo o pesquisador, mesmo com o conceito já existente, o campo da educação escolar indígena ainda tem pela frente uma série de desafios a serem enfrentados. “Levar em conta toda complexidade dos procedimentos indígenas de conhecimento e de vida é ainda um desafio para a construção de políticas públicas desse âmbito”, afirmou. “Uma hipotética escola indígena diferenciada que inclua os conhecimentos indígenas apenas como conteúdos de disciplinas escolares usuais (Geografia, História, Matemática, etc) não estará efetivamente respeitando esse tipo de conhecimento; ela, na verdade, estaria empobrecendo esses modos de conhecer, reduzindo-os a simples matérias ou assuntos do sistema de conhecimento escolar-científico.”

A complexidade do trato dessas questões, para o pesquisador, tem que ser analisada com cuidado para haver a junção desses dois regimes de conhecimento tão diferentes. “Seria preciso verificar em que medida esses distintos regimes de conhecimento – a escola e os procedimentos de saber indígena – podem efetivamente conviver e quais os efeitos dessa convivência para um e para o outro”, completou.



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