A Lei nº 11.645, de 2008, obriga o ensino de história e cultura
afro-brasileira e indígena em sala de aula. O objetivo, segundo o texto
da legislação, é “resgatar as contribuições desses povos nas áreas
social, econômica e política”. Para o ambientalista e fundador do
Instituto Arapoty, Kaká Werá, fazer este resgate histórico vai além da
transmissão de informação aos alunos. “É um reconhecimento de valores e
de nossa origem, para formar um cidadão que respeita a diversidade”,
disse.
Werá, que é de origem caiapó, afirmou que muitas escolas desconhecem a
existência dessa lei e que, por isso, não agregam o ensino da cultura
indígena na grade curricular. “E quando agregam, acabam pecando no modo
como isso é feito. Transmitir a imagem do índio do século XVI, por
exemplo, não é uma maneira de inserir a diversidade na escola. É preciso
mostrar ao aluno o índio do século XXI. Enquanto isso não acontecer,
ainda teremos índices muito fortes de preconceito na sociedade”,
ressaltou.
A inserção de conceitos indígenas nas escolas ajudará, segundo Werá,
na aceitação do índio como cidadão. “É curioso ouvir comentários como
‘ele se formou em medicina e deixou de ser índio’. Ninguém deixa de ser
índio. A nossa sociedade, ainda hoje, vê os povos indígenas com olhos de
séculos atrás. Parece que fomos congelados”, destacou.
Uma maneira de colocar em prática tal inserção é buscar formas dos
alunos se sentirem pertencentes a esse universo. De acordo com uma
pesquisa recente realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG, 63% dos brasileiros têm, em sua genética, descendência indígena. O
ambientalista afirma que ensinar essas constatações aos estudantes é
aproximá-los da origem da nação e, com isso, criar um respeito maior
pela ancestralidade e pelos costumes. “Os brasileiros têm hábitos
provenientes da cultura indígena, como tomar banho todos os dias, viver
em uma sociedade cooperativa, comer alimentos da terra, usar produtos de
beleza com bases em ervas e plantas, entre outras curiosidades. Por que
não ensinar isso em sala de aula?”, disse.
Outro ponto importante levantado por Werá sobre o respeito à
diversidade nas escolas é a adaptação da criança indígena à educação
conservadora herdada da Europa. “Há um trabalho já implantado na maior
parte das aldeias intitulado etnoeducação, ou educação bicultural.
Educadores, com uma formação adequada, vão às aldeias ensinar conceitos
de uma grade curricular tradicional, respeitando os códigos daquela
cultura. Muito diferente do que esses povos sofreram quando os europeus
tiveram a intenção de destruir a cultura local ao chegarem aqui. O
educador tem a função de identificar a cultura e utilizá-la a favor da
educação”, explicou.
A etnoeducação é um conceito previsto na Constituição Federal de
1988. “A Constituição garantiu aos indígenas o direito a uma educação
não mais voltada para a assimilação, mas sim que fosse capaz de
respeitar e levar em conta suas especificidades socioculturais. Assim, o
Estado tem tentado orientar-se não mais pela perspectiva que veicula os
indígenas como “frágeis” e fadados ao “desaparecimento”, mas sim pela
ideia de que são populações cujos modos de vida e os processos próprios
de aprendizagem devem ser respeitadas e conjugados com a instituição
escolar”, explanou o antropólogo e pesquisador do Centro de Estudos
Ameríndios – CESTA da Universidade de São Paulo – USP Augusto Ventura
dos Santos.
Contudo, segundo o pesquisador, mesmo com o conceito já existente, o
campo da educação escolar indígena ainda tem pela frente uma série de
desafios a serem enfrentados. “Levar em conta toda complexidade dos
procedimentos indígenas de conhecimento e de vida é ainda um desafio
para a construção de políticas públicas desse âmbito”, afirmou. “Uma
hipotética escola indígena diferenciada que inclua os conhecimentos
indígenas apenas como conteúdos de disciplinas escolares usuais
(Geografia, História, Matemática, etc) não estará efetivamente
respeitando esse tipo de conhecimento; ela, na verdade, estaria
empobrecendo esses modos de conhecer, reduzindo-os a simples matérias ou
assuntos do sistema de conhecimento escolar-científico.”
A complexidade do trato dessas questões, para o pesquisador, tem que
ser analisada com cuidado para haver a junção desses dois regimes de
conhecimento tão diferentes. “Seria preciso verificar em que medida
esses distintos regimes de conhecimento – a escola e os procedimentos de
saber indígena – podem efetivamente conviver e quais os efeitos dessa
convivência para um e para o outro”, completou.
Fonte: Blog Educação.
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