Nessa quinta-feira (27), dois respeitados centros científicos, a
Sociedade Real de Londres e a Academia Nacional de Ciências dos Estados
Unidos, divulgaram uma publicação na qual afirmam que “agora é mais
certo do que nunca, baseado em muitas linhas de evidência, que os seres
humanos estão mudando o clima da Terra”.
O documento, Climate Change: Evidence and Causes (Mudanças
Climáticas: Evidências e Causas), aponta que as alterações no clima são
uma das questões que definem a nossa época, e que, apesar de já serem
inevitáveis, mais esforços são necessários para reduzir as emissões de
gases do efeito estufa para evitar impactos severos nos ecossistemas e
na vida humana.
O texto também ressalta que os governos não podem adotar uma atitude
passiva em relação às mudanças climáticas. “Cidadãos e governos [...]
podem esperar que mudanças ocorram e aceitar as perdas, danos e
sofrimento que surgirem. [Ou] eles podem se adaptar às mudanças reais e
esperadas tanto quanto possível”, afirma o documento.
As instituições enfatizam ainda que, apesar da desaceleração do
aquecimento global ocorrida nos últimos 15 anos, não se pode negar a
veracidade das mudanças climáticas, até porque há explicações para essa
desaceleração e outras evidências que comprovam as transformações no
clima.
O que costuma se chamar de ‘hiato’ ou ‘pausa’ no aquecimento global é
o fato de que, nos últimos 15 anos, o aumento das temperaturas
desacelerou. Simulações sugerem que o aquecimento deveria ter continuado
em um ritmo médio de 0,21ºC por década entre 1998 e 2012, mas o que se
observou é que o fenômeno durante esse período foi de apenas 0,04ºC por
década.
“Tendências climáticas relevantes não devem ser calculadas com
períodos de menos de 30 anos. Uma desaceleração em curto prazo no
aquecimento da superfície da Terra não invalida nossa compreensão de
mudanças de longo prazo nas temperaturas globais decorrentes de
alterações induzidas pelo ser humano nos gases do efeito estufa.”
Os acadêmicos informaram ainda que a concentração de dióxido de
carbono na atmosfera é a maior em pelo menos 800 mil anos e 40% mais
alta o que era no século XIX. Além disso, a velocidade do aquecimento
global está agora dez vezes mais acelerada do que no final da última Era
do Gelo, o que representa o período mais rápido de mudanças de
temperatura em escala global na história. Isso deve fazer o mundo
aquecer entre 2,6ºC e 4,8ºC até o final deste século.
“As evidências são claras. Contudo, devido à natureza da ciência, nem
todos os detalhes são totalmente estabelecidos ou completamente
confirmados. Nem todas as questões pertinentes foram ainda respondidas.”
“Algumas áreas de intenso debate e pesquisas em curso incluem a
ligação entre o calor dos oceanos e a taxa de aquecimento, estimativas
de quanto aquecimento esperar no futuro e conexões entre mudanças
climáticas e eventos climáticos extremos”, conclui o documento.
Ondas de calor
Ajudando a esclarecer algumas dessas dúvidas, cientistas da
Austrália, Canadá e Suíça apresentaram um estudo nesta quarta-feira (26)
que indica que, apesar na desaceleração do aquecimento global nos
últimos anos, os extremos de calor aumentaram em quase todas as partes
do mundo.
O relatório sugere que as áreas da superfície da Terra com 10, 30 ou
50 dias de extremo calor por ano aumentaram desde 1997 em relação à
média anterior, algumas vezes mais do que dobrando.
Os maiores ganhos ocorreram no Ártico e nas latitudes médias. “Não
apenas não há pausa na evolução dos extremos diários mais quentes na
superfície, mas eles também não diminuíram em relação ao registro de
observação.”
Isso é particularmente preocupante porque os extremos são o que mais
importam para a agricultura, vida selvagem e seres humanos, já que podem
aumentar as taxas de óbito, especialmente entre os idosos, prejudicar
colheitas e tornar o fornecimento de água e energia mais difícil.
Alguns exemplos são a onda de calor na Rússia em 2010, que matou mais
de 55 mil pessoas, a onda de calor na Europa em 2003, que matou 66 mil
pessoas, e o recorde de temperatura de 53,3ºC no Paquistão em 2010, o
mais alto da Ásia desde 1942.
Embora os pesquisadores ainda não saibam explicar exatamente por que
os extremos de calor continuaram a aumentar apesar do hiato, uma
hipótese é que os oceanos tenham absorvido o calor da atmosfera e
reduzido o aquecimento global geral, mas a terra continuou exposta aos
extremos. Segundo eles, não há evidências de que esse aumento nos
extremos seja temporário.
“Não há razão para esperar que [a tendência de mais extremos de
calor] vá parar”, observou a autora Sonia Seneviratne, do Instituto para
Ciência Atmosférica e Climática de Zurique, à Reuters.
Fonte: CarbonoBrasil.
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