domingo, 23 de fevereiro de 2014

A escola além dos muros


A Carta das Cidades Educadoras, de 2004, assevera que as cidades, de quaisquer tamanhos, dispõem de “inúmeras possibilidades educadoras” e oferecem “importantes elementos para uma formação integral”. Já a Declaração das Cidades Educadoras para o Desenvolvimento Sustentável, documento de 2011, coloca como dever das cidades educadoras oferecer às escolas oportunidades e recursos educativos além do contexto formal de educação e ensino, de modo a proporcionar experiências “pedagogicamente mais eficientes porque desenvolvidas em ambiente real”.

Coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental – EMEF Olavo Pezzotti, de São Paulo, Elisa Mirian Katz acredita que o diálogo entre escola e espaço público e a apropriação desse espaço pela escola são experiências que enriquecem a construção do conhecimento. Recentemente, os alunos do 5º ano da EMEF participaram do projeto “Escola na Praça”, no qual uma vez por semana as aulas eram realizadas no Parque Linear das Corujas.

A coordenadora relata que a possibilidade dos alunos estarem em outro local, que faz parte da região onde a escola está situada, conversando com pessoas de diferentes áreas do conhecimento, possibilitou conexões entre o que se aprende na escola e a vida. “O que a escola ensina tem que ter validade fora, para o mundo, para a vida. Tem que ter sentido”, diz. Katz também conta que, de maneira informal, nas reações dos alunos, foi possível perceber um valor de pertencimento ao lugar e a cidade, e que essas ações trazem um outro tipo de engajamento, de formação cidadã.

A professora do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cleide Borges Reis, de Ubiratã – PR, Silvana Rodrigues Peres Lemes, assente: “É interessante estar fora das quatro paredes porque você aproveita para observar a criança. Você percebe que, às vezes, se há algo que ela não está desenvolvendo na sala de aula, no espaço aberto ela desenvolve com mais facilidade”.

Para a professora, que no ano passado realizou atividades com os alunos em áreas públicas da cidade, como a praça Vereador Horácio José Ribeiro, por exemplo, estar em um ambiente mais aberto permite conhecer comportamentos das crianças que dentro da sala de aula o educador não consegue observar. “Um ambiente diferente promove interações diferentes”, diz.

As educadoras acreditam que as aulas nesse formato deveriam fazer parte do cotidiano da educação. Katz explica que a instituição de ensino ficou marcada como um local que quase à parte da vida real e que o ideal seria que essa separação não existisse. A coordenadora afirma que não só é desejável como é necessário desenvolver práticas para que o espaço escolar transcenda seus muros.

“O espaço da escola é um espaço muito importante socialmente, mas é um espaço entre parênteses, apartado da vida real. Não é automático que os alunos façam relações entre o que aprendem na escola e a vida real. É preciso que eles tenham vivências onde possam experimentar o conhecimento que circula na escola e na vida”, enfatiza.

Em sua obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin diz que “é preciso ter uma visão que possa situar o conjunto” e que “é necessário dizer que não é a quantidade de informações, nem a sofisticação em Matemática que podem dar sozinhas um conhecimento pertinente, é mais a capacidade de colocar o conhecimento no contexto”.

Colocar o conhecimento no contexto da vida dos alunos é um trabalho que demanda repensar o atual modelo de ensino e gestão educacional. O Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, nos princípios da escola educadora, diz que é preciso “uma nova forma de pensar e fazer educação, envolvendo múltiplos espaços e atores, que se estrutura a partir do trabalho em rede, da gestão participativa e da co-responsabilização.”

Lemes diz que qualquer conteúdo pode ser ensinado nos espaços públicos e acredita que é necessária uma mudança de pensamento por parte dos educadores para que sejam desenvolvidas mais ações de apropriação dessas áreas pelo ensino. “O professor deve vencer o medo de tirar o aluno da sala de aula. A responsabilidade é bem maior, pois dentro da escola o professor consegue contornar alguma situação imprevista, o que no espaço aberto é mais difícil”, explica.

Katz considera a questão complexa e concorda que os professores precisam se dispor a “pensar que suas propostas têm que ganhar vida no mundo”. Para a coordenadora, as condições para fazer isso também precisam estar mais garantidas. “É uma combinação entre professores que assumam para si essa ideia de que é preciso tornar o ensino mais vivo para que a aprendizagem se dê e de condições operacionais que animem as pessoas a utilizarem esses recursos, a utilizar a cidade como lugar de aprender”, considera.



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