A Carta das Cidades Educadoras,
de 2004, assevera que as cidades, de quaisquer tamanhos, dispõem de
“inúmeras possibilidades educadoras” e oferecem “importantes elementos
para uma formação integral”. Já a Declaração das Cidades Educadoras para o Desenvolvimento Sustentável,
documento de 2011, coloca como dever das cidades educadoras oferecer às
escolas oportunidades e recursos educativos além do contexto formal de
educação e ensino, de modo a proporcionar experiências “pedagogicamente
mais eficientes porque desenvolvidas em ambiente real”.
Coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental –
EMEF Olavo Pezzotti, de São Paulo, Elisa Mirian Katz acredita que o
diálogo entre escola e espaço público e a apropriação desse espaço pela
escola são experiências que enriquecem a construção do conhecimento.
Recentemente, os alunos do 5º ano da EMEF participaram do projeto
“Escola na Praça”, no qual uma vez por semana as aulas eram realizadas
no Parque Linear das Corujas.
A coordenadora relata que a possibilidade dos alunos estarem em outro
local, que faz parte da região onde a escola está situada, conversando
com pessoas de diferentes áreas do conhecimento, possibilitou conexões
entre o que se aprende na escola e a vida. “O que a escola ensina tem
que ter validade fora, para o mundo, para a vida. Tem que ter sentido”,
diz. Katz também conta que, de maneira informal, nas reações dos alunos,
foi possível perceber um valor de pertencimento ao lugar e a cidade, e
que essas ações trazem um outro tipo de engajamento, de formação cidadã.
A professora do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cleide Borges
Reis, de Ubiratã – PR, Silvana Rodrigues Peres Lemes, assente: “É
interessante estar fora das quatro paredes porque você aproveita para
observar a criança. Você percebe que, às vezes, se há algo que ela não
está desenvolvendo na sala de aula, no espaço aberto ela desenvolve com
mais facilidade”.
Para a professora, que no ano passado realizou atividades com os
alunos em áreas públicas da cidade, como a praça Vereador Horácio José
Ribeiro, por exemplo, estar em um ambiente mais aberto permite conhecer
comportamentos das crianças que dentro da sala de aula o educador não
consegue observar. “Um ambiente diferente promove interações
diferentes”, diz.
As educadoras acreditam que as aulas nesse formato deveriam fazer
parte do cotidiano da educação. Katz explica que a instituição de ensino
ficou marcada como um local que quase à parte da vida real e que o
ideal seria que essa separação não existisse. A coordenadora afirma que
não só é desejável como é necessário desenvolver práticas para que o
espaço escolar transcenda seus muros.
“O espaço da escola é um espaço muito importante socialmente, mas é
um espaço entre parênteses, apartado da vida real. Não é automático que
os alunos façam relações entre o que aprendem na escola e a vida real. É
preciso que eles tenham vivências onde possam experimentar o
conhecimento que circula na escola e na vida”, enfatiza.
Em sua obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, o
sociólogo e filósofo francês Edgar Morin diz que “é preciso ter uma
visão que possa situar o conjunto” e que “é necessário dizer que não é a
quantidade de informações, nem a sofisticação em Matemática que podem
dar sozinhas um conhecimento pertinente, é mais a capacidade de colocar o
conhecimento no contexto”.
Colocar o conhecimento no contexto da vida dos alunos é um trabalho
que demanda repensar o atual modelo de ensino e gestão educacional. O
Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, nos princípios da
escola educadora, diz que é preciso “uma nova forma de pensar e fazer
educação, envolvendo múltiplos espaços e atores, que se estrutura a
partir do trabalho em rede, da gestão participativa e da
co-responsabilização.”
Lemes diz que qualquer conteúdo pode ser ensinado nos espaços
públicos e acredita que é necessária uma mudança de pensamento por parte
dos educadores para que sejam desenvolvidas mais ações de apropriação
dessas áreas pelo ensino. “O professor deve vencer o medo de tirar o
aluno da sala de aula. A responsabilidade é bem maior, pois dentro da
escola o professor consegue contornar alguma situação imprevista, o que
no espaço aberto é mais difícil”, explica.
Katz considera a questão complexa e concorda que os professores
precisam se dispor a “pensar que suas propostas têm que ganhar vida no
mundo”. Para a coordenadora, as condições para fazer isso também
precisam estar mais garantidas. “É uma combinação entre professores que
assumam para si essa ideia de que é preciso tornar o ensino mais vivo
para que a aprendizagem se dê e de condições operacionais que animem as
pessoas a utilizarem esses recursos, a utilizar a cidade como lugar de
aprender”, considera.
Fonte: Blog Educação.
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