Concluiu-se que as escolas de ensino médio não estão preparadas para
lidar com essa juventude em permanente processo de transformação, com
estilos próprios, que sente a necessidade de manifestar sua identidade,
que busca reconhecimento e autonomia e que dá grande importância à
dimensão lúdica: divertir-se, brincar, zoar.
Este ponto fez-me lembrar do aprender brincando, de estudar sim, mas
se divertir também, por que não? Existe a possibilidade de a escola não
ser tão “chata”. Inúmeras pesquisas e ferramentas a respeito do uso de
jogos como recursos para a aprendizagem já existem à disposição dos
professores. A WebQuest pode ser usada para engajar os alunos nas
tarefas e até mesmo uma simples produção de vídeo com auxílio de um
celular com câmera são formas de “brincar” com os assuntos que estão
sendo apreendidos.
Contudo, os jovens entrevistados reclamaram da falta de uso de
tecnologia pelos professores. Daí vem uma afirmação que tento
desmistificar sempre: muitos professores ainda acham que aluno de baixa
renda, proveniente de uma comunidade mais carente, estudante de escola
pública sem laboratório de informática não conhece computador, nem
Internet, nem celular com Internet.
Agora não sou mais eu a dizer isso, mas na pesquisa, essa sobre a
qual estamos falando, “todos” (sim, todos) os jovens participantes
utilizam a Internet e têm perfil no Facebook – Sim, esses jovens que
conhecem a tecnologia são de baixa renda -, porém, menos de 50% deles
usam Internet na escola. Em alguns casos, os professores nem conhecem ou
não sabem como funcionam essas novas tecnologias.
O que se pode concluir a partir dos resultados é que a escola acaba
por distanciar os adolescentes por não ser um ambiente para partilha,
para interação, para a criação, principalmente. As disciplinas
curriculares, no formato atual, dão ao estudante a sensação de que os
conteúdos são inúteis; eles sentem que não precisam aprender [decorar]
tudo aquilo.
O fato, que todos sabem e é redundante repetir, mas vou repetir, é
que o conhecimento não se constrói somente quando o jovem entra na sala
de aula, senta quieto na carteira e ouve o que o professor vai dizer.
Até chegar nesse ponto ele já pode ter ouvido de diversas formas a mesma
coisa porque hoje ele tem acesso à tecnologia e à informação de uma
maneira mais rápida e fácil do que era antigamente, mas ele não pode
falar a respeito antes que tenha a vez. A indisciplina ainda é colocada
como fator determinante para não organizar trabalhos em grupo, por
exemplo, que seria o momento ideal para a criatividade aflorar.
O mais incrível é que quando questionados sobre as suas expectativas
quanto à escola, os jovens da entrevista não querem algo de
extraordinário. Pedem apenas um espaço bem cuidado e seguro, professores
presentes, conteúdos que façam sentido, relações sociais estimulantes e
acesso à Internet.
Que as escolas precisam se adaptar e usar tecnologia, todos já
sabemos. Bem como sabemos que a culpa não é só do professor, mas de todo
um sistema de ensino que não é renovado há anos, portanto, não
acompanhou o ritmo da sociedade. No entanto, é preciso perder o medo de
não saber, de admitir que não sabe.
Eu lembro que no início do meu trabalho como coordenadora de Programa
Jornal e Educação algumas pessoas, desfavoráveis ao uso desse recurso
em sala de aula, quando conheciam as minhas oficinas de formação
indagavam: “Você acha que os professores não sabem ler? Você acha que
precisa ensinar os professores a lerem jornal?” Eu percebia aí um receio
em ter um meio de comunicação frequentando as aulas e a falta de
percepção a respeito da leitura de jornal, que não é um simples texto em
um papel, bem como não é uma atividade para a disciplina de Língua
Portuguesa (como ainda pensam muitos “gestores” de escolas). E até hoje
percebo a indiferença de muitos, que menosprezam o trabalho com mídia na
educação.
Ler textos jornalísticos em sala de aula é dar ao aluno a
oportunidade de descontruir a mídia, é encarar a sociedade da
informação, é questionar o que estão dizendo que eu preciso saber. É
claro que os professores sabem ler o texto no papel jornal, mas saberiam
ler a mídia com a toda a sua estrutura pensada para conquistar os olhos
do leitor? Explicar o que é uma Manchete para quem não é da área de
jornalismo é extremamente difícil, querer que as pessoas entendam que
notícia é uma coisa e reportagem é outra é uma missão quase impossível.
Daí alguém está lendo este texto e diz: “E daí, o que vai mudar na
minha vida saber disso. É tudo jornal!”. E eu respondo: Vão mudar os
seus olhos, os seus ouvidos e a sua mente quando se deparar com uma
matéria de televisão que tenta enganá-lo e direcioná-lo a ter uma
opinião que pode não ser a sua, como acontece neste vídeo.
Depois de assistir, vai pensar: por que não ajudar os jovens (os meus
filhos) nessa leitura? Eles sabem usar a Internet, mas, muitas vezes,
não sabem receber a informação e refletir sobre ela.
O que eu defendo é que quanto mais cedo o aluno encontrar na escola
uma extensão da sua vida, aquela em que ele vive, na qual se alimenta,
chora, ri, sente, sofre, ao invés de uma caixa fechada com frestas que
geram a vontade de sair e conviver com o que há fora, mais autonomia ele
terá para decidir o seu papel na sociedade.
Ele precisa conhecer a mídia, ler a mídia com “todos” os professores
conversando com ele sobre isso, e com todos os professores agindo
realmente em comunidade. A comunidade escolar só é construída se há
pessoas atuando em conjunto naquele espaço.
Se o aluno, desde os primeiros anos escolares, consegue fazer uma
leitura de jornal impresso, compreendendo a construção do fato (porque
fatos são construídos, notícias são construídas a partir da visão que o
repórter tem dos fatos), ciente de como a sua opinião é formada diante
daquilo, relacionando a informação do jornal com o que está ao seu
redor, ele percebe que a escola faz sentido porque ela está
permitindo-lhe falar; percebe que a escola gera conhecimento, portanto,
vale a pena estar ali.
Ficará mais fácil para o professor levar novos recursos tecnológicos
para as suas aulas porque seus alunos já estarão preparados para encarar
os meios de comunicação, e a escola poderá deixar de ser uma utopia.
(1) Os grupos focais foram compostos por jovens de
15 a 19 anos, de São Paulo e Recife, que ainda estudam ou abandonaram o
ensino médio, com renda familiar inferior a 2.500 reais.
Fonte: Adital.
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