Por Marcelo Barros
Nos últimos dias de janeiro,
realizou-se em Havana, Cuba, a 2ª reunião de cúpula da CELAC, Comunidade
de Estados da América Latina e Caribe. Sob a liderança do presidente
Raul Castro, coordenador atual dessa organização, reuniram-se 33 chefes
de Estado, além de embaixadores, chanceleres, ministros e estudiosos.
Ali representavam quase 600 milhões de pessoas, habitantes da América
Latina e Caribe. Ali tomaram consciência dos enormes problemas que
afetam o mundo e especificamente a América Latina.
No informe
apresentado no Fórum Econômico Mundial que começou em Davos na 4ª feira,
22 de janeiro, a OXFAM tinha advertido aos governos e empresários: a
desigualdade social aumentou descaradamente nos últimos quatro anos.
Atualmente, 85 pessoas no mundo possuem juntas a mesma riqueza de metade
da humanidade. Isso quer dizer que a metade da riqueza mundial está nas
mãos de menos de 1% da humanidade. A parcela da população mais rica
possui mais dinheiro que a metade da humanidade toda. Nos Estados
Unidos, desde 2009, o 1% mais rico acumulou 95% do crescimento total do
país e isso depois da crise. O patrimônio dos dez europeus mais ricos é
de 217 milhões de euros, quantia superior aos 200 milhões de euros,
custo das medidas aplicadas pela União Europeia entre os anos 2008 e
2010 para salvar as economias em crise e ajudar países à beira do
precipício. Isso significa que as ditas “medidas de austeridade”,
impostas pelos governos da Europa a seus cidadãos, estão prejudicando os
pobres e enriquecendo ainda mais os ricos. (Cf. La Vanguardia, jornal
de Barcelona, 21/ 01/ 2014, p. 22).
Na América Latina e Caribe, a
situação é um pouco melhor. A pobreza extrema atinge atualmente a 8% da
população latino-americana e chega a 18% no Caribe. O Haiti continua o
país mais pobre do continente e um dos dois mais empobrecidos e
explorados do mundo. Essa situação é escandalosa quando se sabe que o
continente tem uma das maiores quantidades de terras cultiváveis e
férteis do planeta. Além disso, embora não acreditemos na solução de
explorar o subsolo e destruir a natureza para gerar riquezas, é bom
saber que 65% das reservas de todo o lítio do mundo estão na Bolívia e
Peru, assim como as maiores reservas de estanho. O Brasil guarda uma das
mais ricas reservas de ferro, o Chile, de cobre. O México tem 42% das
minas de prata do mundo e assim por diante. Mas, tudo isso está servindo
para enriquecer empresas multinacionais e uma pequena elite que delas
se beneficiam e não resultam de modo algum em uma melhoria de vida para a
população do país, menos ainda para os trabalhadores explorados nessas
minas. Ao contrário, o colonialismo e a organização social e econômica
vigentes em muitos de nossos países aumentam a situação de pobreza
extrema e de desigualdade social.
Assim, os líderes da CELAC
viram claro: ou mudamos o modo de organizar a economia de nossos países
ou acentuamos as desigualdades e as injustiças. Segundo a ONU, os únicos
países do continente nos quais a pobreza diminuiu e as desigualdades
sociais foram reduzidas são os que seguem um caminho bolivariano: a
Venezuela, a Bolívia e o Equador. Os membros da CELAC se comprometeram
em continuar a luta contra a pobreza injusta, se declararam fortemente
favoráveis à libertação do povo de Porto Rico, até hoje, colônia dos
Estados Unidos, sem direito a ter seu governo e sua independência social
e política.
Pela primeira vez na história, temos um organismo
verdadeiramente eficaz na integração do continente e na justa
solidariedade entre nossos povos. Há décadas, Eduardo Galeano escreveu
“As veias abertas da América Latina” para denunciar a situação de
exploração e dependência que tínhamos em relação aos impérios do mundo.
Atualmente, a CELAC se reúne não para fechar as veias abertas aos países
amigos, mas para sanar a transfusão injusta de sangue e riqueza e para
possibilitar que sejamos um organismo vivo e sadio a testemunhar paz e
justiça no mundo.
Fonte: Brasil de fato
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