sábado, 15 de março de 2014

Debate no Rio marca centenário de Abdias Nascimento

da Agência Brasil

A professora Elisa Larkin Nascimento, viúva do escritor Abdias Nascimento e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), participa hoje (14), no Rio, de um debate sobre a democracia racial no Brasil, nos Estados Unidos e na África do Sul. Será das 10h às 13h, no Clube de Engenharia.

Além de homenagear o centenário de nascimento do escritor, o evento lembra os 50 anos do I Have a Dream , o histórico discurso do pastor e ativista político norte-americano Martin Luther King, contra o racismo e em favor da igualdade de direitos entre negros e brancos em seu país. O debate Democracia Racial: Os Objetivos Foram Atingidos também homenageará o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), líder da luta contra o apartheid (segregação racial) em seu país e Prêmio Nobel da Paz de 1993.

Escritor, jornalista, artista plástico, teatrólogo, ator, poeta e político, Abdias Nascimento (1914-2011) foi um dos maiores ativistas da luta pelos direitos humanos no Brasil e, especialmente, pela cidadania da população afrodescendente. Sua data de nascimento – 14 de março – é, desde 2009, por lei estadual, o Dia do Ativista no Rio de Janeiro.

Nascido na cidade de Franca (SP), Abdias começou a luta pela igualdade racial ainda estudante, na capital paulista, onde em 1936 foi preso por protestar contra a exigência de entrar em uma boate pela porta dos fundos, por ser negro. Em 1944, já vivendo no Rio, ele fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN). Iniciativa inédita e ousada, a companhia teatral formada por atores e atrizes negros teve no seu elenco, entre outros nomes, Ruth de Souza, Léa Garcia e Haroldo Costa.

Em 1947, Abdias Nascimento criou o jornal Quilombo, que lutava por medidas que haviam sido propostas na Assembleia Constituinte de 1945, como a questão da igualdade racial e a própria ideia de ações afirmativas. Eram questões que só bem mais tarde, no fim do século 20 e início do atual, viriam a ser concretizadas por meio de políticas públicas no Brasil.

Durante a ditadura militar implantada no país após o golpe de 1964, o ativista sofreu pressões e acabou se exilando nos Estados Unidos, a partir de 1968. De volta ao Brasil, Abdias Nascimento iniciou carreira política, militando no PDT, partido pelo qual se elegeu deputado federal (1983-1987) e se tornou senador da República, como suplente de Darcy Ribeiro, exercendo o mandato de 1991 a 1992 e de 1997 a 1999.
“Ele agiu em diversas áreas, artísticas, políticas e intelectuais, no sentido de promover a população afrodescendente e sua cultura e  os direitos que eram negados a essas duas matrizes por uma sociedade racista”, disse Elisa Larkin. "Abdias representa a primeira voz no século 20 que uniu a reivindicação e a defesa dos direitos humanos e civis dessa população ao direito dela de valorizar sua cultura e sua identidade própria”, acrescentou.

Abdias Nascimento morreu em 23 de maio de 2011, aos 97 anos, vítima de complicações decorrentes do diabetes. Em cumprimento a um desejo seu, o corpo foi cremado e as cinzas lançadas na Serra da Barriga, em Alagoas, local do maior centro da resistência negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares.


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