A professora Elisa Larkin Nascimento, viúva do escritor Abdias
Nascimento e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros (Ipeafro), participa hoje (14), no Rio, de um debate
sobre a democracia racial no Brasil, nos Estados Unidos e na África do
Sul. Será das 10h às 13h, no Clube de Engenharia.
Além de homenagear o centenário de nascimento do escritor, o evento lembra os 50 anos do I Have a Dream
, o histórico discurso do pastor e ativista político norte-americano
Martin Luther King, contra o racismo e em favor da igualdade de direitos
entre negros e brancos em seu país. O debate Democracia Racial: Os
Objetivos Foram Atingidos também homenageará o ex-presidente
sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), líder da luta contra o apartheid (segregação racial) em seu país e Prêmio Nobel da Paz de 1993.
Escritor, jornalista, artista plástico, teatrólogo, ator, poeta e
político, Abdias Nascimento (1914-2011) foi um dos maiores ativistas da
luta pelos direitos humanos no Brasil e, especialmente, pela cidadania
da população afrodescendente. Sua data de nascimento – 14 de março – é,
desde 2009, por lei estadual, o Dia do Ativista no Rio de Janeiro.
Nascido na cidade de Franca (SP), Abdias começou a luta pela
igualdade racial ainda estudante, na capital paulista, onde em 1936 foi
preso por protestar contra a exigência de entrar em uma boate pela porta
dos fundos, por ser negro. Em 1944, já vivendo no Rio, ele fundou o
Teatro Experimental do Negro (TEN). Iniciativa inédita e ousada, a
companhia teatral formada por atores e atrizes negros teve no seu
elenco, entre outros nomes, Ruth de Souza, Léa Garcia e Haroldo Costa.
Em 1947, Abdias Nascimento criou o jornal Quilombo, que
lutava por medidas que haviam sido propostas na Assembleia Constituinte
de 1945, como a questão da igualdade racial e a própria ideia de ações
afirmativas. Eram questões que só bem mais tarde, no fim do século 20 e
início do atual, viriam a ser concretizadas por meio de políticas
públicas no Brasil.
Durante a ditadura militar implantada no país após o golpe de 1964, o
ativista sofreu pressões e acabou se exilando nos Estados Unidos, a
partir de 1968. De volta ao Brasil, Abdias Nascimento iniciou carreira
política, militando no PDT, partido pelo qual se elegeu deputado federal
(1983-1987) e se tornou senador da República, como suplente de Darcy
Ribeiro, exercendo o mandato de 1991 a 1992 e de 1997 a 1999.
“Ele agiu em diversas áreas, artísticas, políticas e intelectuais, no
sentido de promover a população afrodescendente e sua cultura e os
direitos que eram negados a essas duas matrizes por uma sociedade
racista”, disse Elisa Larkin. "Abdias representa a primeira voz no
século 20 que uniu a reivindicação e a defesa dos direitos humanos e
civis dessa população ao direito dela de valorizar sua cultura e sua
identidade própria”, acrescentou.
Abdias Nascimento morreu em 23 de maio de 2011, aos 97 anos, vítima
de complicações decorrentes do diabetes. Em cumprimento a um desejo seu,
o corpo foi cremado e as cinzas lançadas na Serra da Barriga, em
Alagoas, local do maior centro da resistência negra no Brasil, o
Quilombo dos Palmares.
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