Para quem busca uma sociedade mais justa, é uma
alegria e alento ver o povo ir às ruas não somente para o carnaval e partidas
de futebol, mas também para expressar sua insatisfação
com diversos aspectos do país. Evidentemente, nenhuma pessoa de bom senso é
favorável a atos de vandalismo e violência. Entretanto, fica cada vez mais
claro que tais abusos são cometidos por indivíduos estranhos às manifestações.
Sem dúvida, ainda é cedo para conclusões e mesmo
análises mais completas dessas movimentações. Entretanto, podemos propor
algumas impressões primeiras. Sem dúvida, um ato social e de conteúdo político
reunindo milhares de pessoas tem de ser levado a sério. Indica que as formas
atuais de fazer política merecem uma séria revisão. É direito da sociedade
expressar sua insatisfação e exigir correção de rota em tudo o que diz respeito
ao interesse coletivo. Os políticos e seus partidos podem representar uma parte
da sociedade. Os governantes recebem um mandato para dirigir o país, mas devem
sempre prestar contas à sociedade que os elegeu. Representar os eleitores não
significa substituí-los, ou ignorar e menosprezar o sentimento popular. Essas
manifestações de massa expressam uma insatisfação que vem se aprofundando em
amplos setores da população em relação aos três poderes que nos governam.
Independentemente da política partidária e de posições ideológicas, grande
parte da juventude aspira a formas novas de exercício da autoridade, gerência
do público e do bem comum.
As instituições vigentes precisam ser revistas para
fortalecer uma democracia mais profunda e popular. Entretanto,é preciso avançar
para não derrubá-las substituindo-as por uma anarquia aparentemente espontânea,
que acaba por favorecer o pior. Mahatma Gandhi afirmava que quem não gosta de
política tem direito de não gostar, mas será sempre governado pelos piores políticos.
As manifestações que têm ocorrido no Brasil lembram as ocorridas no norte da
África, na Espanha e em outros lugares do mundo. Sem projetos claros, quase
sempre acabam nas mãos da direita. Na Espanha, o protesto dos milhares de
indignados resultou na eleição do governo mais de direita dos últimos anos. No
norte da África, a primavera árabe redundou em governos fundamentalistas e de
fisionomia militar. Será diferente no Brasil? Jornalistas
de televisões e jornais tem sido hostilizados nas ruas e, graças a tecnologia,
os próprios manifestantes reportam os acontecimentos da rua.
Esse repúdio talvez signifique que as pessoas não
se vejam na grande mídia, nem seus interesses refletidos nos meios de
comunicação. Não querem também ver o movimento instrumentalizado por políticos
tradicionais e os partidos de sempre. Entretanto, é sempre bom cuidar para que
as mobilizações não acabem servindo ao lado que não representa as mudanças
desejadas. Ainda não chegamos ao tempo em que o lobo pastará com o cordeiro e o
leão comerá capim com o jumento. Que Deus inspire os manifestantes. É o direito
de todos irem às ruas e manifestarem seu descontentamento com tanta coisa que
anda errada no país. Exigir que o governo federal e os estaduais e municipais
abram instrumentos de diálogo com a população. Mostrem poder de mobilização,
não só para expressar o que não querem, mas para afirmar o que propõem. E
principalmente, não troquem uma democracia mesmo imperfeita e defeituosa pelo
caos. Os movimentos sociais organizados e as representações da sociedade civil,
desde associações de bairro até partidos políticos devem sentir-se convocados a
reinventar-se e a engajar-se em um mutirão de propostas para a construção de um
Brasil mais igualitário e justo. Para quem é cristão, quanto mais se amplia o
exercício da cidadania, mais se testemunha a realização do projeto divino no
mundo e a presença do amor divino que está não somente em nós, mas nas ruas e
praças do país quando conscienciosamente lutamos pela paz e pela justiça.
Fonte: Adital
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