terça-feira, 25 de junho de 2013

Por trás das manifestações de massa

Por Marcelo Barros

Para quem busca uma sociedade mais justa, é uma alegria e alento ver o povo ir às ruas não somente para o carnaval e partidas de futebol, mas também para expressar sua insatisfação com diversos aspectos do país. Evidentemente, nenhuma pessoa de bom senso é favorável a atos de vandalismo e violência. Entretanto, fica cada vez mais claro que tais abusos são cometidos por indivíduos estranhos às manifestações.

Sem dúvida, ainda é cedo para conclusões e mesmo análises mais completas dessas movimentações. Entretanto, podemos propor algumas impressões primeiras. Sem dúvida, um ato social e de conteúdo político reunindo milhares de pessoas tem de ser levado a sério. Indica que as formas atuais de fazer política merecem uma séria revisão. É direito da sociedade expressar sua insatisfação e exigir correção de rota em tudo o que diz respeito ao interesse coletivo. Os políticos e seus partidos podem representar uma parte da sociedade. Os governantes recebem um mandato para dirigir o país, mas devem sempre prestar contas à sociedade que os elegeu. Representar os eleitores não significa substituí-los, ou ignorar e menosprezar o sentimento popular. Essas manifestações de massa expressam uma insatisfação que vem se aprofundando em amplos setores da população em relação aos três poderes que nos governam. Independentemente da política partidária e de posições ideológicas, grande parte da juventude aspira a formas novas de exercício da autoridade, gerência do público e do bem comum.

As instituições vigentes precisam ser revistas para fortalecer uma democracia mais profunda e popular. Entretanto,é preciso avançar para não derrubá-las substituindo-as por uma anarquia aparentemente espontânea, que acaba por favorecer o pior. Mahatma Gandhi afirmava que quem não gosta de política tem direito de não gostar, mas será sempre governado pelos piores políticos. As manifestações que têm ocorrido no Brasil lembram as ocorridas no norte da África, na Espanha e em outros lugares do mundo. Sem projetos claros, quase sempre acabam nas mãos da direita. Na Espanha, o protesto dos milhares de indignados resultou na eleição do governo mais de direita dos últimos anos. No norte da África, a primavera árabe redundou em governos fundamentalistas e de fisionomia militar. Será diferente no Brasil? Jornalistas de televisões e jornais tem sido hostilizados nas ruas e, graças a tecnologia, os próprios manifestantes reportam os acontecimentos da rua.

Esse repúdio talvez signifique que as pessoas não se vejam na grande mídia, nem seus interesses refletidos nos meios de comunicação. Não querem também ver o movimento instrumentalizado por políticos tradicionais e os partidos de sempre. Entretanto, é sempre bom cuidar para que as mobilizações não acabem servindo ao lado que não representa as mudanças desejadas. Ainda não chegamos ao tempo em que o lobo pastará com o cordeiro e o leão comerá capim com o jumento. Que Deus inspire os manifestantes. É o direito de todos irem às ruas e manifestarem seu descontentamento com tanta coisa que anda errada no país. Exigir que o governo federal e os estaduais e municipais abram instrumentos de diálogo com a população. Mostrem poder de mobilização, não só para expressar o que não querem, mas para afirmar o que propõem. E principalmente, não troquem uma democracia mesmo imperfeita e defeituosa pelo caos. Os movimentos sociais organizados e as representações da sociedade civil, desde associações de bairro até partidos políticos devem sentir-se convocados a reinventar-se e a engajar-se em um mutirão de propostas para a construção de um Brasil mais igualitário e justo. Para quem é cristão, quanto mais se amplia o exercício da cidadania, mais se testemunha a realização do projeto divino no mundo e a presença do amor divino que está não somente em nós, mas nas ruas e praças do país quando conscienciosamente lutamos pela paz e pela justiça.

Fonte: Adital


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