10 notícias (boas ou preocupantes) que marcaram o ano desde o último Dia Mundial do Meio Ambiente.
Decidi aproveitar o dia Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5
de junho, para listar 10 dos mais importantes assuntos ocorridos na área
ambiental desde junho do ano passado no Brasil e no mundo. A lista,
embora incompleta e arbitrária (a escolha dos assuntos foi minha),
indica avanços e retrocessos significativos nesta longa, porém
irreversível jornada rumo a um mundo mais sustentável.
A revolução energética do gás de xisto
O aperfeiçoamento de tecnologias de extração de petróleo e gás
possibilitou o acesso a grandes reservas presas em depósitos de xisto
dos Estados Unidos – especialmente em Dakota do Norte e no Texas –
determinando uma importante mudança na geopolítica energética do mundo.
Ao ampliar a participação do gás em sua matriz – muito mais barato do
que as demais fontes de energia – os Estados Unidos voltaram a atrair as
grandes indústrias para seu território. O país também aumentou a
exportação de carvão mineral, especialmente para a Europa, e reduziu a
importação de petróleo. Se o xisto está ajudando os americanos a sair da
crise, permanece a desconfiança de que a técnica empregada para a
obtenção do gás incrustado nessas rochas – “fracking”– não é segura
ambientalmente, dado o risco de contaminação das águas subterrâneas.
Vários casos de contaminação foram registrados em solo americano. O
Brasil licitará em outubro, pela primeira vez, a exploração do gás de
xisto. Será mais seguro por aqui?
O céu é o limite
Pela primeira vez na História da Humanidade, alcançamos a
concentração recorde de 400 partes por milhão de dióxido de carbono na
atmosfera (400 ppm de CO2). A principal causa é a queima progressiva de
combustíveis fósseis. A impressionante velocidade com que o principal
gás de efeito estufa vem se acumulando (280 ppm antes da Revolução
Industrial, 320 ppm na década de 1950) e a iminente ultrapassagem do
índice apurado semanas atrás – considerada uma medida simbólica que
marca uma tendência preocupante na direção do agravamento do efeito
estufa – indica que as mudanças em curso, de acordo com a parcela
majoritária da comunidade científica, deverão causar mais problemas
econômicos, sociais e ambientais em escala global.
Ter ou não ter editoria de meio ambiente?
A decisão do “The New York Times” de fechar sua prestigiada editoria
de meio ambiente – remanejando os jornalistas especializados no assunto
para outras editorias – teve repercussão internacional. Afinal de
contas, seria preciso ter uma editoria especializada em meio ambiente
para se cobrir bem o tema? Na opinião dos diretores do NYT, como a
sustentabilidade é um assunto transversal (alcança indistintamente todas
as áreas do saber e do conhecimento) os “eco-jornalistas” seriam melhor
aproveitados nas editorias convencionais (economia, política, cultura,
cidade, etc.) aprimorando a cobertura dos demais assuntos do dia-a-dia
com um toque “verde”. Um saudável debate que ganhou espaço mundo afora.
Balanço da Rio+20
O legado da maior conferência da História da ONU em número de países
não parece ter contaminado efetivamente o rumo dos acontecimentos no
mundo desde junho de 2012. O monumental descolamento entre a “real
politik” dos tomadores de decisão e o mundo real revelado à luz da
ciência está custando cada vez mais caro às gerações futuras.
Preconiza-se como princípio que o custo da inação é muito superior ao
custo dos ajustes que se fazem necessários para a implementação de uma
“economia verde”. Mas pouco tem sido feito nesse sentido.
Um ano de Código Florestal
A baixíssima adesão dos proprietários rurais ao chamado CAR (Cadastro
Ambiental Rural) – principal ferramenta para a adequação ambiental das
propriedades – gera preocupação. Segundo o próprio Ministério da
Agricultura, mais de 4 milhões de propriedades rurais no país têm alguma
pendência ambiental. Estima-se que, até o momento, menos de 5% dos
proprietários rurais tenham se cadastrado. Alguns mapeamentos feitos por
satélite indicam que o desmatamento tem aumentado no Brasil.
Tem raposa no galinheiro?
A Comissão de Meio Ambiente no Senado virou posto avançado da bancada
ruralista. Liderados pelo ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi,
um dos maiores produtores individuais de soja do mundo, a comissão
abriga ainda os senadores Ivo Cassol, José Agripino, Garibaldi Alves
Filho e Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA). Nada contra a legítima presença de ruralistas
na comissão, até porque não é possível imaginar uma agricultura forte
sem um meio ambiente saudável e resiliente. O problema é quando os
interesses públicos e privados se misturam (situação combatida pelo
próprio regimento, embora inócua na prática) ou quando se usa a comissão
para reduzir a proteção das florestas ou os direitos das comunidades
indígenas.
Desprestígio das comunidades indígenas
Agravou-se a tensão nas comunidades indígenas com a tramitação no
Congresso da PEC 215, que na prática torna sem efeito a parte do
Estatuto do Índio (Lei 6.001/73) – regulamentado pelo Decreto 1.775/96 –
que estabelece que “a demarcação de terras indígenas cabe à União, com
base em estudos e sob a orientação da Fundação Nacional do índio
(Funai)”. Pelas novas regras, ainda em discussão, as demarcações
passariam a ser submetidas à aprovação do Congresso Nacional. Teme-se
que os interesses regionais e/ou corporativos (especialmente aqueles
ligados ao agronegócio) impactem negativamente o destino de comunidades
ameaçadas. Há novos conflitos abertos entre indígenas e fazendeiros em
várias regiões do país.
O aumento do lixo
Um estudo da Abrelpe (Associação Brasileiras das Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais) divulgado semanas atrás revela que nos
últimos 10 anos a população do Brasil cresceu quase 10% (9,65%),
enquanto que o volume de lixo no mesmo período aumentou 21%. O
incremento de aproximadamente 40 milhões de pessoas na chamada “nova
classe média” fez aumentar exponencialmente a geração de resíduos.
Apenas no ano passado foram descartados 24 milhões de toneladas de
resíduos em lugares inadequados, o suficiente para encher 168 estádios
de futebol do tamanho do Maracanã. Como a maioria dos municípios (mais
de 3 mil) ainda descarta o lixo a céu aberto em vazadouros clandestinos
(o popular “lixão”) a situação é preocupante. Embora a Política Nacional
de Resíduos Sólidos estabeleça o prazo final para a erradicação dos
lixões em todo o território nacional até 2014, a Frente Nacional dos
Prefeitos já defende a prorrogação do prazo, sob a alegação de que os
municípios mais pobres não têm dinheiro para providenciar os ajustes
necessários.
A hora e a vez das “magrelas”
As bicicletas ocuparam espaços sem precedentes na mídia brasileira
por conta de sucessivos acidentes com ciclistas – especialmente, o
crescimento do número de mortos sobre duas rodas em cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro – e a preocupação das autoridades em anunciar
medidas em favor do aumento de ciclovias, ciclofaixas e bicicletários. É
notório o aumento do número de ciclistas e a mobilização das redes em
favor das bicicletas.
Nota zero para o IPI Zero
O derrame indiscriminado de automóveis nas cidades brasileiras tem o
respaldo do Ministério da Fazenda, que mais uma vez reduziu o IPI
(Imposto sobre Produtos Industriais) para carros zero km. O que à
primeira vista parece ser um estímulo para a economia (pelo aumento do
dinheiro em circulação nas cadeias produtivas) agrava a mobilidade
urbana com impactos diretos sobre a mesma economia. Apenas em São Paulo,
cidade mais motorizada do país, um estudo coordenado pelo
vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário
municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de São Paulo, Marcos
Cintra, revelou que os engarrafamentos geram aproximadamente R$ 40
bilhões de prejuízo por ano à capital paulista.
André Trigueiro é jornalista com pós-graduação
em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina
geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo
Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço
na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um
dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e
Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro,
pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor
chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também
comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de
Janeiro.
Fonte: Mundo Sustentável.
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