No passado,
aprender a falar outra língua, especialmente o inglês, era (e ainda é)
um diferencial na vida e na carreira das pessoas. Hoje, com as novas
tecnologias, é uma outra linguagem que começa a ganhar destaque: a
programação. Especialistas em tecnologia, educadores e engenheiros
defendem a inserção do ensino da programação nas escolas como uma
maneira de compreender o que está por trás de todas as tecnologias que
temos acesso, além de contextualizar o aprendizado adquirido na escola.
Para o professor e pesquisador da Unicamp João Vilhete, ensinar
programação para as crianças é o mesmo que “ensinar a pensar”.
Para ele, o ensino da programação nas escolas é fundamental para que
as crianças e jovens desenvolvam sua criatividade e sua capacidade de
lidar com problemas, já que coloca em prática uma série de teorias que
são ensinadas em física, matemática e química, por exemplo. “Aprender
fazendo diversifica a forma de aprender, quando uma situação está num
contexto que permite testar possibilidades e hipóteses. Para programar é
preciso criatividade”, diz. Exemplo de quem aposta na programação e na
robótica como maneira de estimular o ensino de crianças e jovens está na
LiberRobótica, uma espécie de curso itinerante de programação e criação
de robôs de Minas Gerais.
“A robótica e a programação estão ligadas a todas as disciplinas
ministradas em sala de aula, busco fazer essa ponte. Se vou construir um
projeto com alunos, posso desenvolver essa atividade com história e
geografia, criando um projeto baseado em Leonardo da Vinci, por
exemplo”, explica Liberato Ferreira da Silva, professor e criador do
projeto. Segundo ele, a robótica deve ser usada também como criadora de
contextos, sem considerar o isolamento do aprendizado de como acionar
motores e engrenagens. “A robótica é um estímulo para buscar novos
saberes”.
Entretanto, uma das coisas que assusta educadores e gestores de
escolas quando se fala em robótica e programação são os custos para
implementar essas disciplinas. Para aliviar o preço, Silva aposta no
reaprovietamento de materiais, utilizando lixo digital disponível para
criar mais equipamentos com pouco gasto. Além disso, a LiberRobótica tem
um caminhão-laboratório. Isso mesmo. As escolas, ONGs ou empresas que
quiserem contratar o curso – que pode durar um dia ou um ano, dependendo
da demanda – e não tiver um espaço para isso, poderão ter as aulas
dentro do seu laboratório ambulante.
Outro grupo que defende o ensino de programação e robótica é o
pessoal da MetaMáquina, que conseguiu, por meio do financiamento
coletivo, criar impressoras 3D de baixo custo. A empresa, que usa
hardware e softwares livres para popularizar a impressão 3D, acredita
que dá para usar esses equipamentos nas escolas de variadas formas.
“Desde a relação direta com física, envolvendo correntes elétricas e
mecância, até oficinas de geometria espacial, modelando e imprimindo
formas geométricas diversas, além da possibilidade de aprender, por meio
de aulas de programação, a escrever softwares que possam operar a
máquina”, diz Filipe Moura, um dos fundadores da empresa.
Mais um ponto a favor do ensino da programação está no fato de que
ela pode ser aplicada por crianças. Para Vilhete, “desde que as crianças
tenham condições de reconhecer símbolos e interagir com recursos
digitais, elas podem interagir com um robô”, mas como tudo na vida, é
preciso um passo de cada vez. “Primeiro elas começam de forma simples,
depois vão se aprofundando paulatinamente no ambiente de robótica que
envolve concepção, construção, automação e controle do robô. Há muito
tempo, desenvolvíamos atividades de montagens simples com crianças de 4
anos, hoje é possível começar mais cedo”, diz.
Prova disso está lá no projeto mineiro, que já atendeu alunos de 2
anos de idade. “Cada idade é um contexto, uma ação pedagógica diferente.
Sempre busco trabalhar ações em grupos, estimular o aprendizado e a
criação conjunta, conviver com projetos respeitando a ideia de projeto”,
explica Silva. Para ele, o futuro do aprendizado está exatamente nisso:
estimular a convivência e a criatividade. “A escola do futuro deve
estimular o aluno a criar, fazer e investigar o que se cria. A
tecnologia será a ferramenta desta ação”, diz.
Fonte:Porvir.
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