Há poucos dias, um encontro internacional em Adis-Abebba, na Etiópia,
celebrou os 50 anos da Organização da Unidade Africana (OUA). Essa iniciativa
nasceu em 1963 na mesma Etiópia e com sonhos e ambições muito profundas: a
libertação de todos os povos africanos, o respeito a integridade dos
territórios de cada nação, a superação do racismo e o estabelecimento de
políticas que promovessem a paz e o bem estar social. Para isso, um instrumento
importante deveria ser a integração de todo o continente.
Era o sonho de tornar
toda a África uma espécie de pátria única, na mesma linha que, no inicio do
século XIX, Simon Bolivar sonhou e lutou para realizá-la na America do Sul. Os
fundadores da OUA queriam um governo único, uma única moeda e uma constituição
que unisse a todos os povos africanos. Só conseguiram fazer uma Carta de
princípios que serviu de constituição fundadora da OUA, mas sem peso de lei para
cada Estado em particular.
Em 1963, os propósitos que fundaram a OUA eram muito audaciosos. Vários
países africanos ainda eram colônias de países europeus. Na África do Sul, o
apartheid racial era política oficial. Em todo o continente, o colonialismo
tinha deixado marcas muito profundas. Muitos dos líderes africanos que
promoveram a organização dessa entidade integradora do continente tinham sido
comandantes dos processos de libertação dos seus povos. Alguns tinham sido
presos, sofrido torturas e tentativas de assassinato. Foi o preço a pagar para superar
o colonialismo europeu e conseguir a independência que várias nações só
conseguiram a partir do projeto da Unidade Africana. Sem dúvida, a OUA foi um
passo importante na formação de uma consciência pan-africana que, pouco a pouco,
se espalhou por todo o continente. Infelizmente, com o tempo, tornou-se uma espécie
de sindicato de governantes, sem participação real dos povos e de uma sociedade
civil que nesse momento, na África, enriquece os fóruns sociais. Na América
Latina, a Unasul e a ALBA reúnem, além dos governantes, movimentos sociais e
representações da sociedade civil. Na África, isso tem sido impossível por
pressões de potências estrangeiras que continuam a mandar no continente.
Atualmente, a África conta com 54 países independentes, membros da
Organização da Unidade Africana. Vários desses países valorizam suas culturas
ancestrais, falam seus idiomas próprios e procuram constituir uma sociedade
intercultural e de paz. Nem sempre conseguem porque alguns países ricos de
outros continentes continuam com interesses muito fortes na África. Enquanto a
República Democrática do Congo tiver a riqueza que tem de diamantes, muitos
congoleses viverão como escravos nas minas, vítimas de doenças respiratórias. Morrem
a mingua para enriquecer firmas belgas e holandesas e produzir joias para
mulheres ricas do Ocidente. O governo dos Estados Unidos continua explorando
petróleo na costa do Congo. Polui a natureza e destrói os rios. Paga um salário
de fome aos empregados congoleses e ao governo local 20% dos seus lucros. Esse
tipo de política ainda vigora em todo o continente. Agora, veio se somar uma
nova colonização feita pela China. Essa investe em projetos gigantescos como
estradas, rodovias, portos e grandes hidroelétricas que, muitas vezes, servem
ao turismo e aos interesses internacionais, mas beneficiam pouco as populações
locais.
A presidente Dilma foi convidada para a comemoração dos 50 anos da
Organização da Unidade Africana. Ali ela anunciou, por parte do Brasil, o
perdão da dívida que países africanos tinham conosco. Setores da imprensa
brasileira protestaram. Não perceberam que, ao perdoar a dívida africana, a
presidente apenas reconheceu a imensa dívida social que o Brasil tem
historicamente com os povos africanos. Fez um gesto de restituição simbólica do
imenso capital humano, cultural e econômico que, no passado, nossos
antepassados roubaram da África.
Há dez anos, o Brasil intensificou os passos de integração com os países
irmãos da América Latina e Caribe. Atualmente, o sonho da pátria grande
desejada por Bolívar começa a ser realidade. Faz parte do mesmo espírito a
solidariedade aos países africanos que estão culturalmente e por história mais
próximos de nós do que potencias do Norte. Antes, governantes elitistas sempre
olhavam com mais interesse e predileção para essas potências.
Para as pessoas que creem, essa integração internacional dos povos
empobrecidos e historicamente explorados é sinal antecipador da realização do
projeto divino de uma humanidade nova e mais fraterna.
Fonte: Adital
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