Um dos principais destinos são as usinas para produção de asfalto. Também usados nas cimenteiras, pneus são ótimos combustíveis.
Pneu
velho no Brasil, quem diria, passou a ser disputado por importantes
setores da economia. No primeiro semestre deste ano, quase 463 mil
toneladas de pneus, que seriam descartados como lixo, foram
transformados em matéria-prima ou energia.
Um dos principais
destinos foram as usinas. Quando entra pneu velho na mistura, o produto
final chama-se asfalto borracha. Na armazenagem do cimento asfáltico, a
temperatura média da mistura é de 175°C. “É para que ele tenha uma
viscosidade adequada, que ele fique semilíquido, para poder envolver os
materiais”, afirma Paulo Rosa Machado Filho, assistente de projetos
especiais da Ecovias.
Não é um piche convencional, parece um
grande pedaço de borracha. É a matéria-prima do asfalto borracha. “Ele
não tende a trincar. Demora muito mais psra trincar do que um asfalto
que não pode se esticar dessa maneira”, diz Machado Filho.
O piche
com pneu velho derretido é misturado com pedras. Da usina, que fica no
estado de São Paulo, saem 500 toneladas por dia de asfalto borracha.
Desde
o início do funcionamento da usina, há sete anos, já foram produzidas
750 mil toneladas de asfalto borracha. Essa produção assegurou uma
destinação inteligente para 400 mil pneus velhos.
“A principal
vantagem é a durabilidade, porque nós temos uma expectativa de que seja
40% mais do que o asfalto comum. Além disso, provoca um ruído menor na
rodovia, menos spray, que é aquela água que levanta dos pneus quando
chove, além do ruído também ser menor. Outra vantagem muito grande é em
relação ao tempo de intervenção. Porque, quanto mais você demora para
interferir na pista, você está interferindo menos na vida do usuário da
rodovia”, explica Machado Filho.
Uma nova geração de asfalto
borracha está sendo testada em laboratório. A ideia é reduzir ao máximo o
uso de calor na hora de aplicar o asfalto nas rodovias. Com menos
calor, utiliza-se menos energia e há menos custos.
A reportagem
acompanhou o recapeamento de um trecho do sistema Anchieta-Imigrantes,
onde 70% das pistas já foram cobertas com asfalto borracha. Vem
aumentando ano a ano a quantidade de trechos cobertos de asfalto
borracha no sistema. A meta é que, até 2015, não haja mais asfalto
convencional nessas estradas.
São 600 pneus velhos para cada
quilômetro de estrada asfaltada. Dá para imaginar quantos pneus seriam
necessários para cobrir todos os buracos das estradas brasileiras?
Segundo o Ibama, se todos os pneus coletados no primeiro semestre deste
ano fossem transformados em asfalto, seria possível pavimentar 34.800
quilômetros de estradas, o equivalente a quase nove vezes a distância
que separa São Paulo de Manaus.
Há outras empresas que vem usando
ainda mais pneus velhos do que as usinas de asfalto: são as cimenteiras.
No Brasil, 64% de todos os pneus coletados têm como destino os fornos
das fábricas de cimento.
Para cozinhar a matéria prima a
temperaturas que chegam a 1.500°C, é preciso muita energia a um custo
cada vez mais alto. A melhor opção é queimar pneu velho. “É importante
porque eles deixam de utilizar um combustível fóssil e acabam
reutilizando um pneu que, para eles, são entregues a custo zero. Então,
tem um valor energético mais baixo, eles ganham um valor energético que
eles teriam de comprar”, diz César Faccio, gerente geral da Reciclanip.
Os
pneus usados nos fornos das cimenteiras são ótimos combustíveis.
Queimam rápido e mantêm a temperatura interna elevada. Ao contrário do
asfalto, que só aproveita a borracha do pneu, as cimenteiras aproveitam
tudo, inclusive a malha de aço que vem junto com as carcaças.
Em
uma cimenteira em Santos, no litoral paulista, 19 milhões de pneus são
transformados em energia a cada ano. Existem hoje, no país, 743 pontos
de coleta de pneus velhos. Ainda há muito que fazer, mas, desde que o
Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis foi criado
há 13 anos, foram retirados da natureza 424 milhões de carcaças. Se
esses pneus fossem colocados lado a lado, dariam seis voltas na linha do
Equador.
Quem tem carro transporta no mínimo cinco pneus,
contando com o estepe. Então, na hora de descartar o pneu velho, pense
se você deseja fazer parte do problema ou da solução.
André Trigueiro é
jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde
hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do
curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livroMundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia,
lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela
Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do
programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da
Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
Fonte: Mundo Sustentável.
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