O potencial de energia solar e eólica no Brasil tem sido
menosprezado nas políticas públicas do setor energético. A avaliação de
um grupo de organizações não governamentais que acompanham o setor foi
divulgada hoje (12) na segunda edição do relatório O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade.
De acordo com o documento, com as tecnologias disponíveis atualmente
para aproveitamento de energia solar, seria possível atender a 10% de
toda a demanda atual de energia elétrica com a captação em menos de 5%
da área urbanizada do Brasil. Os estudos apontam que, no caso da energia
eólica, o potencial inexplorado chega a 300 gigawatts (GW), o que
equivaleria a quase três vezes o total da capacidade instalada
atualmente no país.
“A questão central é que há uma necessidade de abrir um debate mais
amplo entre governo e sociedade. Criticamos as premissas usadas para
estimar a demanda [por energia], que são baseadas apenas no PIB [Produto
Interno Bruto]”, disse o geógrafo Brent Millikanm, diretor do Programa
Amazônia da ONG International Rivers – Brasil.
Segundo ele, com mais espaço de discussão em diferentes setores, o
governo conseguiria definir “um planejamento mais amplo que mostre quais
as reais necessidade do país e como atender com mais eficiência e menor
custo social e ambiental”.
A ausência de uma política de incentivos para a inovação tecnológica e a
ampliação da escala de produção de energia têm prejudicado a expansão
de outros potenciais elétricos do país, apontam os pesquisadores.
Para os representantes das organizações não governamentais (ONGs)
Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace Brasil, Amigos da Terra –
Amazônia Brasileira, International Rivers – Brasil, Amazon Watch e WWF –
Brasil,a falta desses estímulos prejudica diretamente os resultados da
indústria nacional. “É importante termos uma política mais voltada para
eficiência que é fundamental para competitividade industrial”,
acrescentou Millikanm.
Os dados apresentados no documento mostram que os investimentos
privados em energia renovável no Brasil cresceram 8% em 2011, saltando
para US$ 7 bilhões – impulsionados, principalmente, pelo potencial da
energia eólica. Em todo o mundo, os investimentos em energia renovável
chegaram a US$ 237 bilhões, em 2011, superando os US$ 223 bilhões
gastos, no mesmo ano, para a construção de novas usinas movidas a
combustíveis fósseis.
Os pesquisadores acreditam que, além de direcionar melhor as demandas,
os debates com a sociedade poderiam orientar as estratégias do setor
baseado na realidade das regiões e nos potenciais impactos que poderiam
gerar.
Millikanm explica que a composição do Conselho de Política Energética,
responsável pela aprovação dos planos do setor, refletem a atual
situação.
“Deveria ter representantes da sociedade civil e de universidades nesse
conselho, mas, essas cadeiras estão vazias. Isso é emblemático da falta
de diálogo. Se tivesse um debate mais aberto, tomariam decisões
melhores para a sociedade. Como existem parcerias muito fortes das
grandes empreiteiras e de outras empresas, como as de mineração, a
política pública acaba sendo desviada para alguns interesses”, criticou.
Procurados pela reportagem da Agência Brasil, os
ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia e o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
não se pronunciaram sobre o estudo.
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