Não há nada mais primitivo do que um país enterrar seu lixo. Há
muitos anos, países como Holanda, Noruega, Dinamarca e Alemanha têm
programas de aterro zero. Todo o resíduo urbano é tratado com coleta
seletiva, reciclagem e disposição final ambientalmente adequada, sendo a
maioria reaproveitada como recuperação energética, sem destinar
resíduos a aterros. No Brasil, ainda estamos longe dessa situação, mas
há avanços significativos nessa direção.
A Política Nacional de
Resíduos Sólidos (Lei 12.305) estabelece diretrizes para minimizar os
aterros e banir os lixões até 2014. No Brasil, segundo cálculo da
Confederação Nacional dos Municípios, existem aproximadamente 4,7 mil
cidades que utilizam apenas lixões como destinação dos resíduos urbanos.
Cerca de 70% dos resíduos sólidos urbanos do país são destinados a
lixões e aterros controlados, a maneira inadequada de destinação final.
Há
exemplos do impacto negativo dos aterros no Brasil. É o caso do
Aquífero Guarani, considerado a maior reserva subterrânea de água doce
do mundo. Aproximadamente 70% do Aquífero, o equivalente a 1,2 milhão de
quilômetros quadrados, está no subsolo do Brasil, na região
centro-sudeste, ocupando desde Goiás até o Rio Grande do Sul, além de
passar, também, pelo Paraguai, Uruguai e Argentina. A reserva do
Aquífero é estimada em 45 mil quilômetros cúbicos de água. Quantos
aterros inadequados existem sobre essa reserva de água? Qual é o grau de
contaminação existente? Como minimizar os impactos dos aterros no
Aquífero Guarani e nos grandes centros metropolitanos?
Existem
alternativas que contribuem para a eliminação de grande quantidade de
resíduos sólidos, principalmente os industriais, reduzindo
consideravelmente o lixo destinado aos aterros. Além de oferecer ganhos
para o meio ambiente, essas alternativas representam economia de gastos
para o poder público e, portanto, para o contribuinte. A reciclagem de
resíduos sólidos é necessária para reduzir o volume de resíduos para
destinação final e está contemplada no Plano de Ação para Produção e
Consumo Sustentáveis, do Ministério do Meio Ambiente, em consonância com
a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A recuperação
energética, que utiliza resíduos após a reciclagem, constitui a maneira
mais eficiente para a destinação final ambientalmente adequada. O
coprocessamento de resíduos urbanos em fornos de fabricação de cimento
tem sido utilizado em larga escala em países desenvolvidos. No Brasil, a
atividade é regulamentada e está contemplada na Política Nacional de
Resíduos Sólidos como a alternativa promissora para contribuir para a
melhor destinação final, evitando enterrar o lixo, principalmente sobre o
Aquífero Guarani e evitando o comprometimento e contaminação dessa
reserva natural, principalmente para nossas gerações futuras.
O
coprocessamento consiste na destruição térmica de resíduos durante o
processo de produção do cimento, com a substituição parcial da
matéria-prima ou do combustível. Essa prática tem dado à indústria
cimenteira um novo e relevante papel no âmbito da promoção da
sustentabilidade e do equilíbrio ambiental. Adotado pela indústria no
início da década de 1990, é, em muitos casos, a solução mais eficiente e
econômica para a gestão de resíduos, sem representar risco à qualidade
do cimento portland e ao meio ambiente. Somente em 2011, foram
coprocessadas no Brasil 1,16 milhão de toneladas de resíduos
(industriais, pneus, solos contaminados, lama de tratamento, entre
outros), por meio dessa tecnologia.
No período de 1991 a 2011
foram coprocessados oito milhões de toneladas de resíduos. Só no ano
passado, 220 mil toneladas de pneus usados foram coprocessados em fornos
de cimento, o equivalente a 45 milhões de unidades, que, enfileiradas,
iriam do Rio de Janeiro a Tóquio. Um único forno, com capacidade de
produção diária de mil toneladas de clínquer, pode consumir até cinco
mil pneus por dia.
Além de pneus, os fornos eliminam resíduos de
diversas indústrias, principalmente dos setores químico, petroquímico,
metalúrgico, de alumínio, automobilístico e de papel e celulose. Os
produtos mais comuns são borrachas, solventes, tintas e óleos usados,
borras de petróleo e de alumínio, e ainda solos contaminados e lodos de
centrais de tratamento de esgoto.
O coprocessamento representa uma
ferramenta de gestão ambiental na destinação de resíduos sólidos
urbanos. Esta contribuição da indústria se torna mais significativa
quando verifica-se que o Brasil descarta diariamente quase 200 mil
toneladas de resíduos sólidos – menos de 2% desse volume é reciclado e
quase 40% são lançados no ambiente de forma inadequada.
Mario William Esper é gerente de relações institucionais da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).
Fonte: Envolverde
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