segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A Economia Verde e a Economia Real. Vai dar certo?



A Rio+20 terminou deixando o legado de acordos frouxos e grande mobilização da sociedade civil. Muito se falou da economia verde, mas parece necessário pensar a sua construção diante dos padrões econômicos atuais. Precisamos refletir sobre a governança mundial e o sistema financeiro a luz dos acordos diplomáticos. A pergunta é: a nova economia verde será possível e sustentável diante das atuais políticas de governos e mercados de capitais?


As nações endividadas colocam em risco a ordem econômica mundial impondo incertezas ao crescimento, tradicional ou novo. Os mercados financeiros instáveis geram incertezas de investimentos com fluxos de capitais voláteis em desajuste as necessidades de políticas econômicas sólidas e duradouras. Este quadro – tão atual como nunca – é contrário a globalização integrada em uma economia verde com padrões fiscais consistentes entre as nações. Embora seja positiva a situação da Alemanha, com histórico impulso à economia verde, vemos os Estados Unidos basicamente refratários aos compromissos verdes. No meio há a China, crescendo com a economia antiga, mas investindo massivamente em sustentabilidade.

Os problemas na zona do Euro, com dívidas internas e orçamentos fiscais insustentáveis; antecedidos pela crise dos subprimes na América, foram resultados de expectativas de crescimento com alto endividamento de governos e investidores. Estas práticas irresponsáveis geraram um legado negativo a ser incorporado na discussão da nova economia. Não há mais espaço de endividamento e irresponsabilidade fiscal das nações. É urgente a maior harmonia entre os entendimentos diplomáticos e os intentos financeiros globais, onde o primeiro viaja em baixa velocidade de consenso enquanto o segundo prossegue na velocidade da luz.

As discussões sobre padrões econômicos mundiais também deveriam abordar os limites do modelo acumulador de riquezas e o sistema bancário, lastreado por emissões fracionais de moeda. São recorrentes as ajudas financeiras a bancos, em todas as crises. Mas para firmar compromisso com as políticas verdes, os governos demoram anos.

O sucesso de um novo modelo econômico mundial precisa ser entendido sob a o crescimento populacional com oferta decrescente de recursos naturais conjugadas a novas fronteiras de investimento. A articulação para economia verde precisa da reflexão sobre o modelo financeiro atual. Ele não é justo para todos. A sociedade civil presente a Rio + 20 deve seguir sua mobilização pela nova economia visando políticas públicas harmonizadas para reinversão dos capitais de forma mais sustentável.

O velho modelo de valoração de ativos financeiros é demais ambicioso para a nova economia porque tem entre as suas premissas, a liquidez de capitais e resultados trimestrais que remuneram o capital investido, em curto prazo. Este dialeto entre sustentável e lucrativo carece de uma revisão sob a construção de uma nova economia mundial.

A visão de compatibilidade entre as entidades econômicas, financeiras e articuladoras da nova economia precisa de um mesmo lugar. Atualmente existem dois mundos: um que discute a sustentabilidade na base de princípios comuns para o futuro do planeta; e outro, que delibera ações imediatas para garantir os próximos meses do bem estar das nações. Estes mundos estão, aparentemente, desconectados.

O exemplo da Presidente Dilma, que deixou o seu país no meio da Rio+20 para atender a reunião do G-20 financeiro no México, mostra o estado de fragilidade e submissão do mundo diplomático ao mundo econômico atual. A sustentabilidade que pensamos precisa da integração dos fóruns econômicos e diplomáticos sob uma mesma liderança e coerência de ações dentro de um espírito de governança integrada para o novo mundo verde que projetamos.

 Luiz Cruz Villares é superintendente administrativo financeiro da Fundação Amazonas Sustentável.

Fonte: Envolverde


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