A Rio+20 terminou deixando o legado de acordos frouxos e grande
mobilização da sociedade civil. Muito se falou da economia verde, mas
parece necessário pensar a sua construção diante dos padrões econômicos
atuais. Precisamos refletir sobre a governança mundial e o sistema
financeiro a luz dos acordos diplomáticos. A pergunta é: a nova economia
verde será possível e sustentável diante das atuais políticas de
governos e mercados de capitais?
As nações endividadas colocam em
risco a ordem econômica mundial impondo incertezas ao crescimento,
tradicional ou novo. Os mercados financeiros instáveis geram incertezas
de investimentos com fluxos de capitais voláteis em desajuste as
necessidades de políticas econômicas sólidas e duradouras. Este quadro –
tão atual como nunca – é contrário a globalização integrada em uma
economia verde com padrões fiscais consistentes entre as nações. Embora
seja positiva a situação da Alemanha, com histórico impulso à economia
verde, vemos os Estados Unidos basicamente refratários aos compromissos
verdes. No meio há a China, crescendo com a economia antiga, mas
investindo massivamente em sustentabilidade.
Os problemas na zona
do Euro, com dívidas internas e orçamentos fiscais insustentáveis;
antecedidos pela crise dos subprimes na América, foram resultados de
expectativas de crescimento com alto endividamento de governos e
investidores. Estas práticas irresponsáveis geraram um legado negativo a
ser incorporado na discussão da nova economia. Não há mais espaço de
endividamento e irresponsabilidade fiscal das nações. É urgente a maior
harmonia entre os entendimentos diplomáticos e os intentos financeiros
globais, onde o primeiro viaja em baixa velocidade de consenso enquanto o
segundo prossegue na velocidade da luz.
As discussões sobre
padrões econômicos mundiais também deveriam abordar os limites do modelo
acumulador de riquezas e o sistema bancário, lastreado por emissões
fracionais de moeda. São recorrentes as ajudas financeiras a bancos, em
todas as crises. Mas para firmar compromisso com as políticas verdes, os
governos demoram anos.
O sucesso de um novo modelo econômico
mundial precisa ser entendido sob a o crescimento populacional com
oferta decrescente de recursos naturais conjugadas a novas fronteiras de
investimento. A articulação para economia verde precisa da reflexão
sobre o modelo financeiro atual. Ele não é justo para todos. A sociedade
civil presente a Rio + 20 deve seguir sua mobilização pela nova
economia visando políticas públicas harmonizadas para reinversão dos
capitais de forma mais sustentável.
O velho modelo de valoração de
ativos financeiros é demais ambicioso para a nova economia porque tem
entre as suas premissas, a liquidez de capitais e resultados trimestrais
que remuneram o capital investido, em curto prazo. Este dialeto entre
sustentável e lucrativo carece de uma revisão sob a construção de uma
nova economia mundial.
A visão de compatibilidade entre as
entidades econômicas, financeiras e articuladoras da nova economia
precisa de um mesmo lugar. Atualmente existem dois mundos: um que
discute a sustentabilidade na base de princípios comuns para o futuro do
planeta; e outro, que delibera ações imediatas para garantir os
próximos meses do bem estar das nações. Estes mundos estão,
aparentemente, desconectados.
O exemplo da Presidente Dilma, que
deixou o seu país no meio da Rio+20 para atender a reunião do G-20
financeiro no México, mostra o estado de fragilidade e submissão do
mundo diplomático ao mundo econômico atual. A sustentabilidade que
pensamos precisa da integração dos fóruns econômicos e diplomáticos sob
uma mesma liderança e coerência de ações dentro de um espírito de
governança integrada para o novo mundo verde que projetamos.
Luiz Cruz Villares é superintendente administrativo financeiro da Fundação Amazonas Sustentável.
Fonte: Envolverde
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