Representantes de diversos movimentos sociais ligados ao
campo se reúnem a partir de hoje (20), em Brasília, para formular um
programa único de ações voltado ao desenvolvimento rural que sirva como
contraponto ao modelo do agronegócio, baseado na produção em grandes
propriedades, para a exportação e com uso de agrotóxicos.
Segundo participantes do Encontro Unitário dos Trabalhadores,
Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que vai até
quarta-feira (22), a reforma agrária, o fortalecimento da agricultura
familiar, além da demarcação de terras indígenas e quilombolas, são
elementos fundamentais que devem integrar o projeto alternativo.
O representante da Via Campesina, João Pedro Stédile, defendeu que a
reorganização do modelo de produção rural no Brasil é urgente.
"A reforma agrária é uma necessidade para o Brasil, mas ela está
parada. Queremos que a agricultura seja organizada para produzir
alimentos sadios, sem agrotóxicos e para o povo brasileiro. Para isso, é
preciso garantir que o pobre e o sem-terra tenham terra e condições de
produzir alimentos. Nesse modelo do agronegócio não há lugar para
agricultores nem para pobres, que são expulsos. Precisamos discutir uma
grande proposta alternativa que represente os interesses nacionais",
disse, em entrevista coletiva na manhã de hoje (22), durante a abertura
do evento, que ocorre no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, na
capital federal.
Segundo Stédile, o agronegócio é um modelo "predador, excludente e
que coloca em risco a soberania do país", já que atrai o capital
internacional e afasta a população campesina da atividade rural. Ele
acrescentou que vivem hoje no campo 16 milhões de brasileiros, sendo "a
maioria pobres, que precisa de renda". Entre eles, 4 milhões são
pequenos proprietários e precisam de programas e políticas públicas para
impulsionar suas atividades. Além disso, há 4 milhões de famílias que
não têm renda "e para elas só a reforma agrária" é capaz de garantir uma
nova realidade.
O
secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), Wiliam Clementino, enfatizou,
durante a entrevista coletiva, que a implementação da reforma agrária é
fundamental para o sucesso das políticas de combate à pobreza.
"Nenhum programa de combate à pobreza e à miséria terá sucesso sem
passar pela reforma agrária. Se não mudarmos a estrutura fundiária do
país, não vamos tirar as pessoas da pobreza e dar a elas as condições de
produção. E o fortalecimento da agricultura familiar, nesse contexto, é
um grande desafio, porque esse é mais do que um segmento social, mas
também político e econômico, que alimenta 75% da mesa do brasileiro",
disse, acrescentando que, durante os dias do encontro, não haverá
agendas ou mesas de debate com representantes do governo.
Elisângela Araújo, representante da Federação Nacional dos
Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), destacou
que a unificação das reivindicações e das propostas dos vários setores
ligados ao campo fortalece as discussões para a construção de políticas
estruturantes, capazes de garantir, além do acesso à terra, assistência
técnica de qualidade, pesquisas e tecnologias acessíveis aos pequenos
produtores.
"Não
queremos medidas de ano em ano, mas políticas que de fato mudem a
realidade do campo. Se tivermos um mundo rural com gente vivendo com
dignidade, vamos reduzir todos esses problemas sociais que hoje existem
nas grandes metrópoles do país."
Ao fim do encontro, os participantes, estimados pelos organizadores
em mais de 5 mil, vão promover uma marcha, partindo do local do evento, o
Parque da Cidade, até o Palácio do Planalto. Eles também vão entregar o
documento final produzido durante os três dias de evento a
representantes dos Três Poderes.
O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do
Campo, das Águas e das Florestas ocorre 51 anos após o 1º Congresso
Camponês do Brasil, realizado em 1961, em Belo Horizonte (MG).
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