Uma das premissas mais básicas das ciências econômicas
repousa no fato de que mais renda leva a mais consumo e, por consequência, mais
consumo conduz a mais bem-estar. Bem-estar para os economistas, grosso modo,
representa utilidade (uma medida de satisfação, em geral, usada nas decisões de
consumo).
Por sua vez, utilidade mantém íntima e comum relação com a
doutrina ética que atende pelo nome de Utilitarismo, ou seja, o bem se
identificando com o útil. Pelas lentes da economia, essa doutrina (princípio ético),
passa, primordialmente, por estabelecer se uma decisão ou ação é considerada
correta a partir do benefício gerado à coletividade.
Quanto maior o benefício (satisfação), maior é o "grau” de
utilitarismo, portanto, mais correta a decisão tomada. Tudo isso com um único e
proposital objetivo: melhorar a qualidade de vida, ou aumentar o bem-estar dos
membros da comunidade, finalidade maior da atividade econômica.
Segundo os representantes mais proeminentes da doutrina do
Utilitarismo – Jeremy Benthan e J. Stuart Mill – toda a felicidade está,
implicitamente, em obter o útil, afastando-se da dor e visando alcançar o
máximo possível de prazer.
Como historicamente a economia sempre fez questão de pontuar
que um dos caminhos mais fáceis para se alcançar o prazer (a satisfação) está
no ato de consumir, toda a estruturação teórica das ciências econômicas foi
então desenvolvida partindo-se do seguinte ponto: estimular à prática de
consumo (preferencialmente em níveis exagerados) para com isso, mediante o
acesso à renda, obter o máximo grau de satisfação (bem-estar, utilidade).
Assim, pela receita econômica tradicional, a felicidade de
cada um que participa ativamente desse "nobre ato” de consumir estaria
assegurada, visto que a felicidade aumenta com a renda, porém, só até
determinado nível.
Acontece que a teoria econômica que alicerçou esse preceito
"esqueceu” de nos contar que para a realização desse "ato sagrado” chamado
consumo, faz-se necessário, antes, praticar outro ato não menos sagrado que
serve em larga medida para idolatrar o deus mercado: produzir.
Portanto, na festa do consumo (que se dá, geralmente, em
níveis exacerbados), o principal convidado é a produção (que tradicionalmente
ocorre e corre às soltas, sem limites). Sem esse "convidado”, não há festa. Sem
"festa”, não há culto ao deus mercado.
Para não correr o risco de não haver festas, a economia, sem
respeitar os limites dados pela biosfera, se põe a patrocinar, via mercado, em
escala mundial, as mais badaladas orgias festivas, sempre "embaladas” em muita
destruição ambiental e no completo esgotamento material de recursos da natureza
(biodiversidade, solo, oceanos, florestas, petróleo) – elementos sem os quais
não há produção de absolutamente nada.
Razão pela qual a destruição do espaço-natureza ocorre em
várias frentes dos chamados serviços ecossistêmicos. Consoante a isso, é
oportuno destacar que o consumo –local e motivo da festa– é uma palavra que vem
do latim "consumere” cujo significado é "destruir, gastar, esgotar”.
A palavra "suemere”, que se decompõe em "sumere”, permitindo
então formar com o sufixo "con” a palavra "consumere”, significa "apoderar-se”.
Ou seja, na verdade, o consumo é um "espelho” de uma produção que se apodera
dos recursos naturais, destruindo-os em escala sempre crescente.
Com isso, percebe-se claramente, e não por acaso, que a
destruição do ambiente natural decorre sistematicamente dessas "festas do
consumo” que são, em primeiro plano, promovidas pelo mercado e propagandeadas
largamente pela indústria da publicidade que torra, segundo estimativas, mais
de 435 bilhões de dólares por ano.
Também não por acaso, a publicidade é o segundo maior
orçamento mundial, perdendo apenas para os gastos bélicos. Só a título de
comparação, apenas 15 bilhões de dólares (3,44% do que é gasto com publicidade)
seriam suficientes para acabar com a fome no mundo que dizima, todos os anos,
10 milhões de inocentes crianças.
Nessa "festa da destruição” (do consumo, da abundância, do
desperdício) é o meio ambiente (e o sistema vida) quem sofrem as mais sérias
consequências, uma vez que a política econômica (a organizadora da festa)
ignora os limites físicos do planeta, fazendo com que o consumo humano exceda a
capacidade de produção e assimilação de dejetos da ecosfera.
Não à toa, apenas 20% da população mundial (que nunca perdem
a festa) consomem 80% da produção global. E assim, os ritmos dançantes dessas
festas parecem ser um só: se produz para se consumir e se consome para
produzir, ainda que esse ritmo frenético não seja estendido a todos.
Por sinal, paradoxalmente, é essa desigualdade no consumo
que "ainda” mantém o planeta em certo equilíbrio, visto ser impossível
incorporar toda a população mundial aos padrões de consumo material praticado
nos países avançados, simplesmente porque isso esbarra, sobremaneira, nos
limites físicos da Terra.
Contudo, nossa espécie é a que causa o maior impacto
ecológico no planeta: 40% de toda a biomassa produzida ao ano pelos sistemas
ecológicos são literalmente "sugadas” para atender nossas necessidades.
O impacto do crescimento da economia para "satisfazer” essa
sanha consumista (escamoteada no eufemismo das "necessidades”) é tão grande
que, além dos recursos naturais, também as espécies animais são exterminadas em
ritmo crescente.
Não por outra razão, entre 1970 e meados dos anos 2000, as
espécies terrestres diminuíram 31%, as espécies de água doce, 28% e as espécies
marinhas, 27%.
Os oceanos (o maior dos ecossistemas) estão em corrente
processo de esgotamento. O Fundo de Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) já
declarou que em 2048 não poderemos tirar de lá nenhum recurso alimentar
significativo. Mais de 90% dos estoques de peixes predadores de grande
dimensão, como o atum, peixe espada e o bacalhau já foram capturados. Entre os
anos 1950 e o momento presente, a pesca total em águas abertas e abrigadas
passou de 20 milhões para 95 milhões de toneladas métricas.
Nas últimas três décadas, o consumo mundial de bens cresceu
numa média anual de 2,3%; em alguns países do leste asiático essa taxa supera o
patamar de 6%.
De acordo com o Worldwatch Institute (Relatório "O Estado do
Mundo”), em 2008 foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de
refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones
celulares. O consumo da humanidade em bens e serviços em 1960 atingiu o
equivalente a US$ 4,9 trilhões (dólares de 2008); em 1996, chegou a US$ 23,9
trilhões e, dez anos depois, atingia mais de US$ 30 trilhões.
Na França, a média do consumo de proteínas é de 115
gramas/dia, ao passo que em Moçambique é de apenas 32 gramas. Cada cidadão dos
Estados Unidos, na média, consome 120 quilos de carnes ao ano (10 quilos por
mês), enquanto um angolano consome 24 quilos/ano, (2 quilos/mês). Os 315
milhões de estadunidenses (4,5 % da população mundial) comem 9 bilhões de aves
todos os anos. Na Ásia inteira, com 3,5 bilhões de pessoas (50% da humanidade),
consome-se 16 bilhões/ano. Há 150 carros para cada mil habitantes na China,
enquanto nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) essa relação é de 750, e na Índia, apenas 35. Por essas e outras,
parece-me que já passou da hora de colocarmos um fim nessa "festa do consumo”.
Se há um desafio que nos persegue nesse desenrolar de século XXI, certamente é
o de transitarmos para uma sociedade de padrões de consumo menos extravagantes
e mais igualitários.
Fonte: Adital
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