A extraordinária biodiversidade dos países do Caribe, que já sofre
impactos humanos como a exploração da terra, contaminação, espécies
invasoras e cultivo excessivo de espécies de valor comercial, agora
sofre a ameaça adicional da mudança climática. Por ocasião da 12ª
Conferência das Partes (COP 12) do Convênio sobre a Diversidade
Biológica (CDB), que começou dia 6 e termina hoje, em Pyeongchang, na
Coreia do Sul, o coordenador de biodiversidade de Santa Lúcia, Terrence
Gilliard, disse à IPS que a mudança climática tem um considerável
impacto nessa ilha caribenha.
“Houve denúncias de descoloração dos corais pela elevação da
temperatura marinha, e se alargou a safra produtiva de alguns produtos
agrícolas”, disse Gilliard, que também é funcionário de desenvolvimento
sustentável e ambiental de seu país. “Fenômenos meteorológicos extremos,
como o furacão Tomás, em 2010, e a tempestade de Natal de 2013,
“provocaram grandes deslizamentos de terra nas áreas de floresta e a
perda de vida silvestre. Extensos períodos de seca limitam as
existências de água e afetam a produção agrícola”, acrescentou.
Embora Santa Lúcia tenha superfície inferior a 616 quilômetros
quadrados, sua fauna e flora são excepcionalmente ricas, com mais de 200
espécies únicas, entre elas 7% das aves e assombrosos 53% dos répteis
do mundo. A espécie mais conhecida do país é o papagaio-de-santa-lúcia (Amazona versicolor).
Outras espécies de interesse como o cedro lápiz, o coral chifre de
cervo e a cobra corredora de Santa Lúcia. Esta última, confinada à ilha
María Mayor, de 12 hectares, possivelmente seja a serpente mais ameaçada
do mundo.
A corredora de Antiga, uma pequena e inofensiva serpente que se
alimenta de lagartos nessa ilha, sofreu a implacável depredação de
mangustos e ratos, e em 2013 restavam apenas cerca de 1.020 exemplares.
Helena Brown, coordenadora da Divisão Ambiental do Ministério de
Saúde e Meio Ambiente de Antiga, disse que o país tem dois programas de
conservação dedicados à corredora e outra espécie em perigo de extinção,
a tartaruga Carey. “Trabalha-se muito, mas são apenas duas espécies
entre muitas. A biodiversidade é importante para nossa saúde, nossa
posição, nosso atrativo com país e é importante que a conservemos e
utilizemos de maneira sustentável, para as gerações futuras”, pontuou à
IPS.
A Agência Ambiental e de Planejamento da Jamaica afirma que os
ecossistemas dessa ilha mais vulneráveis às consequências da mudança
climática são os arrecifes de coral, as florestas das terras altas e os
mangues costeiros. A Jamaica tem mais de oito mil espécies registradas e
ocupa o quinto lugar mundial em espécies endêmicas. A ilha tem 98,2%
das 514 espécies autóctones de caracol de terra e 100% das 22 espécies
autóctones de anfíbios.
Sua rica diversidade de espécies marinhas inclui espécies de peixes,
anêmonas, corais negros, moluscos, tartarugas, baleias, golfinhos e
peixe-boi. As florestas cobrem quase 30,1% do país e há dez bacias
hidrológicas com mais de cem rios e riachos, bem como cursos de água
subterrâneos, lagoas e mananciais.
Em São Cristóvão e Neves os efeitos da mudança climática ainda não
são muito visíveis. “Será preciso mais tempo para confirmar algumas das
mudanças sutis que são observadas. Por exemplo, em alguns casos parece
haver períodos mais longos de seca que afetam os ciclos naturais de
algumas plantas e também dos cultivos agrícolas”, apontou o diretor de
Ordenamento Territorial e Ambiental do Ministério de Desenvolvimento
Sustentável, Randolph Edmead.
“A temporada de chuvas parece mais curta e quando chove os episódios
são mais intensos, com inundações repentinas”, acrescentou Edmead.
Muitas das atividades e lugares relacionados com o turismo em São
Cristóvão e Neves se baseiam na biodiversidade, como os arrecifes de
coral. Ele também afirmou que estes arrecifes nutrem a pesca, que é uma
importante fonte de alimento.
“A renda gerada com essas atividades incentiva o desenvolvimento e
também é importante para os meios de vida” da população, destacou
Edmead. Além disso, a biodiversidade das florestas é uma parte
importante do produto turístico do país. “A biodiversidade também ajuda a
proteger a erosão dos solos, que é importante não só para a
agricultura, mas também para a proteção de infraestruturas vitais”,
ressaltou.
O diretor-executivo do CDB, o brasileiro Braulio Ferreira de Souza
Dias, afirmou à IPS que a mudança climática é uma ameaça importante para
a biodiversidade e pediu que haja avanço na COP 20 da Convenção Marco
das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em dezembro em
Lima, no Peru.
“As ameaças à biodiversidade continuam. Mas de onde surgem essas
ameaças? Das políticas públicas, empresariais e de outros fatores que
aparecem no setor socioeconômico: crescimento demográfico, aumento do
consumo, mais contaminação, mudança climática. São alguns dos grandes
impulsionadores da perda da biodiversidade”, afirmou Dias.
“Se não avançarmos nas negociações para reduzir as emissões de
gases-estufa, a perda de biodiversidade provavelmente continuará”,
pontuou Dias, que também apresenta a biodiversidade como parte da
solução para o problema da mudança climática. Uma gestão melhor das
florestas, dos mangues e de outros sistemas pode ajudar a reduzir os
gases-estufa, destacou.
“Também podemos melhorar a adaptação porque esta não tem a ver apenas
com a construção de muros para barrar a elevação do nível do mar nas
zonas costeiras. Trata-se de ter ecossistemas mais resistentes aos
diferentes cenários da mudança climática”, explicou o diretor do CDB.
“Precisamos conservar melhor os ecossistemas de nossa paisagem, ter
uma paisagem mais diversificada com um pouco de floresta, mangues, zonas
de captação protegidas. Atualmente, vamos para as paisagens mais
simplificadas, apenas as grandes extensões de monoculturas, as grandes
cidades, dessa forma seguimos na direção errada”, enfatizou Dias.
Fonte: Envolverde/IPS
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