Anualmente, 1,3 bilhão de toneladas de comida são desperdiçadas em
todo o mundo, o que representa 33% de tudo que é produzido no planeta,
segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) [vide infográfico abaixo]. A informação serve de
alerta no Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro.
Com o objetivo de mostrar as causas dessa realidade e recomendar ações para reduzir o desperdício, foi divulgado o relatório Desperdício e perda de alimentos no contexto de sistemas alimentares sustentáveis. O documento foi elaborado por um painel de especialistas apoiados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o documento, o desperdício está presente em toda a cadeia
produtiva. Por exemplo, logo no início acontece a falta de cuidado no
manuseio da colheita e depois há o transporte mal programado e
armazenamento inadequado em termos de temperatura e umidade.
Além disso, quando o alimento chega ao consumidor, seja ele doméstico
ou para comércio (restaurantes), as perdas continuam. “Isso acontece
principalmente por costumes já arraigados, como hábito de comprar mais
do que o necessário e falta de planejamento, sendo influenciadas por
técnicas de marketing que encorajam a comprar sempre mais”, afirma o
documento.
O desperdício de alimentos também impacta o sistema econômico, pois
gera perdas financeiras e reduz o retorno sobre o investimento; o
social, impedindo o desenvolvimento e o progresso; e o ambiental, com
impacto direto na biodiversidade com uso excessivo dos recursos naturais
e geração exacerbada de lixo, que além de ser um problema de espaço,
também gera emissões de metano, gás do efeito estufa.
Par a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes,
evitar o desperdício de alimentos é essencial para diminuir impactos na
natureza e, assim, garantir a fonte de alimentos e a manutenção da vida
de todas as espécies, incluindo a humana. “Muitas vezes as pessoas não
fazem esta ligação, mas a biodiversidade é a base para o desenvolvimento
das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais, que dão
origem ao alimento que consumimos”, comenta Nunes.
Alternativas
O relatório da ONU aponta algumas soluções para a redução do
desperdício tanto em nível de produção como de consumo. Segundo o texto,
é preciso investir em tecnologia na colheita e melhoria nas práticas de
armazenamento e transporte. Além disso, é importante contar com o apoio
da indústria alimentícia para que melhorem as informações de validade,
consumo e armazenamento no rótulo dos produtos. Modificar o
comportamento do consumidor também é muito importante, por isso é
necessário comunicar diretamente a esse público os benefícios do consumo
equilibrado, ampliando a consciência para a redução de lixo orgânico.
No Brasil, um movimento que incentiva a utilização integral dos
alimentos é o Gastronomia Responsável, lançado pela Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza em 2010, na capital paranaense, onde
conta com 28 restaurantes participantes e que comercializam os chamados
‘pratos responsáveis’. As receitas que levam esse selo possuem impacto
reduzido para o meio ambiente e seguem os quatro princípios do
movimento: aproveitamento integral dos alimentos, utilizar alimentos
orgânicos, usar fornecedores locais para reduzir a emissão de CO2 e não
utilizar espécies ameaçadas de extinção.
Além de ir em um dos 51 restaurantes participantes – distribuídos em
oitos estados do Brasil – e optar pelos pratos responsáveis, o público
pode participar do movimento criando suas próprias receitas e
compartilhando-as no site www.gastronomiaresponsavel.com.br,
que reúne receitas e dicas responsáveis para aproveitamento dos
alimentos. “As cascas dos alimentos, por exemplo, podem ser utilizadas
em outros pratos, como farofas e doces, como é o caso da casca de
banana. Por outro lado, as folhas de legumes, como a beterraba, podem
ser utilizados para incrementar saladas”, indica o chef curitibano Celso
Freire, curador do movimento.
Para Malu Nunes, a alimentação responsável é uma tendência mundial.
“Estão surgindo diversas iniciativas estimulando as pessoas a refletirem
sobre a forma com que se alimentam, e esperamos que nesse Dia Mundial
da Alimentação esse movimento se fortaleça”, conclui.
Fonte: EcoD.
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