A inclusão de jovens de comunidades pobres no mercado de trabalho da
indústria cinematográfica e do audiovisual é uma das preocupações dos
organizadores do RioMarket 2014, setor de negócios do Festival do Rio,
um dos grandes eventos do cinema mundial. Por isso, pelo segundo ano
consecutivo, desenvolvem o projeto RioMarket Jovem. A ideia, segundo a
diretora do Festival do Rio e coordenadora do RioMarket, Walkíria
Barbosa, é torná-lo atuante o ano todo e não apenas durante os dias do
festival. “A nossa ideia é manter o RioMarket Jovem o ano inteiro. Fazer
com que ele aconteça durante todo o ano, e possa preparar de fato esses
meninos para serem grandes executivos e criativos do audiovisual do
Brasil”, disse. Segundo Walkíria, já existem parceiros privados
dispostos a participar do evento. Ela informou ainda que, depois da
eleição, pretende ir a Brasília para tentar patrocínio público.
Durante
as duas semanas do Festival do Rio, os jovens que se inscreveram no
evento puderam acompanhar encontros sobre roteiros, direção de arte,
oficina de atores e figurinos. Um deles foi David Silva Caripunas, de 22
anos. Ele participa pela segunda vez do RioMarket Jovem. No ano
passado, pouco tempo depois de chegar de São Luís, no Maranhão,
conseguiu uma vaga no projeto e cheio de planos fez workshops
com especialistas em diversos setores da indústria cinematográfica. Um
ano depois, disse que, nesse período, deixou a Vila do João, comunidade
da zona norte do Rio, e foi morar no centro da cidade. Fez um
documentário e participou da produção de outro filme. Mas, o acesso para
o curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma de
suas metas, ainda não foi possível.
“Eu não entrei na UFF porque
ela é muito concorrida. É tão concorrida como direito e medicina, e eu
não consegui. Mas, pelo projeto Cinema Nosso [desenvolvido por uma
organização não governamental (ONG) ligada ao cinema] eu consegui fazer
um documentário e, após o contato de um professor, consegui fazer
assistência de produção de outro filme”, disse, acrescentando que o
plano, agora, é fazer vestibular para o curso de comunicação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Do
RioMarket Jovem, David ressaltou que esperava mais este ano. Ele ainda
aguarda a promessa dos organizadores de transformar o projeto
permanente, com aulas e workshops durante todo o ano. “O pessoal falou no ano passado que a gente teria estágio e mais wokshops
durante o ano, e não aconteceu. Falaram a mesma coisa este ano. Espero
que este ano aconteça, e vai me surpreender. Se acontecer, vai ser muito
bom para gente que tem essa vontade de trabalhar com audiovisual”,
disse.
De acordo com Walkíria, já fazia parte da proposta do
projeto repetir os alunos que participaram da programação do ano
passado, e nesta edição houve a inclusão dos universitários. “A ideia é
ser um programa de três anos com esses grupos, e sentimos necessidade de
ampliar para os alunos de universidades que também vão fazer parte do
projeto no ano que vem”, explicou.
Para a aluna de comunicação da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Daila Cristina
Ferreira, moradora da comunidade do Arará, em Benfica, na zona norte da
cidade, a participação pela primeira vez do RioMarket Jovem foi uma
experiência positiva. “Achei uma oportunidade sensacional,
principalmente, para pessoas que moram em comunidade e que não têm
acesso àquele tipo de evento. A gente teve palestras e workshops com pessoas que normalmente não teríamos acesso se não fosse o evento”, disse à Agência Brasil.
Daila
ficou sabendo do projeto pela internet, tentou a vaga e foi
selecionada. Na avaliação dela, a variedade dos temas das palestras e
dos encontros foi fundamental. “Eu pude entender como funciona cada
processo de criação, desde a criação de um filme até a sua produção”.
A
estudante também espera que o projeto seja permanente. “Eles disseram
que estavam procurando patrocínio para conseguir custear uma bolsa, para
que a gente pudesse participar do evento. O que para nós é um sonho,
porque muita gente não pode participar porque precisa trabalhar. Foram
15 dias maravilhosos. Quando acabou a gente ficou com o gostinho de
quero mais. A gente teve muita troca de conhecimento, muita troca de
informações com pessoas do meio, que a gente conheceu e trocou
currículo. Não deixa de ser uma esperança para o futuro”, ressaltou.
A
diretora do festival, Walkíria Barbosa, informou que na edição de 2015
será incluída oficinas para produção de publicidade. Na avaliação dela,
este é um segmento que tem que estar próximo ao setor de audiovisual. “A
função do festival é ampliar e fortalecer todos os segmentos e
acreditamos que dessa maneira a gente tem como avançar no sentido de
estreitar as nossas relações entre o setor e a publicidade”, disse.
CEPRO –
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