Além do seu incomensurável capital natural, o Brasil construiu ao
longo do tempo um robusto estoque de conhecimento científico a respeito
de seus biomas, ecossistemas e bacias hidrográficas.
Gente do calibre de José Lutzenberger, Augusto Ruschi e Aziz Ab’Saber
(dentre tantos outros que descortinaram novos e importantes horizontes
de investigação científica) revelaram que a natureza se comporta como um
sofisticado sistema interligado, onde certos gêneros de intervenção,
aparentemente inofensivos, podem causar gigantescos estragos.
Não fosse a genialidade e o respeito que impuseram a partir de seus
trabalhos científicos, seriam massacrados pelos poderosos da época.
Não foram poucos os políticos inescrupulosos e empresários
gananciosos que tentaram a todo custo “desconstruir” (para usar uma
palavra da moda) suas reputações.
Deixaram um legado reconhecidamente importante que deveria inspirar
uma nova ética no modelo de desenvolvimento, especialmente mais cuidado
na forma como certas políticas públicas são concebidas e aplicadas.
Portanto, é curioso imaginar o que Lutz, Ruschi e Ab’Saber diriam
hoje sobre essa crise hídrica sem precedentes na história do Brasil?
Em 1980, ao publicar o livro com o sugestivo título “O Fim do
Futuro?”, José Lutzenberger denunciava que “a perda da capa vegetal
protetora, além de significar o desaparecimento dos habitats essenciais à
sobrevivência da fauna e das espécies vegetais mais especializadas e
preciosas, causa o desequilíbrio hídrico dos corpos d`água (…) Estamos
preparando para o nosso país o mesmo destino que o do cordão
subsaariano”.
Um dos primeiros a prever a escassez de água no mundo, Augusto Ruschi
denunciava em sucessivos alertas, como nesse texto de 1986, os impactos
causados pelo desmatamento sobre a vazão de água dos rios,
especialmente na Amazônia:
“Há 35 anos, escrevi que estávamos caminhando para construir na
Amazônia o segundo maior deserto do mundo. Hoje, a previsão vai se
confirmando. No primeiro ano, depois que desmatam, é uma beleza: o solo
continua fértil, produz-se muito. Mas, depois, a matéria orgânica é
lixiviada para as profundezas do solo e planta nenhuma vai lá embaixo
buscá-la. Forma-se o cerrado, depois a caatinga, e finalmente, o
deserto”.
Um dos mais respeitados cientistas brasileiros, Aziz Ab’Saber
denunciou abertamente o absurdo do novo Código Florestal ter sido
aprovado há quase três anos no Congresso Nacional sem o respaldo da
ciência. E previu consequências trágicas para os recursos hídricos.
“Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza
das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro” (…) Em
face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram
os seus macro biomas – Amazônia Brasileira, Brasil Tropical Atlântico,
Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias, e Pradarias Mistas
do Brasil Subtropical – e de seus numerosos minibiomas, faixas de
transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança do
Código Florestal tem que ser conduzido por pessoas competentes
bioeticamente sensíveis”.
Como se sabe, não foi assim que aconteceu. Prevaleceram os interesses da bancada ruralista.
Em tempo: o desmatamento na Amazônia entre agosto e setembro aumentou 191%, segundo dados apurados pelo Instituto Imazon.
E os candidatos à Presidência, o que dizem?
Bem, a cada novo dia de campanha eleitoral o Brasil tem menos água e menos floresta. E as prioridades continuam sendo outras.
Mas o legado de Lutz, Ruschi e Ab’Saber segue incomodando. Até que
alguém resolva prestar atenção e evitar uma catástrofe ainda maior.
Ouça o comentário sobre este assunto na Rádio CBN.
André Trigueiro é jornalista com pós-graduação
em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina
geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo
Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço
na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um
dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e
Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro,
pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor
chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também
comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de
Janeiro.
Fonte: Mundo Sustentável.
CEPRO –
Um Projeto de Cidadania, Educação e Cultura em Rio das Ostras.
Alameda
Casimiro de Abreu , n° 292, 3º andar, sala 02 - Bairro Nova Esperança - centro
Rio das Ostras
Tel.: (22) 2771-8256 e Cel 9807-3974
E-mail: cepro.rj@gmail.com
Blog: http://cepro-rj.blogspot.com/
Twitter: http://www.twitter.com/CEPRO_RJ
Rio das Ostras
Tel.: (22) 2771-8256 e Cel 9807-3974
E-mail: cepro.rj@gmail.com
Blog: http://cepro-rj.blogspot.com/
Twitter: http://www.twitter.com/CEPRO_RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário