Período eleitoral é bom momento para discutir política na
linguagem dos jovens; confira dicas para trabalhar essa temática na
escola
De Brasília para a sala de aula. A poucos dias do primeiro turno das
eleições, que será realizado no dia 5 de outubro, as discussões sobre
política estão na agenda nacional. E por que não aproveitar o momento
para trazer o debate para dentro da escola? Com uma linguagem atual e
dinâmica, o tema também pode despertar o interesse de jovens e
adolescentes.
De acordo com Elisângela Nunes, educomunicadora da Viração,
organização não governamental que fomenta a divulgação de práticas de
educomunição e mobilização, é necessário estimular o engajamento e a
participação do jovem no que se refere a políticas públicas voltadas
para juventude. “É muito importante os meninos ocuparem um espaço de
discussão sobre políticas públicas, principalmente, aquelas que tratam
da vida deles. Tem um monte de gente pensando sobre a vida deles, mas
eles não estão lá tendo voz ativa para isso.”
Na Viração, durante as formações com jovens e adolescentes, temas
como a redução da maioridade penal, análises de propostas dos
candidatos, o ensino médio no país, o homicídio juvenil e a legalização
do aborto estão na pauta dos encontros. Porém, tudo em uma linguagem
dinâmica e atual. “Não tem muita idade [para trabalhar política com os
jovens]. Se você aproxima essa temática da vida deles, consegue
trabalhar qualquer coisa.” Segundo ela, uma sugestão é incentivar que
eles participem mais das atividades da escola, organizando festivais,
fazendo mutirões e tornando o espaço mais parecido com eles.
“Na escola é onde se cria a referência de um modelo mental de
participação política”, afirmou Lucas Marques, empreendedor social do
Projeto Brasil, uma plataforma que oferece ao cidadão a possibilidade de
avaliar e comparar propostas políticas dos candidatos. De acordo com
ele, uma escola autoritária faz com que os alunos cresçam em um modelo
mental de autoritarismo, onde só é possível se organizar com uma pessoa
mandando e outra obedecendo. “Quanto mais próximo ela [a escola] estiver
de uma democracia, do modelo que a gente sonha, mais chances a gente
tem de ter uma geração que lute por isso.”
Envolvido com política desde a adolescência, o empreendedor afirma
que em um momento como o das eleições, ainda que o aluno não tenha idade
para participar das escolhas políticas por meio do voto, é importante
que ele já comece a ser preparado para isso.
Política na linguagem do jovem
Isaac Faria é uma prova de que o jovem pode ter voz para discutir
política, participação e democracia na sua linguagem. Morador do Jardim
Horizonte Azul, no distrito do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo,
aos 21 anos ele integra o Núcleo de Jovens Políticos, um grupo que
propõe o debate sobre a política voltada para a juventude. A ideia
começou entre os corredores da Escola Estadual Professora Amélia Keer
Nogueira. Desde o ensino fundamental, Issac e outros colegas já se
reuniam, por iniciativa própria, para falar sobre política, religião,
comunidade e a realidade da periferia. Após concluir o ensino médio, a
ideia ganhou corpo e deu origem ao coletivo, que existe oficialmente há
dois anos e meio.
“Nosso papel não é mostrar as nossas ideias, mas instigar a
discussão”, define. Durante os encontros, que costumam acontecer no CEU
Vila do Sol ou em outros espaços públicos da região, eles tentam trazer a
discussão sobre política para uma linguagem próxima do jovem.
Utilizando a música “Da Ponte Pra Cá”, dos Racionais Mc’s, por exemplo, o
grupo já organizou um debate sobre a realidade e as demandas locais do
bairro. “A gente tem que fazer essa construção de ensinar e
conscientizar o aprendizado de forma coletiva, superando os estigmas que
imputam aos jovens”.
Para Isaac Faria, é preciso desconstruir o pensamento de que política
é uma coisa distante ou negativa. “Quando se fala em política, muitos
acabam pensando em pessoas que já foram eleitas ou que tem um trabalho
político. A gente tenta explicar para o jovem que ele também pode ser
político”, mencionou, ao citar a possibilidade de cobrar melhorias no
bairro, ou até mesmo na própria comunidade escolar, organizando uma
comissão de alunos.
Na escola, para incentivar que os alunos se aproximem da política, o
professor pode atuar como um orientador, que ajuda a apontar caminhos
para que eles se aproximem da direção, se organizem em comissões e vivam
a política no seu dia a dia escolar. Segundo ele, essa aproximação deve
ser feita de uma forma que dialoga com a realidade do aluno. “Não que
isso consiga fazer com que saiam vereadores, deputados e presidentes;
mas que possam sair jovens que acreditam nos próprios sonhos deles”,
defendeu Isaac.
Um novo jeito de discutir política
“Hoje a gente tem uma juventude que não acredita muito nesse formato
de política que está sendo colocado. Eles querem fazer de outro jeito”,
defendeu a educomunicadora. Segundo ela, quando esse jovem percebe que
as suas manifestações artísticas ou culturais (grafite, dança, música,
entre outras) também representam uma forma de expressão política, eles
se envolvem e se sentem participantes disso.
Para Lucas Marques, do Projeto Brasil, é um grande engano dizer que o
jovem não se interessa por política. “Eu acho que os jovens nunca
tiveram tão interessados na história do Brasil, mas eles estão a fim de
encontrar outras maneiras de participar da política.” Segundo Issac, do
Núcleo de Jovens Políticos, essa visão de que a juventude não gosta de
política acaba sendo construída e divulgada pela mídia tradicional.
“Você está o tempo todo falando para o jovem que ele não gosta daquilo.
Muitas vezes ele acaba tomando aquilo como verdade”, pontuou.
4 dicas para discutir política e democracia com os jovens
Para os professores que desejam discutir o tema dentro da sala de
aula e aproveitar a proximidade do primeiro turno das eleições, o Porvir
preparou algumas dicas. Confira as sugestões de atividades:
Linha do tempo significativa
Para a educomunicadora Elisângela Nunes, uma dica interessante para
trabalhar o tema com os alunos é a construção de uma linha do tempo
significativa. Nela, os jovens e adolescentes serão estimulados a
incluírem datas e acontecimentos importantes das suas vidas, ao mesmo
tempo em que inserem momentos políticos importantes para o país. “A
ideia é tentar trazer essa discussão para mais perto deles, fazendo com
que eles percebam que a vida deles e a história da família deles também
está muito ligada ao cenário do país”, explicou. Entre os tópicos que
podem ser incluídos nessa linha do tempo, podem constar a história da
ditadura, as manifestações de junho, a aprovação do Estatuto da
Juventude e as eleições.
Roda de discussão
Isaac Faria, do núcleo de jovens políticos, acredita que uma aula
dinâmica pode ser um bom caminho para começar a trabalhar política na
escola. De acordo com ele, uma sugestão de atividade interessante é a
organização de uma roda de discussão com os alunos. Em um primeiro
momento, o educador pode levantar questões como: “por que vocês estão
aqui?”; “vocês escolheram estar aqui?”; ou até mesmo “vocês gostam de
estar aqui?” A partir das respostas, ele pode estimular a percepção dos
alunos sobre o que eles não gostam na escola, o que poderia ser mudado e
quais caminhos para propor ideias e elaborar parcerias com a direção da
escola. Outra sugestão é levar os estudantes para conhecerem a sua
própria comunidade e identificarem as principais demandas locais.
Comparação de propostas de candidatos
Em qual candidato os seus alunos votariam? A plataforma do Projeto
Brasil também pode servir como uma ferramenta para aproximar os alunos
da política. O site reúne propostas de governo dos candidatos a
presidência da república e oferece a possiblidade de comparar cada uma
delas a partir de um teste cego. Ao ler cada proposta, é possível
atribuir uma nota sem que se tenha proponente. No final são exibidos os
candidatos que teriam maior afinidade com as suas avaliações. “Isso
permite aos jovens entender quais são as afinidades políticas deles”,
defendeu Lucas Marques. Segundo ele, a escola precisa olhar para a
tecnologia como uma ferramenta educativa que também proporciona uma
evolução para a democracia.
Análise crítica de notícias
Outra sugestão de atividade apontada pela educomunicadora Elisângela
Nunes é fazer o levantamento de notícias sobre o tema para que os alunos
elaborem análises críticas sobre os conteúdos, sejam das propostas dos
candidatos ou das próprias notícias. “Os meninos têm um olhar muito
crítico para programas de televisão e jornais”, destacou.
Consulte o Especial: Guia do eleitor para uma educação inovadora, do Porvir.
Fonte:O Porvir.
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