Recentemente, o New York Times fez uma avaliação sobre a Baía de
Guanabara em função das competições de Vela para os Jogos Olímpicos de
2016. A matéria, bastante sensacionalista, foi uma avaliação em forma de
fotografia pontual, não conseguiu trazer qualquer percepção das
melhorias que já aconteceram nos últimos anos e nem dos projetos ali já
inaugurados e em curso na Baía de Guanabara. É certo que apesar das
imagens que ilustram a matéria, as quais são verdadeiras e bastante
eloquentes em função de uma real e significativa poluição
existente causada pelo acúmulo de lixo flutuante, não foram
apresentados dados sobre a evolução realizada, em especial da retirada
do lançamento de esgoto , que trouxe resultados significativos.
Reconhecendo que matérias na imprensa internacional, mesmo quando são
feitas por mídias que com frequência desqualificam nosso cotidiano,
como a citação da existência de primatas e jacarés (o que deveria ser
motivo de elogio) cruzando nossa região metropolitana; tal enfoque
muitas vezes é potencializado por alguns “especialistas” através da
notoriedade da crítica ou se capitalizando politicamente da evolução que
já sabem que acontecerá. Tais posturas alimentam o “complexo de
vira-latas” que perpassa o País e parte da mídia internacional, às
vésperas de eventos internacionais, como se nosso povo e a nossa
engenharia não possuíssem qualquer capacidade de planejamento para dar
respostas tecnológicas nem capacidade para encontrar soluções. É fato
que muitos erros foram são e cometidos; as críticas de observadores
internacionais muitas vezes são positivas e servem para realinhar as
ações na Baía de Guanabara.
Fazendo uma avaliação histórica dos problemas e acertos, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) foi iniciado no Governo
Brizola mediante uma decisão acertada, mas, ele se encontrava no passar
dos anos sem resultados efetivos até 2006. A partir de 2007 recebeu um
verdadeiro impulso: todos os projetos foram modelados mediante um
conceito contemporâneo de conduzir empreendimentos de engenharia. Os
projetos em sua nova dinâmica privilegiaram a maximização da retirada de
carga orgânica da Baía de Guanabara e foram iniciados e finalizados um a
um, diferentemente do passado quando todos os sistemas eram construídos
ao mesmo tempo e, nalguns casos, ficavam incompletos, gerando o
cenário, como ocorreu, de muitas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE)
concluídas, porém sem receber o esgoto o que tornava o investimento sem
qualquer resultado prático por total falta de funcionalidade.
Com a mudança de foco, o PDBG, a partir de 2007 ganhou impulso e
inclusive superou todos os indicadores previstos de redução de
lançamento de carga orgânica prevista no passado que em sua concepção
original as ETEs eram em regime
primário e as agora implantadas de tratamento secundário que retiram
mais do que o dobro de carga orgânica. Para dar uma dimensão do que
representa isso já se aumentou, nos últimos 7 anos, a quantidade de
esgoto com tratamento secundário (retira 98% das impurezas) na região de
influência da Baía de Guanabara de 2 mil litros para, aproximadamente, 7
mil litros por segundo, o equivalente a dois Maracanãzinhos de esgoto
por dia que deixam de ser lançados in natura na Baía. Nos
próximos 3 anos, se chegará a tratar, em regime secundário, 16 mil
litros de esgoto por segundo, o que é um aumento da ordem 800%.
Entre as obras principais que permitiram alcançar a atual conjuntura
mais favorável em relação à despoluição da Baía de Guanabara está a
colocação em funcionamento da ETE de Alegria, no Cajú, inaugurada em
2009 e que até 2006 tratava apenas 400 litros de esgoto por segundo em
regime Primário (retira só 40% da carga orgânica). Atualmente, a ETE
Alegria, com as diversas intervenções da CEDAE nos últimos 5 anos, está
tratando cerca de 2.500 litros de esgotos por segundo em regime
Secundário (retirando 98% da carga orgânica), com a interligação dos
imóveis de 16 bairros do Rio. Nos próximos 3 anos, com a conclusão do
projeto, já em licitação, encaminhará à ETE Alegria praticamente todo o
esgoto da área de influência do Rio Faria Timbó, com a conexão de
grandes comunidades como as das comunidades do Alemão, Jacarezinho, Maré
e Manguinhos. A Estação Alegria tratará em vazão de pico cerca de 7 mil
litros de esgoto por segundo em regime secundário.
Ainda dentro da correção dos rumos do Programa de Despoluição da Baía
de Guanabara, o Governo do Estado através da CEDAE colocou em operação
recentemente a ETE da Pavuna (capacidade para tratamento de 1.500 l/s),
construída há mais de 10 anos sem nunca funcionar. A Estação de
Tratamento de Esgotos de Sarapuí, também erguida há mais de uma década
nunca funcionou, foi totalmente reconstruída e inaugurada no final de
2011, tratando cerca de 1.500 litros de esgoto por segundo. A Estação
São Gonçalo (capacidade para tratamento de 1000 l/s) está em obras e
será inaugurada no primeiro semestre de 2015 sendo outro ícone do
abandono do PDBG, pois desde sua inauguração há mais de 15 anos nunca
havia operado.
Na ilha de Paquetá (em plena Baia de Guanabara), num projeto que não
se encontrava no PDBG do passado ou sequer em compromissos olímpicos,
está em andamento a ampliação do sistema de esgotamento sanitário, que
terá acréscimo de 100 l/s na vazão, totalizando investimentos superiores
a R$ 20 milhões e deve estar concluída em menos de 18 meses. As obras
prevêem a instalação de uma linha de recalque submarina de 9.500 metros
que levará o esgoto da Ilha até a ETE São Gonçalo, no continente, onde
receberá o tratamento adequado. Entretanto, apenas com o que já foi
concluído do projeto – 90% da galeria de cintura – já se registram
melhorias significativas.
Também no âmbito da Baía de Guanabara, está sendo executado pelo
Governo do Estado o Programa Sena Limpa, como por exemplo, na Praia da
Bica, na Ilha do Governador, Zona Norte, com investimentos de R$ 26
milhões em obras para despoluir a praia e melhorar sua balneabilidade. O
Sena Limpa na Praia da Bica já retirou a histórica língua negra
que existia há décadas. Neste programa, outras obras de melhorias na
Baía de Guanabara também serão finalizadas liberando praias para banho,
como as da Urca e da Praia Vermelha, com obras em 60% de avanço físico.
Além disso, o Governo do Rio, pela Secretaria do Ambiente,
está acabando com todos os lixões do Estado no âmbito do Programa Lixão
Zero. Em 2012 já haviam sido desativados todos os lixões e aterros
sanitários dos 15 municípios do entorno da Baía de Guanabara, eliminando
o lançamento de lixo e chorume no espelho d’água. A meta é chegar até o
fim de 2014 sem nenhum lixão clandestino de porte na região
metropolitana impactando a Baía. Também foram intensificados programas
de regulação de redução de despejo de poluição industrial por
importantes unidades como a Reduc da Petrobras, Estaleiros e Portos,
históricos contribuidores de poluição para a Baía de Guanabara.
Outra ação importante e muitas vezes esquecida pelos “especialistas”,
até porque era um dos maiores passivos ambientais, foi a desativação do
lixão de Gramacho. Como alternativa para o destino final dos resíduos,
foi inaugurado em 2011 pela Prefeitura do Rio o Centro de Tratamento de
Resíduos (CTR) em Seropédica, garantindo o tratamento de cerca de 9 mil
toneladas de lixo por dia – para separação e posterior reciclagem – sem
prejuízos ao meio ambiente. O CTR terá sua própria usina de tratamento
de chorume que o transformará em água de reuso a ser utilizada no
próprio CTR, além de uma usina de biogás que converterá o gás metano
produzido pela decomposição do lixo em energia ou combustível.
Também em 2012 o Governo do Estado numa parceria coma a Petrobras
concluiu o projeto de revitalização do Canal do Cunha, entre a Ilha do
Fundão e o continente, com a dragagem do canal e o replantio de suas
margens com mudas de manguezais. Durante os serviços de dragagem, os
trechos do seu leito contaminados com metais pesados passaram por
processo de separação de areia, com os sedimentos restantes dispostos em
cápsulas de geotêxtil, garantindo a chegada de água limpa à Baía de
Guanabara em especial na Costa Oeste, além do mais, diversas unidades da
Ilha do Fundão que descartavam esgoto na Baía de Guanabara foram
conectados ao sistema de esgotos da CEDAE.
Na linha de viabilizar novas fontes de financiamento, o Governo do
Estado do Rio formalizou em Março de 2012, com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento,
a liberação de recursos da ordem de R$ 800 milhões que serão empregados
no Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía
de Guanabara (PSAM), todos focados no tratamento final de esgoto
lançados na Baía de Guanabara. Os especialistas do BID, durante a
análise da concessão do empréstimo e na própria cerimônia de assinatura,
realizada pelos então Governador Sergio Cabral e o Secretário do
Ambiente, Carlos Minc, reconheceram os novos resultados obtidos na Baía
de Guanabara mesmo sendo um dos financiadores do fracassado PDBG do
passado, junto com o Japan Bank (JBIC).
Cenário dos Jogos Olímpicos de 2016, a Baía de Guanabara deverá,
portanto, ter colocado em efetiva operação até a realização do evento
mais de R$ 2 bilhões em obras de esgotamento sanitário desde sua eleição
como cidade sede dos Jogos. Neste cenário que recebeu a aceleração
pelos eventos internacionais em forma de compromissos de legados, o Rio
de Janeiro na sua região metropolitana chegará nos próximos 3 anos
tratando em regime secundário (que retira cerca de 98% das impurezas)
pelo menos 16 mil litros de esgoto por segundo (l/s). Para se ter uma
noção da grandeza dos números, até 2007 só eram tratados 2 mil l/s e,
atualmente, com os investimentos realizados nos últimos 7 anos, já
recebem tratamento secundário cerca de 7 mil l/s.
O PSAM que se tornou um novo programa como forma de evolução do
antigo PDBG é formado por uma série de projetos de saneamento voltados
para a despoluição da Baía de Guanabara. O planejamento do Governo do
Estado está, portanto, indo ao encontro dos compromissos firmados com o
Comitê Olímpico Internacional que, aliás, segundo dados do Instituto
Estadual do Ambiente (INEA), os locais (raias) onde se realizarão as
competições de vela já estão aptos para as competições segundo
levantamentos contínuos de qualidade de água feitos nos últimos 4 anos
de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and
Wasterwater produção conjunta da American Public Health Association
(APHA), the American Water Orks Association (AWWA), e the Water
Environment Federation (WE). Os resultados, avaliados conforme os
padrões estabelecidos na Resolução CONAMA 357/2005, foram recentemente
apresentados publicamente pelo novo Secretário de Estado do Ambiente,
Carlos Francisco Portinho, fato que infelizmente não ganhou o destaque
devido na mídia nacional ou internacional, como na própria matéria do
jornal New York Times.
Entre os novos projetos financiados pelo BID destacam-se a
implantação do sistema de coleta e tratamento de esgotos da sub-bacia de
Alcântara, no Município de São Gonçalo, que inclui a construção de uma
nova ETE. Além disso, também por financiamento do BID, em breve será
licitada a construção do Tronco Cidade Nova (centro da cidade do Rio de
Janeiro) e a correspondente complementação do sistema de coleta de
esgotos, sendo este subsistema parte do Sistema da ETE Alegria, que terá
sua capacidade triplicada com as licitações em andamento. E por fim,
estão previstas obras de complementação adicionais às redes de esgotos
dos sistemas das ETE Pavuna e Sarapuí que já estão em operação pela
atual gestão após ter sido construídas e inauguradas sem nunca terem
operado, por falta de esgoto, há 15 anos, e que eram ícones de abandono
do antigo PDBG.
Neste contexto, projetos importantes, em especial alocados às
competições de vela, ainda serão realizados, como a galeria de cintura
que retirará o lançamento de esgotos na Marina da Glória, onde serão as
competições, com término para 2015, além da conexão do Arsenal de
Marinha que já está em obras para se conectar ao sistema formal da
CEDAE. Outras contribuições de concessionárias privadas como Águas de
Niterói e a área AP-5 concedida a iniciativa privada pela Prefeitura e
sob supervisão da Rio Águas, que tem parte da sua bacia drenante (sub
zona AP5-1) de bairros como Vila Kennedy e Bangu para a Baía de
Guanabara, serão finalizados nos próximos anos e deverão ser
contabilizados também como melhorias para a Baía.
Na linha de melhoria da Bacia de Guanabara, em especial a questão do
lixo flutuante, este é realmente um grande desafio e os esforços do
Governo do Rio, com o restabelecimento das ecobarreiras e barcos de
coletas (Ecobarcos), já em curso pela Secretaria Estadual do Ambiente
com apoio das Prefeituras, em especial a do Rio, pela Comlurb,
certamente darão os resultados esperados; isso sem falar em unidades que
retiram o lançamento de esgotos para a Baía, como a Unidade de
Tratamento de Rios (UTR) Irajá, a ser inaugurada em breve, além de
tratar o lançamento difuso, tem função complementar de conter parte do
lixo que chega à Baía de Guanabara. Nesta linha, a Secretaria de Estado
de Ambiente também esta implantando projeto semelhante de UTR no Rio
Pavuna.
Não é por outra razão que recentemente a até antes da matéria do New
York Times o Presidente da Confederação de Vela do Brasil, o velejador
Marco Aurélio Sá Ribeiro, deu depoimento contundente sobre a melhoria da
qualidade das águas da Baía de Guanabara, que pode ser acessado no site
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2013/11/dirigente-contesta-jornal-engulo-agua-da-baia-de-guanabara-e-sou-saudavel.html.Vale
a pena ler o texto, pois atesta parte do preconceito existente contra a
Baía de Guanabara, pese que o lixo flutuante é um desafio prioritário a
enfrentar.
A Baía de Guanabara é um patrimônio do Rio de Janeiro e suas
melhorias não são somente um legado fruto de um evento desportivo como
os Jogos Olímpicos; eles realmente servem como catalizadores para
acelerar seu processo e, principalmente, para reflexão da sua
importância, mas não podem se tornar um marco final para abandonar o
atual processo de melhoria contínua muito esperada pela sociedade
fluminense, a qual, atônita, observou décadas de leniência no
enfrentamento desta questão, o que certamente causou um descrédito que
hoje com ações efetivas buscamos reverter.
Wagner Granja Victer é engenheiro. Presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE). Membro da Academia Nacional de Engenharia.
Fonte: Eco21.
CEPRO – Um Projeto de Cidadania, Educação e Cultura
em Rio das Ostras.
Alameda
Casimiro de Abreu , n° 292, 3º andar, sala 02 - Bairro Nova Esperança – centro
- Rio das Ostras
Tel.: (22) 2771-8256 e Cel 9807-3974
Tel.: (22) 2771-8256 e Cel 9807-3974
E-mail: cepro.rj@gmail.com
Blog: http://cepro-rj.blogspot.com/
Twitter: http://www.twitter.com/CEPRO_RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário