As taxas de destruição da maior floresta tropical do planeta voltaram
a subir após cinco anos de queda consecutiva. Os números divulgados
pelo Governo Federal em véspera de feriado estimaram quase seis mil
quilômetros perdidos entre agosto de 2012 e julho de 2013, que
representam um aumento de 28%, ainda sem discriminar desmatamentos
ilegais dos autorizados pelo Ibama e órgãos estaduais. Como dados
oficiais, eles são referência para ações de controle e de planejamento
do uso do solo regional.
As maiores áreas desflorestadas se concentram em frentes de expansão
agropecuária, no Mato Grosso, Roraima, Maranhão e Pará, e também em
regiões como no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), da BR-364
(Cuiabá-Porto Velho) e sul do Amazonas, além de possíveis influências do
garimpo, sobretudo no Pará. Acre, Amapá e Tocantins reduziram suas
taxas.
Vale ressaltar que, se associarmos o desmate registrado na Amazônia
ao de outras regiões, o Brasil desponta com perdas anuais de
aproximadamente 15 mil quilômetros quadrados, ou “a maior área de
desmatamento do planeta”, como bem apontou artigo publicado no jornal O
Globo em 20 de novembro.
Os dados oficiais ainda não detectam desmates com menos de seis
hectares, fazendo com que essas perdas só sejam computadas no ano
seguinte pela expansão das perdas de vegetação nativa. No geral, as
taxas de desmatamento continuam em níveis proibitivamente altos, pela
falta ou ineficácia de políticas publicas para seu ordenamento e
controle, e também devido a escassez de valorização da floresta em pé
frente a outros usos da terra.
Um conjunto de fatores influi no incentivo ao desmatamento, como a
relativa ineficácia das ações voltadas ao seu controle, como políticas
de ordenamento de uso da terra, além de fiscalização, comando e gestão
pública dos recursos naturais.
Para o WWF-Brasil, o novo “Código Florestal” (Lei 12.651 / 2012)
também pode ter incentivado o desmatamento, com base em uma nova onda de
especulação por terras. A retomada dos preços das commodities, o avanço
de obras e planos de projetos de infraestrutura e a não criação de
unidades de conservação também pesam na balança da destruição da
Amazônia.
Para tanto, é preciso fortalecer a agenda positiva para a região,
envolvendo a consolidação de áreas protegidas, ações de fomento à
produção florestal, aos conhecimentos tradicionais das comunidades
locais e à valorização dos ativos florestais. Além disso, cabe atenção
ao ordenamento e planejamento do uso do solo, inclusive agrícola e da
produção de commodities, respeitando as vocações locais, as áreas de
concentração de infraestrutura e a geração de mercados conscientes para a
origem dos produtos. Mais que tudo, é importante reconhecer que é
fundamental o reconhecimento dos ativos ambientais da região, que
prestam serviços essenciais à humanidade, como regulação climática,
fornecimento de água, conservação de solos, ciclagem de nutrientes,
abrigo da biodiversidade e manutenção de saberes tradicionais.
“Ainda é cedo para apontar com total segurança quais as reais razões
para a retomada do desmatamento da Amazônia. O Governo precisa agir
rapidamente para evitar que o mesmo fuja do controle e aumente os riscos
para a região em termos da perda de sua biodiversidade e da depreciação
de seu capital natural, com fortes impactos sobre sua população”,
ressaltou Marco Lentini, coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil.
Bioma Amazônia
Infelizmente, em outros países amazônicos a tendência é de
crescimento das taxas de desmatamento. Embora as fontes não sejam ainda
estáveis, na maioria dos casos, já se constata, nos últimos anos, que as
taxas anuais, as percentagens em relação à Amazônia de cada país e a
área total desmatada nos países andinos passa a ser maior que área
desmatada na Amazônia brasileira.
Nos países andino-amazônicos – Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e
Venezuela – tem ocorrido movimento econômico e demográfico da
Cordilheira dos Andes em direção às terras baixas da Amazônia. Essa
dinâmica ainda não está totalmente clara, mas a atração, o acesso e a
ocupação devem estar associados ao aumento na criação de gado e de
cultivos, a mineração, o petróleo e obras de infraestrutura, que
estariam induzindo o desmatamento.
“Há uma necessidade urgente de fortalecer a cooperação entre os
países do bioma Amazônico, com o objetivo de compartilhar experiências e
lições aprendidas sobre o combate ao desmatamento. Sobretudo, é
necessário cooperação para valorizar a floresta em pé, como ativo
econômico de alto valor no bioma como um todo”, afirma André Dias, líder
da Estratégia de Estímulo à Economia Florestal da Iniciativa Amazônia
Viva da Rede WWF, que atua nos nove países do bioma Amazônia.
“A ciência e os fatos nos ensinam que as partes de cada um dos países
amazônicos estão conectadas e o equilíbrio de toda a Amazônia depende
do seu funcionamento como uma unidade ecológica, daí a importância o
monitoramento e combate ao desmatamento em todos os países do bioma”,
completa André Dias.
Fonte: WWF Brasil.
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