Do ponto de vista da cidadania, as grandes mobilizações e passeatas
de junho último, que tomaram as ruas do Brasil, foram um despertar de
esperanças. A letargia do país foi sacudida para valer e os poderes
constituídos redescobriram que estavam distantes das aspirações mais
legítimas por direitos e dignidade, de respeito à cidadania não só em
seu poder constituinte como seu poder instituinte, que remete ao direito
dos cidadãos de criar, modificar e revogar instituições. Basta é basta!
Foi o que revelaram as ruas. Não dá para atender exigências da FIFA e
as ganâncias de empresas construtoras, gastando bilhões, e não garantir o
básico em transportes, educação e saúde, alegando falta de recursos.
Também não dá mais para aceitar representantes mais preocupados com o
seu próprio bolso do que em fazer jus ao mandato que lhes foi dado pelo
voto de todos e todas nós. A cidadania levantou a voz, aos gritos, e
destampou as contradições que permeiam a nossa jovem democracia.
Mas, passados alguns meses, o que está se passando na conjuntura? Por
que as agendas cidadãs não avançam e tudo volta ao seu lugar, como se
nada tivesse acontecido, como se a força das mensagens das mobilizações
de junho tivessem evaporado? No momento, de certo mesmo é só a sensação
que muita coisa está dando errado. Logo entre nós, o país festejado
pelos seus avanços da primeira década do século XXI!
Parece que a fumaça das explosões cidadãs de junho ficaram no ar e
tudo mundo foi perdendo um pouco de perspectiva. As próprias
mobilizações perderam muito de seu foco e de pontos aglutinadores. Muita
gente continuou a se manifestar nas ruas, mas … para onde vai isto
tudo? A presença dos “black blocs”, no fim das passeatas, degenerou em
violência e passou a afastar muita gente destas festas de cidadania e
civismo. A nossa truculenta polícia, reprimindo e batendo, redescobriu
métodos e leis do tempo da ditadura para investir contra os que ela
caracterizou como baderneiros, vândalos, organizações criminosas. Mesmo
nas festejadas UPPs do Rio de Janeiro, a polícia continua a mesma: força
de repressão que é para proteger a gente do asfalto dos pobres
favelados que teimam em se dizer parte da cidade e em reivindicar o
direito de ter direitos. Aliás, a violência com assassinatos no Brasil
voltou a crescer mais do que em países em guerra, mas para nós parece
ainda uma expressão de normalidade. Um absurdo em si mesmo,
antidemocrático e injustificável!
Mas é na arena oficial da política – as instituições do Executivo, o
Congresso e os partidos, o Judiciário, com uma forte dose de
radicalização da mídia das classes dominantes, um monocórdio barulhento
ele mesmo – que a fumaça ganhou consistência e a visibilidade da
conjuntura ficou quase nula. A gente vê pouca coisa clara no momento. As
agendas, que pareciam plantadas na política, retrocedem a cada dia.
Cadê a reforma política, o plebiscito, a mudança de práticas e costumes
no processo eleitoral? Não se fala mais e ponto. Mudança mesmo só se deu
no jogo de sempre: criação ou não de novos partidos, realinhamento de
forças em função de minutos de propaganda eleitoral, fundos partidários e
preservação de mandatos. Nada, absolutamente nada de substantivo para
fazer valer o direito instituinte e constituinte da cidadania nas
democracias.
Tivemos o escândalo da espionagem americana sobre nossas vidas e a
louvável indignação da Presidente Dilma. Mas o escândalo da corrupção
endêmica nas altas esferas do poder – fora a punição exemplar ao PT e
seus aliados – continua um assunto menor. Ou alguém acredita que vai dar
alguma coisa o tal fundo do metrô para os governadores do PSDB em São
Paulo, bem maior do que o mensalão? E qual será o desfecho do fantástico
esquema de desvio de recursos públicos na Prefeitura de São Paulo? Ou o
sumiço dos recursos da reconstrução na Serra, no nosso Rio de Janeiro?
Seguindo nesta vala obscura das ligações clandestinas para desvio de
recursos públicos, o que dizer dos super salários no setor público,
praticados com o maior escárnio, à revelia da lei, como se direitos
fossem?
Dá para juntar muito mais explosões e fogos por aí que estão causando
muita fumaça e ruído e deixando turvo o horizonte político. Lembro aqui
o ameaçador Código de Mineração, a confusão dos leilões (Pré-Sal,
aeroportos, rodovias…) e das parcerias público-privadas, o voto secreto
no Congresso, a demolição do Elevado da Perimetral (por que e para
quem?), o embaralhamento do processo eleitoral do ano que vem. A lista é
longa, infelizmente.
Mas, como titulares de cidadania, devemos resistir e tentar entender.
Criar “trincheiras” cidadãs para “guerras de posição”, como lembra o
genial Gramsci, é condição incontornável para amanhã poder se mover e
avançar. No Ibase, estamos praticando os “conversatórios” que são nada
mais e nada menos do que a prática do livre pensar da conjuntura
política. De tanto debater, uns e umas ajudando outros e outras, vamos
acabar vendo melhor e saber onde incidir. Temos o ano de 2014 no
horizonte próximo, muito desafiante. Nada como estar entrincheirados e
preparados para o que der e vier. Afinal, optamos por radicalizar a
democracia e “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Cândido Grzybowski é sociólogo, diretor do Ibase.
Fonte: Canal Ibase.
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