Por Mauricio Abdalla
A Argentina paga, hoje, o
preço de seu passado neoliberal. O Brasil que fique de olho. Exemplo de
seguidor obediente do Consenso de Washington, o país vizinho estabilizou a
economia seguindo a receita cambial (com as conhecidas consequências para as
transações comerciais externas), aumentou enormemente a dívida para financiar o
Estado com capital especulativo, privatizou todos os setores estratégicos da
economia e assinou acordos em que aceitava a arbitragem internacional para
dirimir conflitos financeiros. Isso é bem conhecido de nós, brasileiros, desde
o Plano Real e o Governo FHC.
A explosão da dívida levou
à moratória de 2001, que evitou que o país quebrasse de vez. O débito foi
renegociado com os fundos de investidores em 2005 e 2010 a preços menores do
que garantiam os títulos antes de 2001. Os que aderiram ao acordo levaram muito
dinheiro. Mesmo não sendo o que esperavam. Ainda lucraram mais do que se
houvessem investido seu capital em produção.
Outros não aderiram e ou
mantiveram seus títulos ou os venderam a preços menores (porém maiores do que
os prometidos pelo Estado) para outros investidores. Estes iriam buscar na
Justiça (vendável em todo o mundo) o direito de receber a remuneração de seu
capital rapinante nos valores previstos pré-moratória de 2001. São os chamados
"fundos abutres". Ganharam recentemente decisão favorável de um juiz
dos EUA.
Se a Argentina pagar o que
determina o juiz para os fundos abutres, terá que pagar o mesmo para aqueles
que aceitaram levar um valor menor nas negociações de 2005 e 2010. A
quebradeira será maior. Se não pagar, pode ter sequestrado seus recursos
depositados em bancos internacionais e sofrer outras medidas. Os donos dos
fundos abutres são grandes banqueiros internacionais, grupos de investimento e
indivíduos que querem enriquecer não muito, mas no limite máximo possível.
Fazem parte do bloco hegemônico mundial, que elegem presidentes, influenciam na
escolha de ministros metem-se em disputas eleitorais em países que não são os
seus.
Para eles, não importam os
problemas sociais e econômicos que seu enriquecimento exorbitante e irracional
pode gerar a um país, não se preocupam com o desemprego, empobrecimento e a
fome da população, nem com a incapacidade do Estado de prover o mínimo
essencial para os que não têm acesso a serviços privados. Querem multiplicar
seu dinheiro a todo custo, e mandam a humanidade às favas. Esse é o capitalismo
em sua essência mais pura. É o sistema que muitos dizem que "deu
certo", o ápice da evolução econômica da humanidade. Certamente, o
capitalismo deu certo para os abutres. Mas se estabelecer o reinado definitivo
dos abutres é o mais elevado grau da evolução econômica da humanidade,
precisamos urgentemente involuir.
Fonte: Adital
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