As mudanças propostas pela ONU nas últimas décadas podem ser
consideradas verdadeiras revoluções no modo de pensar e agir da
sociedade, e não é à toa que muitas delas, apesar de hoje serem
consideradas urgentes, demorarão a se concretizar.
Em todos os
documentos oficiais – em especial a partir do final da década de 1960 –,
a educação tem recebido papel de destaque, como uma das principais
forças de transformação rumo à construção da chamada “sociedade
sustentável”. Apesar disso, as mudanças nessa área têm sido poucas,
tímidas e insuficientes.
Da mesma forma que criar modelos
alternativos de economia tem sido um dos grandes desafios na busca por
um mundo melhor e mais equitativo, a concepção e instalação de novos
modelos de educação parecem possuir o mesmo nível de complexidade.
Apesar
de lentas, a educação tem passado por mudanças significativas de escopo
e metodologias, partindo de uma visão elitista e utilitarista – em
especial nos Séculos 17 e 18 – para uma contemporânea mais abrangente,
na qual o acesso universal à educação visa a garantir a redução das
desigualdades, o desenvolvimento sustentável, a paz e a democracia;
proposta conhecida como “educação para todos (EPT)”(1).
As metas
da Unesco nesse documento são vitais e, apesar de o Brasil já possuir a
esmagadora maioria dos jovens matriculados no Ensino Fundamental I e II,
não houve o mesmo progresso com relação à qualidade do ensino. A
qualidade não acompanhou a quantidade. Sendo assim, hoje temos nossos
jovens na escola recebendo um ensino deficitário, o que é comprovado
todos os anos pelos principais índices oficiais.
O Relatório de
Monitoramento de Educação para Todos de 2010(2), mostra que o índice de
repetência no Ensino Fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na
América Latina e fica muito acima da média mundial (2,9%). Além disso,
13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino
básico.
Em um curso que recentemente tive o privilégio de
participar na UMAPAZ, Angélica Berenice de Almeida, uma das professoras e
organizadoras, afirmou que “todos temos a tendência de repetir os
modelos com os quais fomos educados”. Considerando que a maioria das
pessoas tem recebido uma formação de baixíssima qualidade, que futuros
educadores podemos esperar para formar nossos filhos e netos em direção a
uma sociedade mais sustentável?
Novos olhares
Tenho
tido contato nos últimos anos com diferentes professores de diferentes
disciplinas, em especial em São Paulo e na Amazônia mato-grossense. As
queixas sobre nosso sistema de ensino atual são recorrentes e têm
geralmente relação com a estrutura da escola, salários, e grau de
interesse dos alunos, que reflete claramente a desconexão entre a escola
e o mundo real. Tais queixas, entretanto, raramente geram mobilização
ou ação e a consequência disto é a perpetuação de um sistema
ineficiente, desumano e impessoal.
Para além dos problemas
estruturais e financeiros, é urgente a necessidade de se repensar o
currículo do ensino básico, criando-se estratégias efetivas de ensino e
preparando nossos educadores para que trabalhem de forma integrada e
articulada, valorizando a complexidade encontrada no mundo real.
A nova versão do zero draft para a Rio+20 (The future we want)(3) destaca em um de seus artigos (101), relacionado à educação, exatamente isso:
We agree to promote education for sustainable development beyond the end of the United Nations Decade of Education for Sustainable Development in 2014, to educate a new generation of students in the values, key disciplines and holistic, cross-disciplinary approaches essential to promoting sustainable development.
Vale lembrar
que essas mudanças (que não são poucas ou simples) dependem tanto de
vontade política quanto da vontade dos professores e da comunidade onde
vivem.
Apesar de todas as incertezas e resistências, sou otimista,
e acredito que estamos, sim, passando por um período de reavaliação
rumo às mudanças necessárias na educação para sociedades sustentáveis.
Poder viver e participar ativamente desse momento de reflexão e
reconstrução é um privilégio e um dever de todos nós. Um dos bons
exemplos disso é a forma democrática e dialógica com que as decisões
para o novo Plano Decenal de Educação do Estado de Minhas Gerais
(PDEEMG)(4) têm sido tomadas. Aconselho a leitura da apresentação.
Educar para decidir melhor
No
dia 14 de abril, durante o lançamento de um livro sobre educação e
comunicação na escola, ouvi Gilberto Dimenstein afirmar que “uma coisa
que todos fazemos durante toda a vida é tomar decisões”.
Decisões
(conscientes), grosso modo, são tomadas pela mobilização de diferentes
habilidades (como observação, comparação, análise, dedução, etc.) em
conjunto com a seleção de diferentes informações e experiências.
Acredito que a escola seja o primeiro e um dos principais ambientes
formais onde tais processos deveriam ser desenvolvidos e aprimorados
para a vida.
Como será que a escola tem contribuído para que as
pessoas tomem decisões melhores, mais conscientes e pautadas no
bem-estar comum e do planeta, característica vital em uma sociedade
sustentável?
Para essa reflexão em específico, sugiro a leitura do livro Nudge: o empurrão para a escolha certa(5), que coloca um contraponto interessante ao poder da educação.
Para
finalizar, gostaria de compartilhar uma frase, que ouvi recentemente no
I Fórum de Educação para a Sustentabilidade, dita pelo professor
Ladislaw Dowbor, que na minha opinião resume de forma primorosa o papel
contemporâneo da educação: “A educação deve ser uma forma de introdução
ao mundo em constante transformação”.
Notas
(5) Thaler, R. H. & Sunstein, C. R. Nudge: o empurrão para a escolha certa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Edson Grandisoli
é pós-graduado em Ecologia pela Universidade de São Paulo, coordenador
pedagógico da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a
Sustentabilidade.
Fonte: Portal Aprendiz.
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